segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Tavares Bastos, o gigante

Janayna Ávila
DEU NA GAZETA DE ALAGOAS / Caderno B

Homem que ajudou a fundar a imprensa nacional e escreveu seu nome na história do País

Com o espírito crítico que lhe era característico, Graciliano Ramos teria dito que “Alagoas é terra de náufragos”, pois era costume por aqui valorizar o que vinha de fora em detrimento das contribuições locais. O contrário disso – ou seja, o enaltecimento do que é “da terra” como única forma de afirmar uma identidade –, além de perigoso, pode soar mais como provincianismo do que mesmo como avanço. O intelectual alagoano Aureliano Cândido Tavares Bastos parece ter sido vítima de ambos os equívocos. Apesar de ter “batizado” a sede da Assembléia Legislativa de Alagoas e também uma escola estadual, seu legado ainda é desconhecido em seu lugar de origem. Mas, afinal, quem foi esse homem e o que ele fez?A trajetória de Tavares Bastos é pontuada por momentos de intenso engajamento político, pela preocupação com o desenvolvimento do País e, não raro, pela reflexão sobre o impacto das transformações vividas em seu tempo. Advogado, jornalista e político, sua luta contra a escravatura e a busca por mudanças que, na sua visão, colocariam o Brasil na vanguarda social e econômica, fizeram dele uma das mais importantes personalidades nacionais. Não por acaso, durante seu funeral, no Rio, em 1876, muitas foram as manifestações de pesar pela perda do homem que, embora tenha morrido aos 36 anos, já havia escrito seu nome na história do País – tanto que mesmo após um mês do anúncio de sua morte, dois jornais cariocas da época (A Reforma e Globo) continuaram a publicar transcrições de artigos e notas de homenagens divulgadas em periódicos espalhados por todo o território brasileiro.

Uma trajetória política marcada por idéias liberais

Jovem, com boa formação, cheio de idéias liberais, mas distante da terra natal. O que poderia parecer um obstáculo para a campanha política de Tavares Bastos (na verdade) pode ter sido uma vantagem. Ciente da situação, o jovem dedicou-se a escrever um texto onde se apresentava, fazendo referência ao nome do pai. Embora contasse apenas 21 anos, seu nome já era conhecido em todo o País graças aos artigos que publicava, com regularidade, em diversos periódicos. A notícia da vitória – ele teve quase todos os votos, cerca de 700, segundo levantamento de Carlos Pontes – foi recebida e comemorada em Maceió. Ele foi reeleito duas vezes: em 1864 e em 1867. Sua carreira política foi encerrada em 1870.

A AMIZADE DE TAVARES BASTOS COM O DESAFETO DE SEU PAI

Quando morava em Maceió, José Tavares Bastos, pai de Aureliano Cândido Tavares Bastos, teve um inimigo ferrenho: o conterrâneo João Lins Cansanção de Sinimbu, o Visconde de Sinimbu, que tinha sido seu colega no curso de Direito, em Olinda, mas que anos depois se transformou em seu principal inimigo político. Monarquista convicto, a personalidade de Sinimbu assemelhava-se, segundo levantamento do historiador Carlos Pontes, à de seu opositor: ambos eram inteligentes, sagazes e impetuosos. Deputados, eles lideraram, em Alagoas, dois partidos políticos irreconciliáveis: os lisos e os cabeludos, “inaugurando”, desde o século 19, um clima de conflito que, ainda hoje, marca o cenário político no estado. Os assassinatos por encomenda também já faziam parte da “paisagem política” alagoana naquela época.

Radical utópico para uns e estadista para outros

Em 1870, ano em que encerra sua trajetória política, o intelectual alagoano lança A Província, obra em que defende a idéia de que a herança ibérica do Brasil é a causa de todos os males vividos pelo País. No livro, Tavares Bastos aprimorou seu elogio ao modelo anglo-americano como solução para os problemas nacionais, especialmente na área econômica. De forma ingênua, acreditava também que, caso implantasse medidas à moda norte-americana e inglesa, os produtos fabricados no Brasil teriam ampla e irrestrita aceitação naqueles mercados. Para ele, o capitalismo era não apenas o meio de se alcançar o progresso material, mas também a cultura política do indivíduo livre.Para muitos pesquisadores – Bastos é tema de dissertações e teses em todo o País –, o projeto de modernidade do alagoano era romântico e de um idealismo muito radical, pois entendia a sociologia como fruto do pensar político, como analisa o pesquisador Luiz Werneck Vianna no ensaio Americanistas e Iberistas: A Polêmica de Oliveira Vianna e Tavares Bastos, publicado no ano de 1993.

REFERÊNCIAS

OBRAS PUBLICADAS POR TAVARES BASTOS››
Cartas do Solitário (1862)››
O Vale do Amazonas (1866)››
Reflexões sobre a Imigração (1867)››
A Província (1870)››
Reforma Eleitoral e Parlamentar e Constituição da Magistratura (1873)

O espírito jornalístico e a morte precoce

Em 1864, Tavares Bastos participou, como deputado, da histórica Missão Saraiva ao Rio da Prata, episódio que motivou críticas de seus colegas, para os quais o alagoano era oportunista. Pouco tempo depois, partiu em expedição para o Amazonas. As anotações que fez durante a viagem e sua abordagem analítica sobre uma região tão desconhecida resultaram no livro O Vale do Amazonas, publicado em 1866.A partir de 1869, intensifica sua colaboração com jornais liberais, como O Diário do Povo e A Reforma. É quando percebe que é no jornalismo, mais do que na política, que a luta pelas reformas poderia ganhar seu maior e principal aliado: o povo.

AS IDÉIAS DE TAVARES BASTOS

Nas Cartas, publicadas na obra Cartas do Solitário, Tavares Bastos (assinando com o pseudônimo O Solitário) costumava fazer cuidadosa análise sobre o contexto político, social e econômico do País. Não raro, fazia referências à literatura, o que conferia aos seus escritos um “sabor” que agradava em cheio aos leitores.

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