sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A economia com Barack Obama


Luiz Carlos Mendonça De Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Os mercados mudarão de idéia sobre o novo presidente americano quando suas ações ficarem mais claras


WALL STREET recebeu com muita frieza a vitória de Barack Obama nas eleições norte-americanas de terça-feira. Essa reação era esperada, pois os mercados tendem a não gostar de um presidente democrata na Casa Branca, muito menos quando acompanhado por uma segura maioria no Congresso. Mas os tempos são outros, e os mercados deveriam mostrar alívio desta vez, apesar de seus valores ideológicos ou políticos.

Certamente mudarão de idéia -talvez até a virada do ano- quando as ações do novo presidente ficarem mais claras. Explico a seguir por que espero essa reação.

Em primeiro lugar, porque há indicações de que o pacote de estímulo fiscal democrata será adequado para enfrentar a crise econômica atual.

Os democratas vão concentrar seus esforços no alívio financeiro da classe média, grupo mais importante para dar força ao consumo ao longo de 2009. Essa é uma visão oposta às crenças republicanas, de que o esforço fiscal deve ser dirigido aos americanos de renda alta e às empresas privadas com o objetivo de estimular novos investimentos.

Não é preciso mais de cinco minutos de reflexão para chegar à conclusão de que a forte recessão de agora está sendo alimentada por uma grande queda no consumo da classe média.

Isso vem criando uma significativa capacidade ociosa no tecido produtivo dos Estados Unidos, principalmente em setores industriais como o automobilístico. Falar em estímulo aos investimentos nestes tempos bicudos de recessão e crise bancária é nonsense.

Sem essa amarra programática, os democratas estarão mais livres para desenhar e para aprovar rapidamente um pacote de estímulos que realmente ataque a falta de demanda na economia. O primeiro objetivo será estancar o processo de retomada de casas financiadas por hipotecas, os chamados "foreclosures".

Sem isso, os preços dos imóveis não vão parar de cair, impedindo o consumidor de ter uma referência sólida sobre o valor real desse item fundamental de sua riqueza. Além disso, a estabilização nos preços dos imóveis permitirá uma precificação mais clara dos títulos de crédito lastreados em hipotecas, com reflexos positivos no mercado financeiro, já que tais títulos constituem a maior parte do ativo do sistema bancário.

Existem várias formas simples e eficientes de conseguir esse objetivo. A maioria democrata no Congresso vem tentando aprovar algo nessa direção, mas o presidente George W. Bush sempre ameaçou vetá-las. Com Obama, o programa poderá ser implantado rapidamente. Alguns bancos mais sensíveis aos ventos políticos já anunciaram o congelamento temporário dos "foreclosures".

Outra iniciativa será a redução de impostos com foco na classe média, visando potencializar os efeitos positivos da recente queda dos preços da gasolina e de outros produtos na renda disponível dos americanos.

Finalmente, um segundo pacote voltado para investimentos em infra-estrutura poderá dar mais um impulso para a economia a partir da segunda metade de 2009.

Quem conhece os Estados Unidos sabe que pontes, ferrovias e a rede de distribuição de energia são antiquadas e constituem um bom alvo para tal programa. Haverá ainda um esforço para reduzir a dependência de energia importada, o que demandará bilhões de dólares em investimento. Certamente a economia norte-americana continuará crescendo de forma medíocre até 2010, mas pelo menos estaremos livres do fantasma de uma depressão econômica no mundo.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 65, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

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