quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Obama e Guantánamo


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Peço perdão antecipadamente aos que ainda se entusiasmam com política/políticos, mas sou obrigado a olhar a eleição de Barack Obama com os olhos de um velho brasileiro cético, cansado de ver surgirem promessas de "Nova República", "Reconstrução Nacional" e outras refundações da pátria, apenas para, na vida real, acabar tudo em mais do mesmo.

Claro que Obama pode ser diferente, mas, repito, a cor da pele e o extraordinário que é eleger um negro nos Estados Unidos não significam que a mudança virá de fato.O próprio Obama, no discurso da vitória, já cuidou prudente e sabiamente de jogá-la para um futuro talvez remoto. "O caminho à frente será longo. Nossa subida será íngreme. Nós podemos não chegar lá em um ano ou mesmo em um período [presidencial]. Mas eu nunca estive mais esperançoso como esta noite de que chegaremos lá. Eu prometo a vocês -nós-, como povo: chegaremos lá".

OK, Obama, tomara. Mas antes é preciso que você defina o que é "lá", o que é a "mudança". Antes ainda é preciso entender se foi Obama (e portanto a mudança) que ganhou ou se foi Bush (e tudo o que ele significa, inclusive John McCain) que perdeu.

Essa resposta não está disponível, mas há sinais desalentadores: em quatro votações estaduais sobre legislação a respeito de energia/ meio ambiente, a limpeza ambiental perdeu em três.
Significa que o tal de povo não parece lá muito disposto à mudança, ao menos nesse quesito.
Se o presidente eleito está de fato empenhado em uma mudança profunda, não precisa esperar um ano, não precisa esperar todo os quatro anos do mandato. Basta, no dia de sua posse, em 20 de janeiro, anunciar o fechamento da prisão de Guantánamo e a entrega de seus prisioneiros ao sistema judicial.

Devolveria os EUA ao "rule of law", primeiro e vital passo.

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