terça-feira, 14 de outubro de 2008

O que é isso, companheira?


Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - O que a psicóloga e sexóloga Marta Suplicy pensa da propaganda eleitoral da candidata Marta Suplicy? Esta é a pergunta que não quer calar, depois que a sua campanha na TV recomeçou no domingo com uma provocação venenosa, carregada de insinuações e de preconceito: Gilberto Kassab, do DEM, é casado? Tem filhos?

Marta é uma mulher de vanguarda, tem uma história conectada às boas causas: à defesa das mulheres, dos homossexuais, das minorias.

Pode, muito bem, sofrer uma derrota e continuar em frente, de cabeça erguida, na vida e na política. O que não pode é, em razão do desespero eleitoral, jogar fora sua imagem e seu passado para permitir e avalizar uma agressão absurda, inacreditável, muito mais própria de Maluf do que de Marta.

Em tese, campanhas se fazem com propostas, contrapontos, convencimento. Na prática, são duras, às vezes agressivas. Mas não devem chegar a extremos que remetem a um outro de péssima lembrança: Collor usando Lurian contra Lula em 1989. Nem os próprios aliados podem aceitar esse tipo de coisa.

Lembrar a participação de Kassab no governo Maluf? Correto. Bater na tecla de que ele continuou com Pitta? Perfeito. Mas descambar para a baixaria de questionar subliminarmente a sexualidade do adversário? Faça-me o favor! E logo Marta Suplicy?! O risco é sair da campanha menor do que entrou.

Há derrotas e derrotas. Os 17 pontos de diferença de Kassab para Marta indicam que ela vai perder nas urnas. Mas perde mais com a propaganda do "é casado, tem filhos?". Muito mais, inclusive, do que com o "relaxa e goza", que foi um escorregão, um desses excessos a que qualquer um está sujeito.

O "é casado, tem filhos?" não foi escorregão, é estratégia. Preconceituosa e burra. Não ganha eleitores à direita e perde apoios, votos e simpatia à esquerda. Além de desagregar a militância e transformar o adversário em vítima.

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