Nas Entrelinhas: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Os votos de Paes devem ser na sua maioria os votos dos pobres (principalmente dos pobres evangélicos) e dos menos instruídos. Isso não desqualifica e nem qualifica
Quando Fernando Gabeira(PV) começou a crescer nas eleições para prefeito do Rio de Janeiro, percebi que chegaria ao segundo turno atropelando os demais concorrentes à esquerda e à direita, no rastro de Eduardo Paes (PMDB). A esquerda carioca é forte como movimento de opinião; seus partidos, porém, são fracos. Sempre se agrupam em torno daquele candidato que representa seus interesses numa circunstância determinada. Foi assim na eleição do embaixador Negrão de Lima (PSD), em 1965, quando a antiga Guanabara votou pela primeira vez contra o regime militar; e na eleição de Saturnino Braga (PDT), um político de Niterói, na primeira eleição da prefeitura da capital após a fusão com o antigo estado do Rio, em 1985.
Suburbanos
Como faço parte de um grupo de ex-alunos da Universidade Federal Fluminense que reorganizou o movimento estudantil carioca no final dos anos 1970, acompanhei pela internet a polêmica da nossa “Armata Brancaleone” em torno do “voto útil” em Gabeira no primeiro turno, cujo principal propósito foi remover o senador Marcelo Crivella (PRB) da disputa. Depois, no segundo turno, quando o PT, o PCdoB, o PSB e o PDT aderiram a Eduardo Paes, muita gente começou a questionar o voto em Gabeira por causa do apoio que recebeu do prefeito Cesar Maia. Essa discussão não mudou o voto de quase ninguém, apenas reforçou os argumentos a favor de Gabeira. O que barrou a sua ascensão, na minha perspectiva aqui de Brasília, foi a desastrada conversa por celular na qual Gabeira chamou de suburbana uma vereadora tucana de Campo Grande, fato que Paes soube transformar num eficiente divisor de águas.
Após as eleições, não resisti à tentação de provocar um querido amigo, um dos protagonistas dos debates, o professor de história Silas Ayres, ex-militante do antigo “Partidão”, hoje um tucano de carteirinha, que mantém o grupo unido pelo papo agradável e pluralista, a gastronomia e a dança de salão. Logo após a apuração, mandei-lhe um e-mail curto e grosso: “Gabeira perdeu por causa do preconceito pequeno burguês de carioca da Zona Sul. Aquele ‘suburbano’ foi um tapa na cara de quem já balançou num trem da Central ou da Leopoldina. Dinamitou a ponte para os subúrbios cariocas. Vamos ver a votação por região da cidade para conferir. A tradição é a esquerda ganhar do Grajaú ao Leblon.”
Preconceitos
Silas, que morou em Pilares durante 25 anos, não gostou: “Não foi isso que deu a vitória ao Paes, apesar de achar que você tem razão nas duas afirmações; a de que existe preconceito contra o suburbano e de que a esquerda tem voto do Leblon ao Grajaú.
Paes ganhou pelo preconceito existente contra homossexuais, contra prostitutas, contra a luta pela legalização da maconha, do preconceito contra o aborto em situações extremas. Ganhou pela campanha negativa baseada em boatos e mentiras. Ganhou por causa do poder econômico e da corrupção. Ganhou pelo poder do uso da máquina. Ganhou pelo aumento da abstenção provocada por decreto do governador dando feriado nesta segunda-feira. Ganhou pelo medo que uma novidade provoca no eleitor.
Ganhou também porque muitos acreditam sinceramente nas propostas do PMDB. Ganhou porque muitos acharam que Paes ganhando fortaleceria o Serra e isso não queriam. Ganhou porque muitos também acreditam que Paes e Gabeira não têm diferença nenhuma e votaram nulo ou em branco. Enfim, Paes ganhou por muitas razões que se conjugaram no momento da deposição do voto na urna.
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Os votos de Paes devem ser na sua maioria os votos dos pobres (principalmente dos pobres evangélicos) e dos menos instruídos. Isso não desqualifica e nem qualifica
Quando Fernando Gabeira(PV) começou a crescer nas eleições para prefeito do Rio de Janeiro, percebi que chegaria ao segundo turno atropelando os demais concorrentes à esquerda e à direita, no rastro de Eduardo Paes (PMDB). A esquerda carioca é forte como movimento de opinião; seus partidos, porém, são fracos. Sempre se agrupam em torno daquele candidato que representa seus interesses numa circunstância determinada. Foi assim na eleição do embaixador Negrão de Lima (PSD), em 1965, quando a antiga Guanabara votou pela primeira vez contra o regime militar; e na eleição de Saturnino Braga (PDT), um político de Niterói, na primeira eleição da prefeitura da capital após a fusão com o antigo estado do Rio, em 1985.
Suburbanos
Como faço parte de um grupo de ex-alunos da Universidade Federal Fluminense que reorganizou o movimento estudantil carioca no final dos anos 1970, acompanhei pela internet a polêmica da nossa “Armata Brancaleone” em torno do “voto útil” em Gabeira no primeiro turno, cujo principal propósito foi remover o senador Marcelo Crivella (PRB) da disputa. Depois, no segundo turno, quando o PT, o PCdoB, o PSB e o PDT aderiram a Eduardo Paes, muita gente começou a questionar o voto em Gabeira por causa do apoio que recebeu do prefeito Cesar Maia. Essa discussão não mudou o voto de quase ninguém, apenas reforçou os argumentos a favor de Gabeira. O que barrou a sua ascensão, na minha perspectiva aqui de Brasília, foi a desastrada conversa por celular na qual Gabeira chamou de suburbana uma vereadora tucana de Campo Grande, fato que Paes soube transformar num eficiente divisor de águas.
Após as eleições, não resisti à tentação de provocar um querido amigo, um dos protagonistas dos debates, o professor de história Silas Ayres, ex-militante do antigo “Partidão”, hoje um tucano de carteirinha, que mantém o grupo unido pelo papo agradável e pluralista, a gastronomia e a dança de salão. Logo após a apuração, mandei-lhe um e-mail curto e grosso: “Gabeira perdeu por causa do preconceito pequeno burguês de carioca da Zona Sul. Aquele ‘suburbano’ foi um tapa na cara de quem já balançou num trem da Central ou da Leopoldina. Dinamitou a ponte para os subúrbios cariocas. Vamos ver a votação por região da cidade para conferir. A tradição é a esquerda ganhar do Grajaú ao Leblon.”
Preconceitos
Silas, que morou em Pilares durante 25 anos, não gostou: “Não foi isso que deu a vitória ao Paes, apesar de achar que você tem razão nas duas afirmações; a de que existe preconceito contra o suburbano e de que a esquerda tem voto do Leblon ao Grajaú.
Paes ganhou pelo preconceito existente contra homossexuais, contra prostitutas, contra a luta pela legalização da maconha, do preconceito contra o aborto em situações extremas. Ganhou pela campanha negativa baseada em boatos e mentiras. Ganhou por causa do poder econômico e da corrupção. Ganhou pelo poder do uso da máquina. Ganhou pelo aumento da abstenção provocada por decreto do governador dando feriado nesta segunda-feira. Ganhou pelo medo que uma novidade provoca no eleitor.
Ganhou também porque muitos acreditam sinceramente nas propostas do PMDB. Ganhou porque muitos acharam que Paes ganhando fortaleceria o Serra e isso não queriam. Ganhou porque muitos também acreditam que Paes e Gabeira não têm diferença nenhuma e votaram nulo ou em branco. Enfim, Paes ganhou por muitas razões que se conjugaram no momento da deposição do voto na urna.
Concordo com você que é preciso analisar a votação pelas áreas, a conferir, mas acho que não haverá muita surpresa.Os votos do Paes devem ser na sua maioria os votos dos pobres (principalmente dos pobres evangélicos) e dos menos instruídos. Isso não desqualifica e nem qualifica os votos desses segmentos. Só comprovam que eles têm interesses diferentes dos que votaram no Gabeira. São esses interesses legítimos, de ambos os lados, que devem ser alvo de nossas reflexões para solidificarmos a nossa democracia e avançarmos no rumo de uma sociedade mais justa. Um abração”, escreveu-me Silas.
Respeito a avaliação do bravo comandante-em-chefe da nossa “Armata”, mas ainda acho que aquele “suburbano” pejorativo custou os votos que faltaram a Gabeira para ser o novo prefeito do Rio, apesar do seu pedido de desculpas.
Boa avaliação feita por quem, mesmo longe do RJ, conhece bem a cidade e eleição. Acho que é importante debater as razões da derrota. Do contrário vamos perder a oportunidade de tirar proveito das lições que esse processo trouxe e, consequentemente, a possibilidade de ultrapassagem do resultado obtido.
ResponderExcluirAcho que a historia do suburbano é essa mesmo. Ele pagou caro por isso. Acho que faltou maturidade politica para escolher os temas dos programas de TV e perguntas do debate. Tinha que ter feito pesquisas para saber os temas que eram mais importantes para ganhar votos.
ResponderExcluirDetalhes. O principal é que Gabeira deu show. Que venha 2010.