sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Falar e fazer nas Américas

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


COSTA DO SAUÍPE - Apenas para que o leitor saiba com quem está falando, já fui um entusiasta da integração latino-americana, já achei bacana a canção de Caetano Veloso "Soy loco por ti, América".

O tempo de estrada na "Nuestra América", que é muito mais do que gostaria de lembrar, introduziu, no entanto, uma pitada forte de ceticismo. Nada contra a integração, que fique claro. Já que falei de canções, acredito em um verso cantado pela mexicana Amparo Ochoa (1946/1994) que diz: "Juntos, codo a codo, somos mucho más que dos" (codo é cotovelo).

O problema é o excesso de retórica. Escutar os presidentes da América Latina e do Caribe discursando interminavelmente nas multicúpulas da Bahia termina sendo um tormento, mesmo quando se trata de uma líder articulada como Cristina Fernández de Kirchner. Ela abriu sua fala dizendo, com toda a razão, que era preciso "um sistema de decisões" para o grupo, em vez de apenas um espaço de reflexão.

Mas girou em torno da frase interminavelmente sem sair do lugar.De todo modo, o excesso de retórica, raramente transformada em ação, é um mal menor ante a idéia de líderes como Hugo Chávez de buscar soluções latino-americanas (e caribenhas, claro) para os problemas da região.

Não existem problemas latino-americanos. Existem problemas universais (fome, miséria, violência, desigualdade, devastação ambiental e uma vasta lista de etc., aos quais se soma agora a crise econômico-financeira também global).

Podem ser problemas mais graves em "Nuestra América", mas continuam sendo universais.Nada contra que as soluções sejam de esquerda, embora seja cada vez mais difícil definir o que é esquerda, desde que consigam convencer o mundo, não só a América, de que são as melhores. Do contrário, vai-se ficar eternamente reinventando a roda -e falando.

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