sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Caminhos para 2010 em 2009

César Felício
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Passará pelos corredores da Câmara e do Senado e pelos palácios da Liberdade e do Campo das Princesas boa parte dos lances em 2009 que projetarão a sucessão presidencial de 2010. Objetos de disputa, o governador mineiro Aécio Neves (PSDB), o PMDB e o PSB sinalizam com vôo próprio. Não serão as curvas da Bovespa, das taxas de desemprego, câmbio e inflação que escreverão a história da eleição em 2010, ainda que sejam decisivas para pautar o comportamento dos agentes do processo político.

A crise econômica, a princípio, coloca embaraços para todos os envolvidos na disputa presidencial em 2010. A oposição controla os dois Estados que devem ser os mais atingidos pela retração: São Paulo e Minas Gerais. É difícil crer que poderão manter um programa de investimentos robusto com arrecadação em queda. E era o extinto crescimento econômico no ritmo de 6% ao ano que garantia boa parte da espetacular aprovação popular do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com este índice oscilando entre zero e 2,5%, como indicam as previsões de mercado para o próximo ano, é possível que aprovação popular presidencial volte a ser o que era nos idos de 2004, quando seu índice de avaliação boa ou ótima chegou a 35% no terceiro trimestre daquele ano, a metade do que é atualmente. Pouco para impulsionar uma candidatura à sua sucessão.

Do ponto de vista político, o ano de 2009 abre com sombras no horizonte dos dois favoritos para encabeçar a polarização na disputa presidencial de 2010: o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Líder inconteste nas pesquisas de intenção de voto, Serra já garantiu o apoio do parceiro DEM dentro de dois anos, mas ao longo deste ano continuou sem conseguir se impor dentro da própria sigla. Serra neutralizou o rival local, o ex-governador Geraldo Alckmin, ao ajudar de forma velada na reeleição do prefeito paulistano Gilberto Kassab (DEM). Mas a vitória de Márcio Lacerda (PSB) em Belo Horizonte manteve o governador mineiro, Aécio Neves, no páreo, como o próprio fez questão de dizer, ao encontrar-se com a direção nacional do partido no início de dezembro.

O mineiro sugeriu a realização de prévias partidárias, algo impensável para um partido que nunca levou suas disputas internas sequer para uma convenção. Mas a proposta foi uma boa maneira de descartar o embrião do acordo oferecido por Serra e pelos integrantes do DEM: oferecer a Aécio o posto de vice na chapa e articular o fim da reeleição com o aumento do mandato presidencial, para criar expectativas de poder. O rival de Serra já demonstrou que não aceita pesquisas eleitorais como argumento para consagrar o paulista.

É difícil imaginar Serra abrindo mão da candidatura presidencial em 2010 para apoiar Aécio, repetindo o comportamento de 2006, quando cedeu a vez para Geraldo Alckmin. Mas não ter o apoio de Minas pode ferir de morte uma candidatura presidencial do paulista. Por isso os próximos movimentos de Aécio Neves serão decisivos para o PSDB tornar-se ou não o favorito na sucessão de 2010.

O processo eleitoral deste ano sepultou qualquer possibilidade de o PT construir uma candidatura presidencial por suas próprias forças. Ficou patente que faltam à ex-ministra do Turismo Marta Suplicy, aos ministro da Justiça, Tarso Genro, e do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e ao governador da Bahia, Jaques Wagner, força em seus redutos eleitorais. Direta ou indiretamente, todos perderam. A escolha do candidato petista em 2010 será um "dedazo" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para lembrar a terminologia usada no México durante a dominação do PRI, quando o presidente de turno escolhia seu sucessor sem contestações. Dilma Rousseff continua encabeçando a preferência presidencial. Como dois anos ainda é muito tempo para uma eleição, Lula deixa dois outros tecnocratas em "stand-by": o ministro da Educação, Fernando Haddad e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

A amplitude da aliança a ser costurada pelos petistas começará a ser definida em fevereiro, com a escolha das mesas diretoras da Câmara e do Senado. A decisão do PMDB de disputar a presidência das duas Casas abriu o campo para que oposicionistas e petistas disputem a condição de maior aliado dos pemedebistas e para que os pemedebistas da Câmara e do Senado aprofundem suas diferenças. Em cenário de divisão total, o PMDB poderá perder a condição de aliado estratégico tanto de tucanos quanto de petistas. Não custa lembrar, que, na história das cinco últimas eleições presidenciais, os pemedebistas só fecharam aliança com outra sigla uma única vez: quando apoiaram Serra em 2002, não sem grande dissidência. O ano de 2008 termina com os pemedebistas indo em marcha batida para o desembarque do comboio petista para 2010: a sigla se afastou regionalmente do PT na Bahia e em São Paulo.

Sem o PMDB, restará ao Planalto duas opções arriscadas: assistir ao bloco de partidos de esquerda articular uma candidatura presidencial de Ciro Gomes, como forma de garantir o segundo turno em 2010, ou tentar fechar uma aliança com PSB, PCdoB e PDT já no primeiro turno. O risco da primeira opção é que Ciro tem densidade popular suficiente para disputar com qualquer candidato petista a segunda vaga em um segundo turno da eleição presidencial.

E o perigo da alternativa é construir para si um cenário sem segundo turno, em um momento que pode ser marcado por popularidade presidencial em baixa e candidato oposicionista com alto índice de intenções de voto. Sem um apoio decidido do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que é o presidente nacional do PSB, uma candidatura presidencial de Ciro Gomes encontrará obstáculos graves. E ainda estão para ser definidos quais papéis jogarão um e outro na arena de 2010.

César Felício é repórter de Política. A titular da coluna, às sextas-feiras, Maria Cristina Fernandes não escreve hoje, excepcionalmente

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