sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A longa espera de três dias


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


De hoje até a noite de domingo, com os resultados oficiais das eleições para prefeitos e vereadores, quem tiver um pingo de juízo fecha ou fiscaliza a boca para não cair no atoleiro das cobranças.

Se o presidente Lula nem sempre é bom exemplo de sabedoria e bom senso e andou perdido nas contradições e erros táticos grosseiros na reta final da campanha antes de recolher-se à clausura do seu gabinete no Palácio do Planalto, esta semana caiu na realidade – que é dos tombos mais perigosos com os riscos de escoriações e fraturas – fechou a torneira dos palpites e seguiu a receita de "trabalhar, trabalhar e trabalhar".

Deve estar exausto, mas de alguma maneira aliviado, pois a campanha parece empenhada em desmentir ou enlouquecer os institutos de pesquisa com as cambalhotas dos índices em pelo menos três das grandes capitais.

A começar pelo Rio – a nossa abandonada ex-Cidade Maravilhosa, que passa pela mais grave crise de inchaço caótico, com a superpopulação que transborda para as favelas dominadas pelas gangues do tráfico, trânsito infernal, o centro invadido pelos trombadinhas e, à noite, pelos catadores de papel e pela mendicância, e que chega às vésperas do voto mais atordoada do que ao longo da enganosa coerência do favoritismo do candidato Fernando Gabeira, do anêmico Partido Verde.

E com o Eduardo Paes, o candidato duplamente oficial, o único a merecer a entronização solene no gabinete presidencial, com a presença de Lula, do governador Sérgio Cabral e do ungido, com a cobertura da sua equipe, para levar ao eleitorado, nos horários de propaganda eleitoral gratuito, pagos com o nosso dinheiro, a louvação das vantagens da sintonia dos três níveis de governo, com o presidente, o governador e o prefeito juntos no mutirão para salvar o Rio da decadência.

Fernando Gabeira foi a novidade que encantou o Rio e liderou as pesquisas com o favoritismo consensual até anteontem, quando o Ibope e o Datafolha, em números quase iguais, o que sugere a cautela de uma prévia troca de informações, registram a queda de Gabeira de três pontos percentuais e a subida de um ponto e a ascensão de Eduardo Paes de três e quatro pontos.

Como o que mais importa é a tendência do eleitorado, mais do que os voláteis índices percentuais, uma análise isenta acolchoada pelas cautelas da prudência, aponta para o favoritismo do candidato do presidente Lula e do governador Sérgio Cabral. O que, se confirmado pelas urnas, será uma das grandes surpresas da campanha.

O mesmo não se pode dizer do infortúnio eleitoral da candidata do PT, Marta Suplicy, à prefeitura de São Paulo. Nem os socorros de Lula, comparecendo a comícios para os improvisos da vigorosa eloqüência, taparam os buracos abertos na rota pelos escorregões dos sapatos altos da elegante candidata petista. O prefeito Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição, alvejado pela ironia da candidata e dos seus batedores pela torpeza de insinuações sobre seu estado civil de solteirão, disparou a chega à véspera das urnas com 17 pontos de vantagem sobre a sexóloga dissidente.

Mas é em Minas que a mais surpreendente reviravolta desafia a análise dos especialistas. O candidato a prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, do PSB, apoiado pelo governador tucano Aécio Neves e pelo atual prefeito, Fernando Pimentel, um petista das arábias, virou o jogo nas três últimas semanas e chega à reta final com um ponto à frente de Leonardo Quintão, candidato do PMDB.

A diferença é insignificante, mas a inversão da tendência do voto não pode ser desprezada. Candidato à sucessão de Lula, o governador Aécio Neves apostou o seu cacife no candidato Márcio Miranda e espera a hora de soltar o suspiro de alívio.

Ora, com tais dúvidas e sinais de possíveis surpresas, até a última palavra dos números, a cautela recomenda evitar exageros do fanatismo, pois os números não mentem jamais...

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