Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO ESTADO DE MINAS
Quem imagina que as eleições de 2010 serão determinadas por quais partidos tiveram mais ou menos votos este ano, quais pré-candidatos saíram mais fortalecidos, não está entendendo nada
Quando se fazem balanços sobre as eleições, a atenção costuma se voltar para dentro do sistema político. Interessa saber quem se fortaleceu e quem diminuiu de tamanho, quem larga melhor para as eleições seguintes e quem tem problemas para resolver.
É o que estamos vendo, nos últimos dias, na cobertura da imprensa a respeito da eleição municipal recém realizada. De modo geral, ela tem procurado identificar quem saiu delas maior para as eleições presidenciais de 2010, que partidos cresceram e que candidatos mais se beneficiaram.
Quase sempre, no entanto, são avaliações que dizem pouco. Que sentido tem, por exemplo, contabilizar resultados eleitorais tendo por base os partidos políticos? Quando o candidato de um determinado partido vence, às vezes dentro de uma coligação que tem outros 10, todos os votos devem ser atribuídos apenas a um?
Vejamos um caso concreto. Eduardo Paes, do PMDB, teve, no primeiro turno, 32% do voto válido no Rio de Janeiro, em uma candidatura à prefeitura da cidade apoiada por 4 partidos, dos quais três médios ou grandes. Todos os seus votos no dia 5 de outubro devem ser contabilizados como “do PMDB”? E os que obteve no dia 26, quando recebeu o apoio do PT, do PCdoB, de Crivella, Jandira e Lula, devem continuar a contar apenas na coluna dos ganhos de seu partido?
Seria uma contabilidade estranha, que implicaria dizer que tudo que ocorreu no segundo turno foi irrelevante e que o PMDB foi o exclusivo vencedor. Mas Paes não precisou ter mais apoios que aqueles que tinha no primeiro turno? Como ultrapassou seus 32% e chegou aos 51% que lhe deram a vitória? Sendo mais que apenas “o candidato do PMDB”, quando ficou cara a cara com Gabeira. E se isso é verdade, como dizer que todos os seus votos “pertencem” ao PMDB?
No fundo, aritméticas como essa não significam nada. Passam-se os dias e elas somem. Daqui a alguns meses, quando voltarmos a discutir as eleições presidenciais na hora certa, ninguém nem vai se lembrar de algumas teses que andaram circulando nestas semanas.
Muito mais interessante é o que acontece fora do sistema político. Se há coisas relevantes nas eleições, em geral, e nestas, em particular, são as que se passam longe dos sofisticados cálculos políticos que tanto atraem as atenções agora.
Este ano, a grande novidade foi o surpreendente crescimento da internet no processo eleitoral, em diversas cidades. Todos esperávamos que acontecesse, mas passou muito do que se imaginava.
Foi um fenômeno geral, mas houve duas cidades em que seu papel chegou a ser decisivo. No Rio de Janeiro, na conformação da eleição; em Belo Horizonte, em seu desfecho.
Pelo modo como Gabeira posicionou sua candidatura desde o início, ela não poderia existir, e muito menos florescer, sem a internet. Recusando-se a repetir o modelão das campanhas de sempre, ele foi um candidato a cargo majoritário, em uma grande cidade, que tinha como pressuposto uma sociedade interligada. Sem a rede, é difícil imaginar que chegasse aonde chegou.
Em Belo Horizonte, a internet foi fundamental em dois momentos. No primeiro turno, como veículo de propaganda negativa, organizada partidariamente, dirigida para enfraquecer a candidatura de Márcio Lacerda, que liderava as pesquisas. Embora não fosse mais que uma panfletagem convencional, feita eletronicamente, teve impacto e foi uma das razões da eleição não ter se resolvido no dia 5.
No segundo turno, a internet começou a ser o que será no futuro. Os eleitores que se opunham a Quintão passaram a usar a rede para expressar seus pontos de vista e conquistar votos. De repente, às antigas formas de participação política (“ir a um comício”, “ usar uma camiseta”, “colar um adesivo”), uma nova foi incluída: brigar por seu candidato na internet. Tudo valeu, de charges a piadas, fotomontagens, gozações e vídeos, junto com muita coisa séria.
Quem imagina que as eleições de 2010 serão determinadas por quais partidos tiveram mais ou menos votos este ano, quais pré-candidatos saíram mais fortalecidos, não está entendendo nada.
Quem imagina que as eleições de 2010 serão determinadas por quais partidos tiveram mais ou menos votos este ano, quais pré-candidatos saíram mais fortalecidos, não está entendendo nada
Quando se fazem balanços sobre as eleições, a atenção costuma se voltar para dentro do sistema político. Interessa saber quem se fortaleceu e quem diminuiu de tamanho, quem larga melhor para as eleições seguintes e quem tem problemas para resolver.
É o que estamos vendo, nos últimos dias, na cobertura da imprensa a respeito da eleição municipal recém realizada. De modo geral, ela tem procurado identificar quem saiu delas maior para as eleições presidenciais de 2010, que partidos cresceram e que candidatos mais se beneficiaram.
Quase sempre, no entanto, são avaliações que dizem pouco. Que sentido tem, por exemplo, contabilizar resultados eleitorais tendo por base os partidos políticos? Quando o candidato de um determinado partido vence, às vezes dentro de uma coligação que tem outros 10, todos os votos devem ser atribuídos apenas a um?
Vejamos um caso concreto. Eduardo Paes, do PMDB, teve, no primeiro turno, 32% do voto válido no Rio de Janeiro, em uma candidatura à prefeitura da cidade apoiada por 4 partidos, dos quais três médios ou grandes. Todos os seus votos no dia 5 de outubro devem ser contabilizados como “do PMDB”? E os que obteve no dia 26, quando recebeu o apoio do PT, do PCdoB, de Crivella, Jandira e Lula, devem continuar a contar apenas na coluna dos ganhos de seu partido?
Seria uma contabilidade estranha, que implicaria dizer que tudo que ocorreu no segundo turno foi irrelevante e que o PMDB foi o exclusivo vencedor. Mas Paes não precisou ter mais apoios que aqueles que tinha no primeiro turno? Como ultrapassou seus 32% e chegou aos 51% que lhe deram a vitória? Sendo mais que apenas “o candidato do PMDB”, quando ficou cara a cara com Gabeira. E se isso é verdade, como dizer que todos os seus votos “pertencem” ao PMDB?
No fundo, aritméticas como essa não significam nada. Passam-se os dias e elas somem. Daqui a alguns meses, quando voltarmos a discutir as eleições presidenciais na hora certa, ninguém nem vai se lembrar de algumas teses que andaram circulando nestas semanas.
Muito mais interessante é o que acontece fora do sistema político. Se há coisas relevantes nas eleições, em geral, e nestas, em particular, são as que se passam longe dos sofisticados cálculos políticos que tanto atraem as atenções agora.
Este ano, a grande novidade foi o surpreendente crescimento da internet no processo eleitoral, em diversas cidades. Todos esperávamos que acontecesse, mas passou muito do que se imaginava.
Foi um fenômeno geral, mas houve duas cidades em que seu papel chegou a ser decisivo. No Rio de Janeiro, na conformação da eleição; em Belo Horizonte, em seu desfecho.
Pelo modo como Gabeira posicionou sua candidatura desde o início, ela não poderia existir, e muito menos florescer, sem a internet. Recusando-se a repetir o modelão das campanhas de sempre, ele foi um candidato a cargo majoritário, em uma grande cidade, que tinha como pressuposto uma sociedade interligada. Sem a rede, é difícil imaginar que chegasse aonde chegou.
Em Belo Horizonte, a internet foi fundamental em dois momentos. No primeiro turno, como veículo de propaganda negativa, organizada partidariamente, dirigida para enfraquecer a candidatura de Márcio Lacerda, que liderava as pesquisas. Embora não fosse mais que uma panfletagem convencional, feita eletronicamente, teve impacto e foi uma das razões da eleição não ter se resolvido no dia 5.
No segundo turno, a internet começou a ser o que será no futuro. Os eleitores que se opunham a Quintão passaram a usar a rede para expressar seus pontos de vista e conquistar votos. De repente, às antigas formas de participação política (“ir a um comício”, “ usar uma camiseta”, “colar um adesivo”), uma nova foi incluída: brigar por seu candidato na internet. Tudo valeu, de charges a piadas, fotomontagens, gozações e vídeos, junto com muita coisa séria.
Quem imagina que as eleições de 2010 serão determinadas por quais partidos tiveram mais ou menos votos este ano, quais pré-candidatos saíram mais fortalecidos, não está entendendo nada.
A sociedade muda muito mais rápido que se imagina.
Otimo texto. Acho que a internet vai ser fundamental na eleição de 2010, por exemplo hoje 8 milhoes tem internet rapida, ate 2010 teremos 15 milhoes. Vamos lutar para em 2010 informar e tentar evitar que candidados que se elegem baseado na desinformação da população percam em 2010.
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