CAMPANHA MILIONÁRIA


DEU EM O GLOBO
Merval Pereira

No momento em que a crise econômica e toda sorte de preocupação relacionada a ela, como o custo da gasolina e o desemprego, passam a ser a questão fundamental da campanha presidencial americana, o candidato democrata, Barack Obama, tenta caracterizar o adversário republicano, John McCain, não apenas como herdeiro da política do atual presidente, George W. Bush, mas, sobretudo, como um milionário que não tem noção das dificuldades do americano médio. Isso em uma campanha em que até o momento, sem contar o mês de julho, Obama já arrecadou cerca de US$340 milhões e McCain, US$140 milhões. Há quem calcule que até novembro a campanha presidencial, em todas as suas fases, terá um custo de US$1 bilhão.

A polêmica sobre a riqueza de McCain, que não é uma característica das eleições americanas, começou com uma resposta desastrada do candidato republicano, que não soube responder quantas casas tem.

Cindy, a mulher de McCain, é a presidente da Hensley & Company, uma das maiores distribuidoras de bebidas dos Estados Unidos, e tem uma parcela considerável de ações da Anheuser-Busch, a fabricante da cerveja Budweiser que foi recentemente comprada pela belgo-brasileira Imbev. Sua fortuna é calculada em US$100 milhões.

Obama aproveitou o "esquecimento" do adversário para caracterizá-lo em anúncios como um homem tão rico que é capaz de dizer que a economia dos Estados Unidos está "robusta".

"Ele não sabe nem quantas casas tem, enquanto eu, que só tenho uma casa, e você, que luta para pagar seu financiamento, sofremos com a economia", diz uma mensagem de Obama, apelando para a politicagem mais rasteira agora que está atrás nas pesquisas eleitorais.

Enquanto a fortuna pessoal de McCain é questionada, a campanha começa seu ciclo mais decisivo com a realização, a partir da próxima semana, das convenções que formalizarão a escolha dos candidatos, com ambos os partidos de cofre cheio: Barack Obama e o Comitê Nacional Democrata têm em caixa mais de US$94 milhões, enquanto John McCain e o Comitê Nacional Republicano têm cerca de US$96 milhões.

Essa é uma luta entre a forte máquina partidária dos republicanos contra um esquema inovador de arrecadação de fundos montado na internet pelo candidato Barack Obama, que abriu mão do financiamento público de campanha para a fase decisiva.

O que está garantindo que os republicanos tenham tanto dinheiro para a campanha do que os democratas é o financiamento público e a arrecadação oficial do partido.

A disputa acirrada entre a senadora Hillary Clinton e Obama também ajudou a dividir o dinheiro dos financiadores durante as primárias, e a dívida que Hillary deixou, de cerca de US$20 milhões, está sendo paga através de doações que o próprio Obama está pedindo, para cumprir um acordo político firmado ao fim das primárias.

Essa incumbência de arrecadar dinheiro para pagar as dívidas dos Clinton também está causando constrangimentos na campanha democrata.

O comitê nacional dos republicano esteve sempre à frente do dos democratas na arrecadação de fundos, e muito desse dinheiro está vindo através de financiadores arregimentados pelo próprio presidente Bush, que, apesar de impopular, mantém seu "prestígio" como arrecadador financeiro.

O cientista político Jairo Nicolau, do Iuperj, especialista em sistemas eleitorais, destaca duas diferenças fundamentais entre o sistema brasileiro e americano de financiamento de campanhas, que são muito grandes.

Uma das mais importantes diz respeito à televisão. Nos Estados Unidos, lembra ele, os candidatos compram tempo para veicular os spots de campanha. "Estratégico é veicular em estados-chave onde existe chance de o candidato vencer, pois a disputa não é nacional, mas em 50 diferentes estados".

Os spots consomem boa parte dos recursos arrecadados. Para se ter uma idéia, cada um dos candidatos gastou US$6 milhões para pagar anúncios durante as Olimpíadas, um dos momentos mais caros da propaganda de televisão, mas também dos mais vistos.

No Brasil, ao contrário, existe o tempo gratuito de rádio e televisão para os partidos políticos, que é pago pelo contribuinte, mas que também não agrada aos meios de comunicação, que preferiam ter o espaço disponível para sua própria estratégia publicitária.

Nos EUA, empresas não podem doar diretamente para candidatos há mais de cem anos, ressalta Jairo Nicolau, "embora o soft money tenha furado esse sistema".

Chama-se de "soft money" ("dinheiro fácil") a contribuição de empresas e associações que defendem posições, e não candidatos. Mas sempre essas campanhas publicitárias estão fortemente ligadas a este ou àquele candidato.

No Brasil, lembra Nicolau, os candidatos são fortemente dependentes de recursos das empresas, e cidadãos contribuem muito pouco. Até agora, cerca de 2 milhões de pessoas físicas fizeram doações pela internet para a campanha do candidato democrata Barack Obama, e só em julho nada menos que 65 mil novos doadores foram cadastrados. Desses, cerca de 30% contribuem com pequenas quantias de até US$20. Da parte de McCain, são 600 mil doadores declarados até o momento.

NO RIO, 20 ÁREAS TERÃO TROPAS FEDERAIS

DEU EM O GLOBO
Isabel Braga e Catarina Alencastro

Mapeamento do TRE identificou locais dominados por milícias e tráfico

Pelo menos 20 comunidades do Rio e de cidades da região metropolitana receberão tropas federais para garantir a segurança da campanha e das eleições municipais. De início, a medida vai atingir áreas que somam 1 milhão de habitantes. Segundo o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, Roberto Wider, o mapeamento identificou áreas do Rio e arredores que enfrentam problemas com milícias e tráfico. Ontem à noite, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Ayres Britto, assinou ofício pedindo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o envio das forças federais. A data do envio e o número de militares envolvidos na operação serão decididos pelo Ministério da Defesa. Britto adiantou que a ação conjunta nas 20 áreas será coordenada pelo Exército.

Wider, que participou da sessão do TSE, explicou que, por segurança, não daria os nomes das regiões. Além de comunidades da capital, foram incluídas áreas de Caxias, Nilópolis, São Gonçalo e Nova Iguaçu. Wider informou que o trabalho de inteligência e mapeamento da Polícia Federal continuará sendo feito e poderá incluir outras áreas, citando Niterói. As menores comunidades têm em média 5 mil habitantes, e as maiores, como a da Rocinha, 200 mil.

Wider entregou o mapeamento num almoço com Ayres Britto - que, antes, havia encontrado o ministro da Defesa, Nelson Jobim. A parte jurídico-institucional da missão ficará a cargo do juiz eleitoral Luiz Márcio. Wider defendeu o envio célere das forças e disse que o melhor seria se isso já acontecesse na próxima semana.

Ayres Britto não informou quanto custará a operação, que deve ir até o dia da eleição, 5 de outubro. Ele deve negociar os termos com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, mas afirmou que o TSE tem orçamento para custear despesas das tropas.

- Ficará a cargo do ministro Jobim quantificar o contingente. A coordenação operacional será das Forças Armadas, mais precisamente do Exército, com participação de Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e polícias estaduais - disse Britto.

O presidente do TRE do Rio disse que a idéia é que a atuação não se dê em tom de confronto com a comunidade, mas iniba a atuação das milícias e do narcotráfico, que tentam ameaçar os moradores com imposição de candidatos e ameaça de que poderão violar seus votos. Indagado se não temia conflitos entre militares e as comunidades, como o que resultou na chacina de jovens do Morro da Providência, Wider respondeu:

- Houve um problema pontual na Providência. É evidente que sempre há esse temor, mas a idéia é fazer com que milícias e narcotráfico voltem atrás. Se houver confronto, será lamentável.

Wider disse que o tribunal está atento a candidatos que utilizam milícias e traficantes para pressionar eleitores:

- Por enquanto, as candidaturas serão mantidas. Vamos apreciar os casos de pressão, para ver as conseqüências.

AMENIZA, MAS NÃO CURA


DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Dora Kramer

Os poderosos, ainda mais quando populares, são excelentes avalistas da norma segundo a qual quem tem padrinho não morre pagão. É um fato, mas não tão absoluto e comprovado que justifique a relação de causa e efeito que candidatos a prefeito estabelecem entre a companhia de seus patronos nas campanhas e o milagre da multiplicação de votos.

Evidentemente, um fiador do porte do presidente Luiz Inácio da Silva tem o seu papel. A presença dele no palanque real ou virtual ajuda. Em alguns casos pode ser decisiva no tira-teima.

Mas, como ainda está para ser inventada a fórmula infalível de condução da vontade alheia, o resultado da eleição depende muito mais das idiossincrasias do eleitorado que das ações do fiador da ocasião.

A ingerência das grandes figuras ameniza, mas por si só não cura o mal da rejeição. O raciocínio vale também no sentido inverso: esconder o correligionário, se é um governante desgastado, não produz necessariamente um ambiente de aceitação ao candidato.

O governador de São Paulo, José Serra, por exemplo, de quem os tucanos cobram presença ao lado do candidato do PSDB à prefeitura da cidade, Geraldo Alckmin, vive na carne a experiência.

Em 2002, poderia ter perdido para Lula de qualquer jeito, mas a opção estratégica de se distanciar da fadiga de material dos oito anos de governo Fernando Henrique certamente não lhe rendeu um voto. E pode ter tirado, já que no caso de identificações consolidadas, como a de Serra e FH, o distanciamento soa falso ao eleitor e, pior, traiçoeiro.

Voltando a 2008, São Paulo, capital: por que Alckmin subiria no conceito do eleitor por obra e graça de uma adesão explícita do governador, se está cansado de saber que Serra não o considera o melhor candidato?

Ora, ainda que eleição hoje seja um jogo de aparências e construção de emoções ligeiras, as coisas precisam ter um mínimo de verossimilhança.

Pode inspirar confiabilidade o uso da imagem do presidente Lula por cinco candidatos diferentes, como ocorre no Rio? É preciso muita alienação para acreditar que representam todos ao mesmo tempo a encarnação de Lula aos pés do Redentor.

Isso sem falar dos candidatos de partidos de oposição que hoje reivindicam Lula nos palanques, mas quando o tempo fechou para o lado dele, nos escândalos de 2005, só o chamavam de tudo, menos de bonitinho.

Como dizia aquele slogan da época em que era mais fácil protestar contra emissora de televisão que enfrentar os urros da ditadura: o povo não é bobo.

Superlativo

Quando estende aos três Poderes a proibição do nepotismo, o Supremo Tribunal ajuda. Mas quando os ministros exageram na avaliação dos efeitos da decisão, atrapalham a compreensão da realidade.

O veto a contratações de parentes para cargos de confiança do segundo escalão para baixo da administração pública não extinguiu o uso do Q.I. (quem indica) como critério de ocupação de cargos, como crê o ministro Ricardo Lewandowski.

Tampouco revogou o conceito de que “tomar posse no cargo” equivale a “tomar posse do cargo, como uma propriedade privada”, como disse o ministro Ayres Britto.

A contratação de parentes é apenas uma das muitas mazelas do patrimonialismo que nos preside desde os idos de Cabral. As indicações mediante outros interesses que não os familiares são infinitamente mais numerosas, danosas e não raro criminosas.

Desafinados

O governador Aécio Neves e o prefeito Fernando Pimentel vinham jogando direito.

Os dois optaram por candidato único para a Prefeitura de Belo Horizonte; montaram uma aliança PT-PSDB cheia de simbolismos futuros; sustentaram a coligação “informal” na marra, já que o PT vetou e o PSDB só queria se fosse de papel passado.

Populares - Aécio tem mais de 80% de aprovação e Pimentel vai além dos 70% -, se escoraram na soberania da vontade popular e nas pesquisas de apoio quase unânime à aliança.

Tudo nos conformes até perderem a noção de limite.

Uma coisa é o político privilegiar o desejo do cidadão em detrimento da decisão partidária nas ações do cotidiano e mesmo nas práticas de campanha.

Isso não autoriza dois governantes a oficializarem ato de ilegalidade explícita. Como donos absolutos do território, passaram o seguinte recado: se a lei veda a presença de políticos de partidos não coligados no horário eleitoral, para eles tanto faz.

Pode parecer uma infração menor. Não é. Quando se manda às favas a lei é porque para lá já foram enviados os escrúpulos.

Gente fina

Diante do sinônimo chulo para “boboca” usado por Lula para insultar os críticos do ProUni, os aposentados precoces chamados de “vagabundos” por Fernando Henrique podem se sentir elogiados. Bem como os “fracassomaníacos”.

PETRÓLEO, ESTADO E FÉ


DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Clóvis Rossi


Todo mundo já enfatizou a necessidade de que haja um bom debate sobre quem vai explorar o petróleo do pré-sal. Faltou dizer, acho, que esse debate não pode ser teológico.

Explico: durante a maior parte do século passado, predominou no debate o ataque ou, no mínimo, a desconfiança em relação a quem criticava a presença do Estado na economia.

Eram todos ou quase todos imediatamente rotulados de liberais, neoliberais, direitistas, assalariados da Fiesp ou da Febraban -ou de quem estivesse na moda a cada momento.

Raramente se discutiam os argumentos; desqualificava-se diretamente o argumentador. Aí veio o fracasso irremediável do comunismo, e o sinal do debate se inverteu: os pró-Estado passaram a ser jurássicos, comunistas não-reciclados, petistas empedernidos (antes, claro, de o PT chegar ao poder).

De novo, os argumentos não contavam no debate; contava a desqualificação do interlocutor. Torço para que os debatedores de agora já tenham desopilado seus fígados e possam deixar de encarar a presença ou ausência do Estado como, digamos, a virgindade de Maria.

Acredita-se nela por fé, não por argumentos. Não dá para usar a fé no debate sobre o papel do Estado. Se o hiperestatismo foi um fracasso, não quer dizer que empresas estatais tenham sempre o mesmo destino.

Vide a Petrobras, sucesso de público e de crítica mesmo entre a mídia mais refratária ao estatismo, mas também capaz de desfrutar de injeção suculenta de capital privado via Bolsa de Valores. Em termos mais amplos, os países nórdicos têm forte presença do Estado e nem por isso fracassaram.

Ao contrário, seu modelo é o menos ruim inventado pelo ser humano até agora. Valdo Cruz, nesta mesma página, duvidou ontem das chances de copiá-lo. Tendo a concordar com ele, mas torço para que ambos estejamos errados.

MENDES CRITICA IMPORTÂNCIA DADA A MILITANTE ARMADO

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Em meio a polêmicas sobre a Lei de Anistia, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, criticou ontem a importância dada pela imprensa a militantes que lançaram mão da luta armada para combater a ditadura. "Dá-se muito destaque na imprensa a quem pegou em armas para defender a democracia. É preciso homenagear o homem do direito, aquele que defendeu o processo democrático pela via democrática. Assim foi com Moreira Alves", declarou Gilmar, em discurso em homenagem ao ministro aposentado do STF, durante o Fórum Brasileiro de Direito Constitucional, em Brasília.

No mesmo discurso, Gilmar diminuiu a expectativa dos ouvintes ao anunciar que não se alongaria no assunto.A polêmica sobre o tema voltou recentemente quando o ministro da Justiça, Tarso Genro, defendeu a revisão da Lei da Anistia para que militares que torturaram durante a ditadura pudessem ser punidos. A declaração provocou diversas reações, a mais contundente vinda dos próprios militares, que se reuniram no Clube Militar, no Rio, e emitiram carta de repúdio, classificando a discussão de "extemporânea, imoral e fora do propósito".

Com a tensão entre integrantes do governo e militares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em ação e encerrou o debate público sobre o tema, dizendo tratar-se de prerrogativa do Judiciário.Vannuchi quer discussão da Lei de Anistia sem espírito de vingança. Sobre a Lei da Anistia, o ministro disse que a democracia brasileira comporta avaliar e punir quem torturou durante a ditadura e voltou a negar que tenha defendido a revisão da lei.

Ainda sobre esse tema, Vannuchi fez questão de isentar os militares de culpa. "Não há nada de revanchismo. É injusto que as Forças Armadas continuem carregando nos ombros a acusação de que são as responsáveis. Mesmo sob a acusação de que houve um sistema de repressão política. O regime já foi julgado nas urnas".

A COCA-COLA JÁ TERIA DESCOBERTO


DEU NO VALOR ECONÔMICO
Maria Cristina Fernandes

Marta Suplicy (PT) apareceu com um conjunto de blusa e casaco de malha rosa bebê, decote arredondado rente ao pescoço, mais para Luiza Erundina do que para o figurino arrojado que a caracteriza; Gilberto Kassab (DEM) chegou batendo com recortes de jornal denunciando a herança petista; e Geraldo Alckmin (PSDB) reprisou a campanha presidencial com a imagem de bom genro do médico de Pindamonhangaba.

O enfado da primeira reação - a quem eles pensam que ainda enganam - não sobrevive à estréia da campanha televisiva. Teve audiência maior que "Jornal Nacional" em tempos de mensalão - 57% na Grande São Paulo - entre outras razões porque o eleitor brasileiro, fartamente exposto às artimanhas da linguagem televisiva, sabe que a criancinha nos braços é para emocionar e os aplausos, para impressionar, mas assiste querendo, sobretudo, se informar.

Prova disso é o levantamento inédito que o professor da Fundação Cultural de Belo Horizonte, Luiz Lourenço, fez com duas amostras de municípios - com e sem horário eleitoral gratuito - nas disputas de 2000 e 2004. O grupo de pesquisas que coordena analisou 226 pesquisas eleitorais em todas as capitais e outros 14 municípios com mais de 100 mil habitantes.

Chegou à conclusão de que naqueles municípios onde há horário eleitoral gratuito o patamar de indecisos cai dez pontos percentuais com o início da programação. Na amostra de Lourenço, nas cidades onde a inexistência de retransmissora de TV priva os eleitores de programação eleitoral local, o patamar de indefinidos permanece alto ao longo da campanha e só cai às vésperas das urnas.

Em São Paulo, os indefinidos - pelo último Ibope, somam 33% do eleitorado - foram expostos a estratégias bem distintas. O programa de estréia de Marta fez uso comedido de sua imagem, optando por sua voz em off como locutora em tom confessional de cenas da cidade. Destinado a diminuir sua rejeição, foi direto ao ponto: "Sou hoje uma pessoa muito mais madura e preparada"; "o tempo foi me mostrando que os problemas cresciam tanto..", "aprendi a pensar grande, como São Paulo"; "quero governar de modo moderno e ágil, de modo diferente", "ela quer voltar a governar São Paulo para melhorar o que já fez".

Floreou recursos de outras campanhas - "Esta cidade nasceu pobre e se tornou rica. Esta mulher nasceu rica e resolveu dedicar sua vida aos mais pobres" - e só colocou o tailleur para receber o apoio do presidente operário. Preencheu toda sua cota de incredulidades com a proposta do gabinete cercado de monitores capazes de identificar problemas de segurança e trânsito em tempo real para reagir instantaneamente.

Ainda não inventaram propaganda melhor

O recurso ao refrão "deixa ela trabalhar", alusão direta ao da campanha presidencial de 2006, banalizou-se ainda mais porque também foi usado pelo programa de Gilberto Kassab, que lhe sucede. O prefeito abusa de propaganda negativa e atira para todos os lados - "Você não me viu criando taxas ou em cima do muro" - mas seu alvo preferencial é a candidata petista.

É clara a estratégia de se firmar como candidato anti-petista que tem tido, ao longo das duas últimas décadas, eleitorado cativo na cidade. Num programa acanhado e sem referências a Marta, Paulo Maluf (PP) não parece disposto a manter a titularidade do anti-petismo.

Kassab citou Serra cinco vezes no programa e abusou da primeira pessoa do plural - "Acabamos com a taxa do lixo". Apareceu nas mais variadas situações com o governador - abraçado, de mãos erguidas, no metrô, no meio da rua - e contrapôs a dependência da aliança ao "pulso forte" que implantou o rodízio de caminhões e o Cidade Limpa, "enfrentando poderosos" e "contrariando interesses".

Alckmin entrou confiante de que o baixo índice de rejeição é seu maior ativo. Ao contrário de Marta e Kassab, que abusaram de imagens da cidade, ele apareceu o tempo inteiro. "É o mais simpático", dizia o locutor, em off. O programa focou antes na identificação pessoal entre eleitor e candidato do que no que pretende para a cidade. Por enquanto, limita-se a explorar a confiança do eleitor de que ele dará melhor rumo à cidade. É "São Paulo na mão certa" e "São Paulo na melhor direção".

Eles terão 40 dias para convencer o eleitor. A campanha não se resume à telinha. A TV ajuda as boas campanhas e enterra as más. Luiz Lourenço encerra a discussão sobre o impacto da propaganda eleitoral na eleição citando o publicitário Chico Malfitani: "Se tivessem inventado algo melhor que a televisão para fazer propaganda, a Coca-Cola já teria descoberto".

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras