terça-feira, 9 de setembro de 2008

O "pobrismo" de Geraldo Alckmin


Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Marcado para amanhã, o jantar da unidade tucana dificilmente sobreviverá à quinta-feira. A participação do governador José Serra, principal estrela da noite, é vista como "nada especial" por seus aliados, e é improvável um engajamento maior do governador na campanha de Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo.

Alckmin, aliás, recebeu um conselho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "Quem faz campanha é o candidato". Na realidade, Serra fez para Alckmin o que é a prática corrente nas eleições: gravar uma vez, por exemplo. A campanha do candidato é que deve multiplicar essa gravação, repetindo-a integralmente ou trechos dela.

É isso o que vem sendo feito, por exemplo, pelo candidato a prefeito do Rio, Fernando Gabeira (PV), cuja coligação é integrada também pelo PSDB.

Segundo informes que chegaram ao Palácio dos Bandeirantes, a campanha de Gabeira já transmitiu cerca de 15 vezes, em contextos diversos, uma gravação de apoio feita por José Serra. O que não mudou muito sua vida: o verde continua ocupando o quarto lugar na corrida eleitoral, com 8% das intenções de voto, de acordo com o Datafolha divulgado domingo.

Há tucano graúdo, inclusive, que avalia ser muito pequena a influência de apoios como o de Serra e o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma cidade do porte de São Paulo.

Prova disso seria que os dois gravaram para os programas de televisão de Alckmin e Marta Suplicy (PT) e nada aconteceu - uma tese discutível, vendo-se o que se passa em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Recife, apesar de todos, nesses casos, serem candidatos da máquina. Em Belo Horizonte, das duas máquinas: governo e prefeitura. Tucanos destacam algo mais: os outros candidatos são muito fracos.

Falta discurso à campanha tucana

A campanha de Alckmin só ele mesmo é capaz de resolver. Mas os tucanos culpam o "pobrismo". Coisas estranhas acontecem no comitê do candidato tucano. Por exemplo: os trecking (pesquisa diária) das campanhas do PT e do prefeito Gilberto Kassab (DEM) já há algum tempo acusam o crescimento do demista. Atualmente, a diferença entre o prefeito e o ex-governador estaria em torno dos 2%. O trecking do candidato do PSDB não acusa nada disso.

O curioso é que em 2006 a mesma coisa aconteceu na campanha presidencial de Geraldo Alckmin, com os números sempre superestimados a seu favor. Os tucanos também criticam a falta de qualidade técnica do programa de Alckmin, acham que ele jogou mal ao apostar numa produtora com pouca experiência e ainda assim em campanhas menores. Alckmin está escrevendo os próprios discursos, o que demanda um tempo precioso. Ele estava acostumado a chegar e ler, quando estava com a produtora que hoje presta serviços a Kassab.

Mas a dificuldade crítica de Alckmin é a falta de discurso. O ex-governador não tem como se posicionar como candidato de oposição. Esse posto é de Marta. Além disso, como dizem tucanos desapontados com sua candidatura, soaria "ridículo". A campanha incorreria no "pobrismo", este de outra natureza, a bem da verdade, algo comum a todas as candidaturas. É tudo o pobre. A virtude está na pobreza.

Um tucano faz um cálculo simples: em São Paulo há seis milhões de automóveis. Supondo-se dois por família, haveria então três milhões de famílias que são no mínimo classe média. Seria portanto preciso falar também para esse pessoal.

Mas os candidatos, inclusive Alckmin, preferem a elegia da pobreza. Não é que eles devam ser ignorados, mas de acordo com esse tucano há 1,2 milhão de favelados em São Paulo. Favelados que não morariam propriamente em favelas, mas em construções irregulares, algumas de dois, três andares. Favelados mesmo seriam uns 300 mil. Interessante é que a maior migração de intenções de voto de Alckmin para Kassab se deu justamente na classe média, segundo o Datafolha (6%).

Sugestões para levantar a campanha não faltam. Inclusive de José Serra, que o candidato Alckmin costuma visitar uma ou duas vezes por semana, no Palácio dos Bandeirantes. Em vez de ficar falando de creches, tucanos dizem que ele deveria falar das coisas que fez, como o bilhete único eletrônico e o metrô. E ser enfático ao afirmar que vai fazer com Serra o que está por ser feito e muito mais.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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