sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O futuro das chuvas


Fernando Gabeira
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


RIO DE JANEIRO - Quando passou um furacão em Santa Catarina, por acaso, estava lá.

Constatei que havia infra-estrutura razoável e que a defesa civil era boa. Numa cidade como o Rio, 40 minutos de temporal bastam para inundar alguns dos seus principais bairros.

Isso significa que chuvas como as que caíram em Santa Catarina podem ser mais devastadoras ainda em algumas regiões do país. Lá mesmo, houve grandes chuvas em 1980 e 83. Não se falava ainda no processo de mudanças climáticas.

Metrópoles como Londres acreditam na possibilidade dessas mudanças. Têm estrutura e autoridade designada para realizar o que os debates internacionais recomendam diante do futuro: adaptação.

Não sei se o caminho no Brasil se resume em alertar para mudanças climáticas, nas quais muitos, apesar de 20 anos de alerta, não acreditam. Há coisas mais elementares que poderiam nos unir: limpar galerias, desentupir bueiros, recolocar pessoas que vivem em perigosas encostas ou, ilegalmente, próximas aos espelhos-d"água.

Durante algum tempo, fixei-me na idéia de adaptação e cheguei e prever no Orçamento uma verba para Petrópolis desenvolver um plano. A idéia era simples: se fizéssemos um plano numa cidade castigada por temporais, poderíamos oferecê-lo a outras cidades do mundo, respeitadas as singularidades.

Mas é preciso baixar a bola. Criar um mecanismo para avaliar se as cidades estão mesmo fazendo o trabalho subterrâneo. Nem sempre as empresas cumprem os contratos: algumas vezes, perto de eleições, o dinheiro poupado é dividido com os políticos.

Bastaria um robô para inspecionar as galerias. Com tanta ONG no Brasil, por que não criar uma para fazer o que os governos desprezam? Não importa se as mudanças climáticas virão. Estamos indefesos diante das chuvas de verão.

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