terça-feira, 28 de outubro de 2008

O fim dos "ismos"?


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Algumas anotações sobre o tema da transferência de votos, que é tudo o que 2008 lega, eventualmente, para 2010.

Transferência de voto, ao menos em São Paulo, tem tudo a ver com os "ismos" que empobreceram durante décadas a política paulista.

Antes do golpe militar, Adhemar de Barros elegeu Lucas Nogueira Garcez (1951), assim como Janio Quadros elegeu Carlos Alberto de Carvalho Pinto (1958). Os dois eleitos (para o governo estadual) tinham pouca ou nula experiência eleitoral, eram considerados técnicos e de escasso apelo emocional para o eleitorado.

Ganharam porque a política paulista foi dominada por dois "ismos", o "janismo" e o "adhemarismo", que só começaram a morrer quando seus líderes foram cassados pelo regime militar. Mesmo assim, surgiu outro "ismo", o "malufismo", que, como seus parentes próximos, elegeu o poste da vez na figura de Celso Pitta, em 1996, ou seja anteontem -o que prova a permanência do poder de transferir votos.

Por que, então, Lula não conseguiu eleger Marta Suplicy? Palpites, à espera dos sociólogos:

1 - Não existe "lulismo", pelo menos não em São Paulo, tanto que nem Lula nem o PT conseguiram eleger um único governador no Estado, nem quando o candidato foi o próprio Lula (1982).

2 - Os "ismos" estão em fase terminal na política brasileira, à medida que o país se moderniza -aos trancos, mas se moderniza. O "carlismo" perdeu duas vezes seguidas na Bahia -e para partidos diferentes, o que, em tese, significa que não houve troca de um "ismo" pelo outro.

Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, ficou perto desta tese em seu comentário antes do turno final: "Os dados mostram que o eleitor está prestando mais atenção à perspectiva de resolução dos problemas locais, mais próximos, do que aos apoios recebidos pelos candidatos".

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