terça-feira, 16 de setembro de 2008

Sinais trocados


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Reza uma das lendas sobre políticos mineiros que a verdade é o melhor despiste, pois o adversário a tomará sempre pelo avesso e, por receio de ser enganado, terminará de fato logrado.

Político paulista, diz também o folclore, em matéria de sutileza é o oposto do mineiro.

Nas preliminares da campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva, em 2006, o PT de São Paulo estava louco para o PSDB escolher Geraldo Alckmin, mas dizia que o oponente fadado à derrota - e, portanto, o “melhor” para enfrentar Lula - era José Serra.

Agora, a “preferência” do PT por Gilberto Kassab como o adversário de Marta Suplicy no segundo turno da disputa pela prefeitura da cidade também deve ser lida pelo avesso. A parada é considerada dura em qualquer hipótese, mas Geraldo Alckmin é visto como o oponente mais fácil de derrotar na reta final.

A análise, para exclusivo consumo interno, circula já há algum tempo - pouco antes de Kassab empatar com Alckmin nas pesquisas - e leva em conta os prós e os contra de cada um deles.

Na ótica da campanha petista, o candidato oficial do PSDB tem a seu favor o nome, o capital político individual, a imagem de político ético, a marca de tucano da gema.

Contra ele pesam a carência de estrutura, a falta de discurso nítido, a ausência de uma instância de poder ao seu lado para atrair a praticidade do eleitor e o pragmatismo das forças políticas.

Por esse raciocínio, Kassab tem contra si uma história política praticamente inexistente e a filiação partidária a uma legenda (DEM) que, em São Paulo, sempre funcionou como uma “franquia” da matriz nordestina em feitio de linha auxiliar do malufismo.

“Porém” - e aqui os analistas do PT localizam a vantagem definitiva do atual prefeito -, Gilberto Kassab conta com “dois poderes” para lhe dar sustentação: o estadual, na figura do governador José Serra, e o municipal, materializado na máquina da prefeitura.

Se Alckmin passar para o segundo turno, no entendimento dos petistas, Serra e Kassab entrarão na campanha, mas de má vontade. Além disso, continuará tendo problemas de discurso, um campo de excelente exploração para Marta.

Já se for Kassab o oponente, além do peso das máquinas, fará um confronto de realizações municipais com Marta, algo que Alckmin não pode fazer por não ter sido prefeito.

E se Marta Suplicy perder para ele?

De acordo com essa visão aliada, mas não completamente engajada do ponto de vista local, o mundo não se acaba. Aliás, seria o cenário mais estável, por imutável: Serra sem abalos de seu lado e Lula forte e, em tese, livre do afã do PT de passar de Dilma para Marta a certidão de mãe do PAC.

Alto-falante

Carece de substância a versão de que o presidente Lula decidiu afastar definitivamente a diretoria da Agência Brasileira de Inteligência porque soube que a Polícia Federal usou agentes da Abin na Operação Satiagraha, quando um ex-diretor da agência deu a informação à CPI dos Grampos.

No dia 6 de agosto, mais de um mês antes, o delegado comandante da operação, Protógenes Queiroz, havia confirmado na mesma CPI que usara agentes “informalmente”. Como todo mundo, o governo ouviu.

Mas ficou quieto e aparentemente não se interessou em apurar o caso. Ou bem o Planalto já sabia que Protógenes contara só parte da verdade à CPI e por razões estratégicas espalhou que o afastamento temporário da diretoria da Abin ocorrera em função da denúncia do ministro da Defesa sobre a compra de equipamentos de escuta, ou o governo brasileiro é o único do mundo a se informar exclusivamente pela imprensa.

À moda antiga

Autor do recém-lançado livro sobre a história do FBI (The FBI - A History), Rhodri Jeffreys-Jones, especialista em espionagem americana e professor da universidade escocesa de Edimburgo, em entrevista à Folha de S. Paulo de domingo chama atenção para um ponto importante a respeito do tema do controle oficial sobre o mundo da espionagem governamental.

“Os governos quase sempre sabem o que seus serviços secretos estão fazendo. Se não sabem, deveriam assumir a responsabilidade por isso”, afirma o professor. No livro, ele trata das suspeitas de que J. Edgar Hoover, chefe do FBI durante quase 50 anos, grampeava ilegalmente adversários políticos sob a vista grossa do governo norte-americano.

“Casos como esse sempre levantam a discussão sobre se os serviços secretos se tornaram fortes demais ou se saíram do controle. Mas a verdade é que nunca estão fora do controle.”

A questão é que, diz ele, quando algo dá errado, a responsabilidade é transferida para os órgãos da atividade fim - executores, não ordenadores de tarefas. De fato, quando os EUA se envolvem em algum desastre internacional, para efeito de opinião pública quem paga o pato é a CIA.

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