sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Lula precisa cuidar da candidata


Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL

Lula parece que considera uma diversão prazerosa queixar-se da imprensa, fazendo o papel de vítima quando nunca na História, etc um presidente conquistou tanto espaço na mídia, seja nos jornais, revistas, emissoras de rádio e redes de televisão e nas rodas de maledicência de repórteres.

E a verdade é que o presidente merece a atenção da imprensa que não faz nenhum favor em registrar os êxitos nas viagens pelo mundo do recordista de milhagem nas asas do Aerolula e nos raríssimos deslocamentos nos jatos comerciais. Mas, se o tempo de todo presidente é curto para as tarefas da burocracia, Lula desperdiça uma fatia gorda com picuinhas, com a tardia cobrança do destaque do papel de bombom de cupuaçu que jogou no chão depois de deliciar-se com a guloseima e que foi notícia, com foto na imprensa.

Certamente não foi notícia no poderoso esquema de propaganda oficial, de matar de retardatária inveja o finado DIP da ditadura do Estado Novo.

Mas, enquanto inaugura obras do PAC ou da segunda casa de força da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, com a ministra-candidata ao lado, Lula não está prestando a devida atenção à fase delicada que a sua chefe da Casa Civil está atravessando.

A pré-campanha ganha velocidade com as disputas internas pelo sacrifício de salvar a pátria com a ocupação da sua poltrona no Palácio do Planalto. E a aferição da viabilidade dos pretendentes já começou a ser conferida pelas pesquisas dos institutos especializados.

Até agora, por uma delicadeza dos donos das empresas, a ministra-candidata vinha sendo excluída das listas dos candidatos ostensivos, como o governador de São Paulo, José Serra, o nome do dia no PSDB; o governador mineiro, Aécio Neves, também do PSDB e outros que ainda não emplumaram para alçar vôo.

Uma luz de lamparina piscou o alerta com a primeira pesquisa, de iniciativa do governador Eduardo Campos, de Pernambuco, restrita ao eleitorado do Estado e que inclui pela primeira vez o nome da ministra-candidata na lista dos presidenciáveis. E, como já comentamos neste espaço, a candidata do presidente Lula e do PT fechou a raia com apenas 4% de preferência dos votantes.

Há males que vêm para bem, ensina a sabedoria popular. A ministra Dilma Rousseff não é uma simples postulante na fila oficial. Mas, a candidata do presidente Lula e, portanto, do Partido dos Trabalhadores. E não apenas uma candidata assumida, mas em campanha à sombra do presidente puxador de votos e com a bandeira do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC de fartas verbas e obras em todo o país, entregue à sua gerência.

A estréia da ministra numa pesquisa estadual deve ser analisada com toda a cautela. Nem merece o desprezo da arrogância nem o alarme que espalha o pânico. Mas, alguma coisa não está funcionando. Se Lula, na mesma pesquisa pernambucana, tem o seu desempenho qualificado como ótimo e bom por 82% dos consultados, os 4% da ministra Dilma advertem que a sua candidatura ainda não chegou ao Nordeste da gratidão pelo Bolsa-Família e o Bolsa-Escola dos cuidados assistenciais do governo e a sua mais poderosa alavanca política.

Obra só dá voto depois de inaugurada. Antes, é mais uma promessa. A candidatura da ministra Dilma precisa chegar ao distinto público e o mais depressa possível, para descontar o atraso.

Se não ultrapassar a barreira de um dígito nas próximas pesquisas, libera a vaga para a livre disputa entre os pretendentes, silenciados pela liderança de Lula.

E não se troca de candidato como quem muda a camisa suada.

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