segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Totalmente fora de controle


Lucia Hippolito
DEU EM O GLOBO ONLINE


É grave a denúncia de que o telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal foi grampeado.


Grave porque revela que o Planalto perdeu o controle sobre o aparato de segurança. Isto já aconteceu no Brasil, e não foi nada bom.

Quando os porões tomam o controle, é preciso uma aliança entre as forças verdadeiramente democráticas, não importa em que partido estejam, nem se são governo ou oposição.

A Abin, que está no centro das suspeitas, é órgão da Presidência da República. Deve prestar contas diretamente ao presidente.

Mas nada indica que o próprio presidente Lula não tenha sido, ele também, grampeado. Por que não? Se a audácia desta gente vai ao ponto de grampear o presidente do Poder Judiciário, por que não aproveitar e não grampear também o presidente da República?

Já se sabe que a Polícia Federal gravou conversas entre o chefe do gabinete particular do presidente da República, Gilberto Carvalho, e o ex-deputado petista e advogado de Daniel Dantas, Luis Eduardo Greenhalg.

Se chegaram até a ante-sala do presidente Lula, o que os impede de grampear a própria sala do presidente?

E não me venham com o argumento de que só está havendo esta indignação toda porque se trata do presidente do Supremo. Isto é demagogia barata.

É tão grave grampear o presidente do STF como foi gravíssimo violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo.

É tão grave grampear o presidente do STF como invadir o escritório do ex-deputado José Dirceu para roubar apenas a CPU de seu computador.

É preciso identificar rapidamente a origem destas ações.

Afinal, do que se trata?

É disputa interna entre a Polícia Federal e os arapongas da Abin?

É disputa entre grupos da Polícia Federal e grupos da Abin?

É disputa de poder dentro do PT, envolvendo o ex-deputado José Dirceu e o ministro da Justiça, Tarso Genro, este, superior hierárquico da Polícia Federal?

Não faz tanto tempo assim, uns 30 anos, mais ou menos, o Brasil viva sob o domínio do medo, com o aparato de segurança inteiramente fora do controle.

Os porões ganharam autonomia, e só um presidente autoritário como o general Geisel foi capaz de dar um soco na mesa e impor um certo controle.

Mas o aparato de repressão ganhou novo ânimo durante o governo Figueiredo, e tudo acabou na bomba do Riocentro.

Por isso mesmo, em boa hora o presidente Lula decidiu reunir-se com o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo.

Espera-se de sua Excelência uma atitude firme sobre o assunto. Lula conhece muito bem o valor da democracia. Afinal, se não fosse por ela, ele jamais teria chegado à presidência da República.

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