sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Parem o mercado, querem descer


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Dois momentos, separados por escassos 14 meses, dão uma idéia perfeita da marcha acelerada da crise global.

Momento 1 - Na cúpula do G8, em junho de 2007, o governo alemão, o anfitrião de turno, queria que fosse discutido algum tipo de código de conduta para os agentes do mercado financeiro, em especial para os "hedge funds", esses que apostam em diferentes ativos para se proteger caso uma (ou mais de uma) das apostas dê errado. Seria uma espécie de auto-regulação.

Explicava à época o ministro alemão de Finanças, Peer Steinbrueck, que tais fundos especulativos representam "um risco sistêmico".

Por quê? Simples: "Alguns deles estão alavancados cinco, seis ou até sete vezes, o que significa que os credores podem ser seriamente prejudicados se um desses fundos se tornar insolvente", explicava Steinbrueck.

Ou seja, previa tudo o que viria logo depois (a crise, então chamada modesta e incorretamente de "crise das subprime", estourou em agosto, dois meses depois). Os Estados Unidos rejeitaram a proposta alemã. Deu no que se vê.

Momento 2 - O presidente da poderosa Confederação Espanhola de Organizações Empresariais, Gerardo Díaz Ferrán, fez anteontem a seguinte declaração: "Creio na liberdade de mercado, mas, na vida, há conjunturas excepcionais. Pode-se fazer um parêntesis na economia de livre mercado".

Passou-se, pois, em meros 14 meses, de uma proposta de auto-regulação, típica medida de mercado, à impossível hibernação do próprio mercado.

Não se aceitou a primeira porque os governos, todos, têm medo do mercado e não o enfrentam.


E, para executar a segunda, seria preciso que houvesse um estadista disponível no mercado de governantes capaz de apresentar alguma idéia, uma que fosse, para organizar a farra. Você conhece algum?

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