sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O contraste entre governo e oposição


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

À medida que as pesquisas e a evidência expõem o contraste entre a euforia confiante do governo e as angústias de uma oposição perdida nas brumas de um futuro incerto, mais nítido é o flagrante da urgência da reforma política, inevitável, mas de uma gritante inviabilidade na pasmaceira do Congresso e no desinteresse da maioria que nada em águas mansas e generosas.

A cada dia o simples passar de olhos pelo noticiário político, com o tempero azedo do abominável programa de propaganda eleitoral, confirma o que está à vista com a nitidez de uma foto.

Do lado festivo e festeiro do reino de Lula, a casa arrumada, com a mobília à espera da troca da faixa, com a certeza cega da vitória. Claro, são cenários contrastantes.

O presidente Lula vive um dos seus mais eufóricos momentos, com os êxitos setoriais na área econômica, dinheiro sobrando no caixa da viúva para a gastança milionária de programas que acertam uma no cravo e outra na ferradura confirmam e consolidam a popularidade recordista do maior presidente et cetera, et cetera e robustecem a sua liderança para fazer o que bem entende, sem dar confiança aos palpites da turma, cada vez mais murcha e cabisbaixa na apertura do beco sem saída. Claro, que a política e as nuvens mudam de uma hora para a outra.

Mas, o que se enxerga no momento, com nitidez ofuscante é que o virtual lançamento da candidatura da ministra Dilma Rousseff à sucessão presidencial de 2010 matou no nascedouro ambições que se assanhavam, ameaçando a liderança de Lula e a coesão do bloco aliado.

No PT, as fumaças de candidaturas não resistiram a um sopro do presidente, que é o dono indiscutível da legenda e seu único chefe. A debandada do re- banho de candidatos teve seus instantes cômicos, com ministros a jurar fidelidade no enterro de suas ambições. Não sobrou ninguém no gramado.

E a ministra-candidata Dilma Rousseff, cada vez mais desembaraçada, desfila de queixo empinado e forçando o sorriso que abranda a sisudez do seu natural. Os candidatos petistas ou de partidos aliados às prefeituras das capitais e das grandes cidades, com as naturais diferenças percentuais, galgam pontos nas pesquisas, fecham com a ministra-candidata e a esperam nos palanques da reta final.

E todo o santo dia Lula dá o seu recado ao eleitor e ao partido. Promete este mundo e o outro para o ano e três meses do seu segundo mandato. A última, na inauguração do campus local da Universidade Federal do Amazonas, em Coari, o discurso presidencial é uma cantiga para embalar voto: "Precisamos ter consciência de que aquele jovem que mora à beira do rio, que nasce às margens do rio tem tanto direito de cursar uma escola técnica, uma universidade quanto aquele que nasce em berço de ouro na principal rua de São Paulo ou de Manaus". Ora, são obviedades acacianas que Lula só descobriu no apagar da vela do seu mandato. Mas, que dão voto.

No outro lado, as oposições não conseguem identificar o candidato natural e vão queimando no fogareiro das ambições os seus melhores quadros para enfrentar a avalanche da candidatura da ministra Dilma. A crise crônica, com febre intermitente na campanha de Geraldo Alckmin à prefeitura de São Paulo contamina a caça ao voto dos candidatos tucanos às prefeituras em todo o estado.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi convocado a dar uma ajuda na arrumação no PSDB paulista. Sem jeito, o governador José Serra, um dos três nomes tucanos para candidato à sucessão de Lula participou pela primeira de um ato público e declarou seu apoio à candidatura de Geraldo Alckmin à prefeitura da capital.

Chuviscando no molhado do óbvio, FHC advertiu: "Nós temos que ter essa eleição com vistas para 2010, junto com nossos aliados". Com algum atraso.

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