quinta-feira, 25 de setembro de 2008

O uso depois, e já, da popularidade de Lula

Jarbas de Holanda

O aumento da aprovação popular ao governo Lula na pesquisa CNT/Sensus divulgada anteontem, de 57,5% para 68,8% entre abril e setembro (enquanto a dele próprio elevou-se ainda mais, de 60% para 77,7%) foi avaliada em seguida tendo em vista sobretudo o potencial e as limitações da transferência da força do presidente para uma candidatura lulista no pleito presidencial e, agora, nas eleições municipais. Outros dados da pesquisa, específicos sobre esse pleito, incluem simulações que apontam o tucano José Serra com intenção de votos entre 38% e 45%, dependendo dos adversários – numa delas, Ciro Gomes com 17,4% e Dilma Rousseff com apenas 8,4%. O que de pronto, segundo Dora Kramer em sua coluna de ontem, reanimou na agenda de boatos de Brasília a retomada da proposta de mudança constitucional para um terceiro mandato consecutivo do atual presidente.

Quanto à transferência de prestígio de Lula na corrida eleitoral deste ano, parte das respostas está sendo dada por índices, contraditórios, do desempenho de candidatos bem identificados com ele, ou mais próximos, na reta de chegada do primeiro turno. O grau de influência mostra-se muito alto no Nordeste – exemplarmente no Recife –, em várias cidades médias e maiores desta região e de outras, bem como na periferia da Grande São Paulo e das metrópoles do Rio e de Belo Horizonte, mas é neutralizado no Centro Sul, de Minas Gerais ao Rio Grande (e também em algumas capitais do Centro-Oeste, do Norte e do próprio Nordeste) pela predominância de lideranças regionais oposicionistas ou de vôo próprio, como Aécio Neves, José Serra e Sérgio Cabral, e de fatores locais, como o enorme desgaste do principal aliado lulista do Paraná, Roberto Requião, e o forte prestígio do prefeito de Curitiba, Beto Richa, candidato à reeleição, ou ainda pelo recall negativo dos governos gaúchos do PT.

Porém, a parte mais importante da avaliação sobre a influência da alta popularidade de Lula nas campanhas eleitorais em curso só poderá ser feita com base nos resultados do segundo turno. Para o qual o presidente combinará o uso ostensivo de seu forte carisma e da bateria de instrumentos da máquina político-administrativa federal – nas disputas que se travarão de Manaus (se o não-lulista Amazonino Mendes não vencer logo em 5 de outubro) a Salvador e a Porto Alegre. Tentando gerar uma “onda vermelha” do lulismo (como a que sufocou o adversário Geraldo Alckmin em 2006), capaz de reverter derrotas ou consolidar vitórias, parciais, no primeiro turno, nos diversos estados e regiões, e de compensar a continuidade da fraqueza eleitoral do PT nos maiores centros do Sudeste e do Sul com uma eleição em São Paulo de Marta Suplicy na capital e demais petistas na Região Metropolitana.

Outro ingrediente do cenário da véspera de conclusão do primeiro turno, ligado à disputa pela prefeitura paulistana mas que tem fortes implicações nacionais, é o acirramento do embate entre Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab para a definição de qual deles vai enfrentar Marta Suplicy na disputa final. Exacerbação que poderá acentuar-se ainda mais se os dois se mantiverem empatados nas pesquisas desta semana, ou que poderá começar a reduzir-se se um deles lograr nítida vantagem. Com a torcida do lulismo para que a persistência do conflito venha a dificultar ao máximo uma posterior soma de votos dos dois concorrentes do mesmo campo político nacional e estadual. E com a preparação do governador Serra para a complicada tarefa de promover a aglutinação desses votos.

Isso num contexto, curioso, em que o presidente Lula e o governador, em face das implicações relevantes para um e outro dessa disputa, terão de empenhar-se a fundo nela. Mesmo sendo conhecidas as preocupações do primeiro com os dividendos (indesejáveis para ele) que o grupo de Marta procurará retirar de uma vitória (contrapondo a expressão que ela ganhará à incerteza político-eleitoral da pré-candidata lulista à presidência, Dilma Rousseff). E mesmo também, no caso de Serra e na hipótese da passagem de Alckmin ao segundo turno, que sejam igualmente conhecidos seus problemas de relacionamento com o candidato do partido. Preocupações e problemas que serão postos à margem pelos projetos contrapostos dos dois atores no controle e na sucessão do governo do estado de São Paulo e na disputa da presidência da República em 2010.

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