domingo, 5 de outubro de 2008

2008 com olho de 2010


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Se se olhar a eleição de hoje com olhos de 2010, e se as pesquisas estiverem certas, o resultado valerá menos pelo que acontecerá e muito mais pelo que não acontecerá. Por esse prisma, o lucro é de José Serra e Aécio Neves. O prejuízo, de Dilma Rousseff. Serra ganha porque, se Gilberto Kassab não derrotasse Geraldo Alckmin (como apontam todas as pesquisas), o governador ficaria com um tremendo problema nas mãos, capaz de atrapalhar todos os seus planos.

Aécio ganha porque conseguiu costurar uma implausível coligação entre ele próprio e o prefeito Fernando Pimentel (do arquiinimigo PT) em torno de um candidato (Márcio Lacerda) do PSB, partido de Ciro Gomes, potencial adversário de Aécio em 2010.

Parece a materialização da lenda segundo a qual os mineiros são habilíssimos na política e campeões mundiais da conciliação. Essa "mineirice" é talvez o principal ativo de Aécio para 2010.

Se a costura malograsse, ou se o candidato não decolasse, o ativo emagreceria. Dilma perde porque a capacidade de Lula transferir votos parece menor do que se supunha inicialmente. O presidente praticou cenas explícitas de apoio a Marta Suplicy, mas ela não se mexeu um milímetro além dos 40% que já tinha, pouco mais ou menos.

Um novo empurrãozinho de Lula no segundo turno pode até dar a vitória a Marta, mas Dilma vai precisar de bem mais que isso. A ex-prefeita tem um capital eleitoral próprio, até por estar na sua quarta disputa majoritária. A ministra é virgem em disputas eleitorais, e seu capital terá de ser quase todo transferido de Lula.

Ressalva final: assim como pesquisa, eleição fotografa um momento. O momento 2008 não traz senão esmaecidos contornos do momento 2010.

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