quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Governar é voar no céu do mundo


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


Nunca a modesta sentença do presidente Lula, ao se autocondecorar com a afirmação categórica de que "agora eu conheço o mundo e o mundo me conhece" foi mais facilmente comprovada do que com impressionante estatística do seu recorde de horas de vôo e, isto quando ainda faltam dois anos e 48 dias para o fim do seu segundo mandato.

É um fantástico devorador de quilômetros nas asas do Aerolula e que promete inflar até a passagem da faixa presidencial para o seu sucessor ou a sucessora da sua atual preferência.

Até sábado próximo, quando deverá estar nos Estados Unidos, nosso presidente-voador completará a 21ª viagem por 25 paises. Para se saber ao certo por que terras e ares anda o presidente é necessário consultar a sua agenda.

Neste ano, Lula passou 62 dias no exterior. De volta dos Estados Unidos, dedicará alguns dias às viagens domésticas, antes do pulo a Venezuela, previsto para 28 de novembro.

O recorde de 2007 de meio milhar de horas de vôo em visitas a 29 paises durante 132 dias em que não foi visto no Palácio do Planalto pode ser batido neste tormentoso ano de crise internacional, a reclamar a sua atenção e os seus conselhos.

Com a média de duas viagens domésticas por semana e a popularidade nas alturas de mais de 60% de aprovação na média das pesquisas, o presidente não apenas pode continuar a cumprir a sua agenda de viagens, deixando a administração entregue à confiável ministra Dilma Rousseff, chefe do Gabinete Civil – a sua candidata na fase delicada do teste da viabilidade política.

A reunião de 20 ministros das finanças e representantes de bancos centrais no último fim de semana, em São Paulo, para acertar os ponteiros para o decisivo encontro dos líderes mundiais a partir de sábado próximo, em Washington, quando se espera o debate sobre a crise financeira global alimenta expectativas de esperança com as nuvens de apreensão.

Analistas econômicos de todo o mundo enfatizam a óbvia importância de um esforço das lideranças mundiais para a busca de saídas que aliviem as angústias, que são partilhadas pela população de todos os países.

Os emergentes, mais diretamente castigados com os cortes nos planos de desenvolvimento, anteciparam o recado que será a tônica das reivindicações na reunião na capital dos Estados Unidos.

A expectativa no nosso país é aquecida pela tensão crescente com a sucessão de Lula, que arranha a porta pedindo passagem. A crise chega com características diversas, no governo e na oposição.

Para o presidente, o desafio em doses duplas coloca a candidatura da ministra Dilma Rousseff no centro da fogueira. O clima mudou da noite para o dia. O que parecia resolvido de véspera, com grande antecedência, abre passagem para reclamar, com pressa, ainda sem a aflição da urgência, a firme liderança de Lula.

Nem o Partido dos Trabalhadores tenta tampar o sol com a peneira do despistamento. O PT submisso e acomodado dá mostra de impaciência, com a volta ao palco de candidaturas que renascem das cinzas.

A ministra Dilma terá a sua sorte decidida até meados do próximo ano. E é para já. Nenhuma pesquisa, do chorrilho que inundará este fim de ano para o dilúvio de 2009, deixará de incluir a candidata do presidente na lista dos presidenciáveis. E se ela não tiver fôlego para subir a escada e chegar aos dois dígitos, Lula e o PT enfrentarão o desafio de inventar outro candidato.

No caso, trata-se mesmo de inventar: o PT não tem outro nome para tapar o rombo. E a fragilidade do governo atiçará as ambições do outro lado oposicionista, que são muitas, com límpida vantagem, no momento, do governador de São Paulo, José Serra.

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