sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Para onde vai a inflação?


Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A decisão do BC de manter inalterada a Selic parece ser a forma mais correta de agir nos próximos meses

PREVER A inflação em 2009 é hoje um dos exercícios mais complexos que o analista econômico enfrenta. Pelo menos quatro forças dominantes estão agindo sobre o sistema de preços no Brasil.

A primeira reflete a dinâmica de oferta e demanda nos segmentos "non tradables" e que abrangem serviços e produtos industriais.

A segunda atinge o conjunto das commodities exportadas pelo Brasil ou importadas do exterior.

Seus preços são formados a partir das cotações internacionais em mercados organizados no exterior. Mesmo essas precisam ser acompanhadas em dois grupos distintos: o que tem seus preços ajustados diariamente e o que inclui produtos que dependem de contratos de prazo mais longo ou de listas administradas pelos produtores ou importadores. Um exemplo do primeiro grupo é a nafta; o minério de ferro é um bom exemplo do segundo. Uma terceira força age sobre os preços industriais importados, como máquinas, equipamentos e veículos. Embora em queda por conta da recessão mundial, não seguem o mesmo padrão das commodities.

Finalmente, temos os chamados preços administrados, vinculados ou não a um índice de preços.

Eles refletem a inflação passada e são, portanto, elementos passivos na formação da inflação corrente. A dinâmica desse sistema de preços está sendo influenciada hoje por dois choques externos de grande intensidade. O primeiro é o choque negativo representado pela desvalorização do real que, dependendo de critérios analíticos, chega a 30% ou a 40%. Para dificultar ainda mais a vida do analista econômico, o real ainda não encontrou um valor estável, principalmente porque esse movimento de perda de valor ocorre com quase todas as moedas de países emergentes.

Não é um fenômeno apenas nosso. Paralelamente a esse choque inflacionário, temos um movimento agressivo de queda dos preços de uma imensa gama de produtos chamados "tradables". Essa queda de preços não tem sido homogênea para todas as cadeias, com o petróleo e seus derivados liderando esse movimento.

Não por outra razão, os preços desses produtos, em reais, estão caindo de forma intensa, como é o caso da nafta, ou mostrando uma estabilidade, como no caso dos produtos agrícolas. Outra dificuldade para medir o efeito líquido desses dois movimentos opostos é o fato citado de que alguns produtos têm seus preços determinados por contratos de longo prazo ou listas. Por exemplo, o preço da nafta caiu 25% nos últimos 20 dias, enquanto o dos produtos dela derivados -plásticos- subiram quase 15%. O minério de ferro é outro produto que tem seus preços internos corrigidos pela taxa de câmbio, enquanto até as pedras sabem que, na renegociação de abril do próximo ano, os preços em dólares serão reajustados em cerca de 40%, para baixo.

A gasolina vendida pela Petrobras está hoje 35% mais cara do que a produzida nos Estados Unidos, mas seus preços são fixados pela Petrobras. Em outras palavras, o efeito da desvalorização aparece em primeiro lugar e pode superestimar o impacto líquido da depreciação do câmbio sobre os preços. Por isso, a decisão do Banco Central de manter inalterada a taxa básica de juros (Selic) parece ser a forma mais correta de agir nos próximos meses. Ao longo dos primeiros meses do próximo ano, a redução da atividade econômica terá cores mais claras, bem como os efeitos da desvalorização do real e da queda das commodities.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 65, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).

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