domingo, 24 de agosto de 2008

TOQUE DE PRAGMATISMO


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. A convenção do Partido Democrata começa hoje em Denver, no Colorado, com Barack Obama se posicionando em um novo patamar, com a escolha do senador Joe Biden como seu companheiro de chapa. Anunciado na madrugada de ontem por uma mensagem eletrônica para uma rede de potenciais 2 milhões de eleitores-contribuintes da campanha, a escolha significa que Obama decidiu dar à sua candidatura um caráter mais institucional, reforçando um dos pontos fracos percebidos pelo eleitorado, sua inexperiência em política externa. O senador Biden preside a poderosa Comissão de Relações Exteriores do Senado, e é um reconhecido especialista no assunto.

O próprio Biden, antes de desistir da postulação à presidência logo no início das primárias, baseava sua candidatura no Partido Democrata nessa experiência, e chegou a questionar a capacidade de Obama de se impor diante de líderes mundiais.

Já naquela época, ele perguntou em um debate: "Quem de nós tem condições de pegar o telefone e conversar com Putin para dizer-lhe que deixe a Geórgia em paz, porque Saakashvili está com um grande problema? Eu tenho 35 anos de experiência".

Conhecido por ser um político "brutalmente franco", o senador por Delaware chegou a dizer, em outra oportunidade, que Obama poderia vir a estar preparado para o cargo, mas que não estava até aquele momento. E arrematou: "A Presidência não é uma coisa que você pode aprender fazendo".

Mas Biden foi se aproximando de Obama durante a campanha eleitoral, e nos últimos meses já havia claramente aderido àqueles que consideram o candidato democrata a melhor opção. Chegou mesmo a criticar duramente o presidente Bush que, em Israel, fez um comentário sobre a incapacidade de Obama de se impor diante do Irã.

A escolha do senador Joe Biden, por outro lado, retira da candidatura de Obama aquele ar de mudança fora da influência do establishment político de Washington, o que pode frustrar alguma parcela de seus eleitores.

Mas, numa corrida tão apertada quanto a que se delineia, predominou na escolha o pragmatismo de ter como companheiro de chapa alguém que esvazie as críticas sobre a inexperiência em um setor estratégico para o país, o que está sendo muito bem explorado pelo adversário, o republicano John McCain.

Na recente crise da Geórgia com a Rússia, por exemplo, o candidato democrata perdeu muitos pontos junto ao eleitorado, devido a sua posição inicial muito cautelosa, na opinião da maioria. A presença de Biden na chapa faz com que McCain veja pelo menos neutralizada uma de suas vantagens comparativas mais importantes até o momento.

Joe Biden, durante a campanha, já havia dito que o país não precisa de um "comandante-em-chefe" e um "herói de guerra", mas um líder "com sabedoria" para enfrentar as difíceis decisões.

O senador John McCain tem, agora, pelo menos mais uma semana para anunciar seu companheiro de chapa, pois a convenção republicana só começa no próximo dia 1º de setembro, em St Paul.

O mais provável é que ele escolha também um antigo adversário, Mitt Romney. A escolha do candidato a vice-presidente era uma ação estratégica mais importante para o democrata Barack Obama do que será para John McCain, embora a idade do republicano seja um motivo de apreensão quanto à sua candidatura.

McCain fará 72 anos por esses dias e será, se eleito, o mais velho presidente dos Estados Unidos em primeiro mandato. Havia a especulação de que ele não concorreria a uma eventual reeleição, o que aumentaria a importância de seu vice, mas o próprio McCain se encarregou de desmentir essa hipótese.

Entrando na reta final, a eleição americana está na dependência, segundo as análises mais diversas, de cerca de dez a quinze estados onde estarão em disputa algumas centenas de votos decisivos de delegados, numa eleição em que é preciso obter 270 votos para vencer, num colégio eleitoral de 538 delegados.

Segundo a projeção da CNN, o democrata Barack Obama já teria assegurado 221 votos, enquanto McCain teria 189 delegados. Os onze estados em que a situação estaria indefinida valeriam 128 votos. Eles são os seguintes: Flórida, Ohio, Minnesota, Iowa, Nevada, Novo México, New Hampshire, Colorado, Missouri, Michigan e Virgínia.

Já a análise política da consultoria brasileira Tendências, realizada por João Pedro Ribeiro e Rogério Schmitt, aponta dez estados como os que vão decidir a eleição.

Eles colocam entre os estados que podem mudar o voto Pensilvânia, Wisconsin e Oregon, e não concordam com a CNN em relação aos estados de Colorado, Missouri, Michigan e Virgínia.

Esses estados onde é considerada possível a alteração demonstram um comportamento errático do eleitorado no histórico das eleições, e tanto podem pender para um lado quanto para o outro.

Um exemplo claro é o estado de Nevada, que tem cinco delegados. Votou em Bush nas eleições de 2000 e 2004, e hoje tende para Obama. Também em Iowa, onde votam sete delegados, verifica-se uma tendência inconstante. Em 2000, o estado elegeu Al Gore, para em 2004 apoiar a reeleição de Bush. Hoje, a tendência é para Barack Obama.

DÍZIMA PERIÓDICA


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

É fácil conferir, basta dar uma olhada nos jornais da semana passada. Servem também os do começo do ano ou qualquer um publicado ao longo da campanha de 2006 - dos primórdios da escolha do candidato do PSDB à Presidência da República à derrota final de Geraldo Alckmin para o presidente Luiz Inácio da Silva, com menos votos que os obtidos no primeiro turno.

E se interessar um aprofundamento do estudo comparativo das ações do PSDB na tentativa de reencontrar o caminho do Palácio do Planalto, vale retroagir a pesquisa à campanha presidencial de 2002 para perceber como são conservadores os tucanos em matéria de equívocos.

Sem criatividade para inventar novos nem capacidade para superar os velhos, há seis anos contentam-se com a repetição dos mesmos erros. E o mais incrível: surpreendem-se com eles.

A cúpula do PSDB se assustou com a última pesquisa do Ibope sobre a eleição para prefeito de São Paulo que registrou uma subida espetacular de Marta Suplicy, uma queda acentuada de Geraldo Alckmin e um inamovível Gilberto Kassab na casa do dígito único.

Ato contínuo deflagrou-se a caça aos responsáveis e instalou-se a discórdia sobre como sair da periclitante situação: mudar a campanha de Alckmin sim, mas em qual direção?

Os “nacionais” cobram agressividade contra Marta Suplicy, mas os “locais” - candidato incluído - não querem briga, apostam na maciota e prometem que no segundo turno tudo vai ser diferente, virá o enfrentamento e, com ele, a virada rumo à vitória.

Filme visto em 2002: José Serra foi candidato a presidente em meio ao desinteresse explícito do partido, a bordo do discurso dúbio da “continuidade sem continuísmo” que entrou por um ouvido do eleitor e saiu pelo outro devidamente transformado em pó nesse trajeto.

Revisto em 2006: Alckmin forçou a mão, Serra achou melhor não enfrentar Lula com a bola interna dividida e o PSDB entrou na disputa desprezando os 20 pontos porcentuais de diferença nas pesquisas em favor do preterido. Naquela vez havia um discurso à disposição, mas os tucanos preferiram deixar para Lula a autoria da estabilidade e cair na armadilha de se envergonhar das privatizações.

Lá, como cá, uns pediam agressividade, outros preferiam a amenidade, mas ninguém sentava para se entender. Evidente, as intrigas, ciumeiras, rasteiras e ressentimentos presidiam o ambiente.

Reprisado agora, na eleição preparatória da disputa de 2010: José Serra, de novo o mais bem posicionado nas pesquisas, tinha um plano. Os adversários dentro do partido não concordaram - inclusive porque não devem ter sido consultados - com a preliminar da aliança em torno de Gilberto Kassab e outra vez decisão sobre candidatura foi um parto dantesco. Em público.

Começa a campanha e dá-se o óbvio: um candidato com votos e sem discurso, outro com discurso e sem votos resultam numa conjunção de carências.

Mas a nação tucana sobressalta-se. Esperava um milagre. E convém esperar sentada se continuar fazendo tudo errado achando que no fim dá tudo certo.

Massa de manobra

Os marqueteiros ficam muito irritados com análises sobre a reduzida credibilidade dos programas apresentados no horário eleitoral gratuito.

Argumentam que o público alvo não tem o senso crítico de analistas. Como o crivo da maioria não é exigente, dizem, as fantasias fabulosas parecem verossímeis, tocam ao coração das mentes desacostumadas ao exercício do discernimento e alcançam o resultado desejado.

O raciocínio faz sentido. Mas é cruelmente baseado na premissa da ignorância. Na propaganda comercial, gera o consumo, movimenta a economia, rende benefícios a despeito de eventuais malefícios para a escala de valores da coletividade.

Na política pode produzir logros da dimensão de um Fernando Collor, alimenta o descrédito, despolitiza as relações e ainda celebra o atraso e a carência de instrução como instrumentos de manipulação.

Mercado futuro

Os gestos amigáveis dos governadores José Serra e Aécio Neves para com o PT têm razões eleitorais, claro.

Mas o objetivo é pós-eleitoral. Candidato do campo não-governista que tenha um pingo de visão trabalha para ter uma oposição o menos hostil possível.

Serra, por exemplo. Caso seja eleito presidente da República em 2010, em matéria de marcação pesada basta a que terá de enfrentar por parte de Ciro Gomes.

O serviço de terraplenagem junto aos atuais ocupantes do poder é essencial porque o PT, se à oposição retornar, será ainda mais difícil de enfrentar do que foi no passado, quando não sabia dos mistérios da máquina, desconhecia seus segredos nem estava nela embutido.

Ainda que perca a eleição de 2010, o PT já terá subido de patamar como personagem na cena política nacional, só pela multiplicação do poder de infernizar o sucessor de Lula.

O QUE SERÁ AMANHÃ?


Luiz Carlos Azedo
Nas Entrelinhas
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Lula é o árbitro da tensão entre a “economia de mercado” e o ativismo econômico do Estado, da qual nem a Petrobras escapa. Símbolo “nacional-popular” da economia brasileira, a estatal agora está sob suspeita de não representar os interesses do povo

O governismo afina a viola para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010. A candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), a preferida do Palácio do Planalto, está em vias de consolidação. O esforço pró-Dilma é tanto que na base aliada já se instalou uma disputa pela prata e pelo bronze na coalizão, pois muitos dão de barato que o ouro é dela e ninguém tasca. O deputado Ciro Gomes (PSB-CE), por exemplo, ainda é o nome governista de maior prestígio eleitoral, mas estaria pendurado no pincel, sem a escada da legenda à qual pertence para se candidatar a presidente da República. Muito menos teria o apoio do PDT e o PCdoB, que derivaram para a órbita de Dilma. A parte que lhe caberia no latifúndio governista é a Vice-Presidência da República. Fechada essa dobradinha mágica, resta a pergunta: qual seria a política da chapa Dilma-Ciro?

Sem sintonia

Calou-se a oposição, mais uma vez, com o êxito do governo Lula no combate à inflação. O velho dragão havia recrudescido mas foi rapidamente domado. A solução foi o “mais do mesmo”, que serve de tripé para a política econômica desde a época do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan: superávit fiscal, câmbio flutuante e elevada taxa de juros. Não foi à toa, portanto, que a oposição suspendeu o fogo contra o “descontrole” da economia, apesar dos problemas com a balança comercial e o gasto público. O crescimento econômico será menor em 2009, mas o consenso impera no reino de Abranches.

O Banco Central resistiu ao “experimentalismo”, mais uma vez com o apoio do presidente Lula e a complacência da oposição. O Brasil tem uma economia de mercado consolidada, com parque industrial diversificado, agronegócio moderno e um robusto setor de exportação. Com isso não se brinca. A política social de Lula, ao expandir o mercado interno, por si só, não muda o rumo. Qual a sintonia da chapa dos sonhos governistas com essa política econômica. Nenhuma. Dilma e Ciro são críticos do “mais do mesmo”. Quando o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci era o “czar” da economia, ambos questionavam duramente sua atuação.

Nova política

Por que, então, o presidente Lula apostaria na dobradinha Dilma-Ciro? A chave está no que virá depois. Ao contrário de dogmáticos e acadêmicos, Lula não está preocupado com a possível assimetria entre a política monetária e a política do governo propriamente dita. Quer fortalecer seu cacife eleitoral na sucessão, isto é, preservar o próprio prestígio popular e a convergência das forças da coalizão governista em torno de uma candidatura única.

Para o Palácio do Planalto, o pós-Lula é a inversão de prioridades que deveria ter ocorrido no segundo mandato mas a crise norte-americana e a retração da economia mundial estão frustrando: o crescimento econômico no lugar do combate à inflação. Vêm daí a valorização do papel do Estado e a intervenção do governo na vida econômica e social. Esse protagonismo econômico foi assumido com gosto pelo presidente Lula, que mete a colher em todos os grandes negócios do país, às vezes no limite da responsabilidade. O melhor exemplo é a compra da Brasil Telecom pela Oi, que está no epicentro do caso Daniel Dantas. No Palácio do Planalto, Dilma é a cabeça mais familiarizada com as relações das agências do governo com o empresariado nacional no setor produtivo.

E agora?

Lula é o árbitro da tensão entre a “economia de mercado” e o ativismo econômico do Estado, da qual nem a Petrobras escapa. Símbolo “nacional-popular” da economia brasileira, a estatal agora está sob suspeita de não representar os interesses do povo por causa do petróleo da camada de pré-sal. Com a candidatura de Dilma, o “governo de compromisso” de Lula passará por um grande teste de resistência. Vem aí um etéreo “capitalismo de Estado” à brasileira.


OS APOIOS NA ELEIÇÃO

Marcos Coimbra
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

O eleitor vê é uma espécie de queda-de-braço para saber quem é “o verdadeiro candidato de Lula”, que até briga na Justiça já provocou

Nestes primeiros dias de campanha eleitoral, o que mais estamos vendo é uma disputa em torno de quem tem “os apoios mais fortes”. O mais cobiçado nacionalmente, o mais exibido pelos candidatos, é o do presidente Lula. Em segundo lugar, o dos governadores populares em seus estados. Em terceiro, o dos prefeitos (quando não concorrem), junto com outras lideranças locais.

Lula é citado por candidatos a prefeito de todos os partidos, sem sequer a exceção dos que pertencem àqueles mais distantes do governo, como o PSDB e o DEM. Em não poucas cidades, seus candidatos convivem bem em coligações até com o PT, sem falar nos outros partidos da base. Nesses, todos deixam clara sua fidelidade a Lula.

Na maior parte das cidades, seja onde há propaganda eleitoral pela televisão e o rádio, seja onde as campanhas ainda seguem a rotina das caminhadas, comícios e apertos de mão, a chamada base do governo tem dois, três, muitos candidatos. Como todos se sentem autorizados a dizer que são correligionários, quando não amigos, do presidente, o que o eleitor vê é uma espécie de queda-de-braço para saber quem é “o verdadeiro candidato de Lula”, que até briga na Justiça já provocou. Quanto aos candidatos de partidos de oposição, ficam quietos e nada dizem contra ele.

O resultado disso é que, se nada de muito surpreendente acontecer, Lula vai sair das eleições municipais maior do que entrou. Em vez de ser um momento para discutir o que seu governo faz e não faz, elas serão uma consagração. De Norte a Sul, os eleitores terão a sensação de que é consensual a aprovação da política do governo federal em relação a temas fundamentais na vida das cidades.

Se não há criticas à política para com a segurança pública, por exemplo, o recado que os candidatos passarão é que ela não precisa de mudanças. É como se dissessem que nada há a cobrar da União nessa matéria. Tampouco em relação à atuação federal na saúde, no saneamento, na habitação popular, no meio ambiente e assim por diante.

Ou seja, os candidatos estão apresentando suas propostas dentro de um quadro delimitado pela ausência de questionamentos ao governo federal, sem convidar os eleitores a pensar sobre o que é preciso fazer para que as administrações municipais tenham melhores condições para realizar seu trabalho.

Assustados com os números da popularidade do presidente, nem tocam no assunto.

O curioso é que se comportam assim por entender que precisam do “apoio de Lula”, como se tê-lo fosse decisivo para suas chances eleitorais. Esquecem-se de que a grande maioria das pessoas não aprova, cegamente, as ações do governo. Ao contrário, as pesquisas mostram que elas tendem a reprovar muitas políticas e que esperam que sejam mudadas, seja para aumentar seu alcance, seja para reformulá-las por completo, como ocorre no caso da política federal para a segurança pública.

Há, nisso, duas questões a discutir. Uma, é se ter “o apoio de Lula” faz alguém ganhar eleição. Pelo que vimos nas que tivemos nos últimos anos, sejam as municipais de 2004, sejam as estaduais e legislativas de 2006, os “candidatos do Lula” tanto podem ganhar, quanto perder. Difícil saber qual grupo é maior.

A segunda questão tem a ver com a noção de apoio. Afinal, quem apóia quem? É Lula quem apóia as legiões de candidatos que acham que vão vencer (e muitas vezes não vencem) com seu apoio? Ou são esses candidatos que apóiam Lula, permitindo que passe incólume pelas eleições, satisfeito e vendo sua popularidade aumentar?

Isso não quer dizer que não existam apoios que podem ser decisivos em uma eleição como a que faremos em outubro. Quando os candidatos são pouco conhecidos, uma apresentação bem feita, por alguém que o eleitor respeita e de quem gosta, é muito importante.

Os eleitores brasileiros, diferentemente do que pensam alguns, dão imenso valor ao voto e procuram fazer suas escolhas eleitorais da melhor maneira possível. Saber quem está do lado de quem, o que os candidatos são em relação a lideranças que prezam, são informações que os ajudam a votar com mais segurança.

DEUS NO PALANQUE


Alberto Dines
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

A disputa religiosa é a segunda maior causa de guerras na história da humanidade. A primeira é, obviamente, a conquista territorial para garantir a subsistência e a sobrevivência. Nesta questão primordial, o ser humano não se distingue das outras espécies animais que se engalfinham em busca do espaço vital para produzir alimento, agasalho e a preservação do grupo. Asseguradas as necessidades biológicas, os animais ditos racionais passam a guerrear-se para impor suas crenças.

Lamentável: a vantagem competitiva oferecida pela racionalidade em vez de pacificar os instintos só os exacerba. Em termos concretos significa que a busca da paz genuína, compreende um esforço ostensivo dos envolvidos para retirar da pauta dos contenciosos todos os ingredientes capazes de fomentar o fervor religioso ou a ferocidade confessional.

Em outras palavras: é preciso tirar Deus da arena política. Há indícios de que isto está acontecendo na Europa – prova de que o Velho Mundo ainda é uma referência – porém na Ásia e na África religião é dinamite pura. No mitológico Novo Mundo, sempre associado à imagem de liberdade, a religião foi imposta a ferro e fogo. Na parte setentrional do continente, mais de cinco séculos depois da chegada de Colombo, encontramos uma situação não muito diferente daquela que existia em 1492 quando a Espanha expulsava os mouros e os judeus do seu território.

Hoje nos EUA (segundo a Economist de 16/8, p.35) cerca de 90% dos cidadãos declaram-se religiosos, 63% acreditam que a Bíblia é a palavra divina e que religiosidade é prova de bom caráter. Apenas 42% dos norte-americanos afirmam que votariam num agnóstico ou ateu para a presidência enquanto 56% votariam num homossexual e 93% aceitariam um negro.

Esta exótica religiosidade numa comunidade tão diversificada e numa civilização tão materialista produz situações singulares como o primeiro encontro dos dois candidatos à Casa Branca, Barack Obama e John McCain, realizado no megatemplo do poderosíssimo pastor Rick Warren na Califórnia semana passada. Obama veio para mudar, conseguiu ser pós-racial, pós-ideológico, mas não conseguiu ser pós-religioso. Sequer tentou.

Na Íbero-América, a conversão forçada dos nativos e a presença da onipotente, onisciente e implacável Inquisição criou um paraíso monolítico católico que agora começa a ruir diante do formidável avanço das seitas protestantes de variadas filiações. Sem o apoio das massas, certos grupos e ordens ligados ao Vaticano (como a Opus Dei), tentam barrar este avanço evangélico através de um grande empenho na área da comunicação social onde os evangélicos estão poderosamente inseridos.

As eleições de outubro têm tudo para transformar-se no primeiro round de um confronto formal e ostensivo entre evangélicos e não-evangélicos graças à presença de Marcelo Crivella (PRB) como candidato à prefeitura carioca. Sua eleição anterior para o Senado foi apenas um ensaio: sua postulação a um cargo majoritário numa cidade-vitrine como o Rio de Janeiro, dá outra dimensão a uma disputa que em outras circunstâncias seria no máximo partidária. Agora é mediática, aos pés do Redentor, portanto religiosa.

Na antiga Cidade Maravilhosa está a sede do poderoso Grupo Globo cujo maior competidor é a TV-Record, carro-chefe da Igreja Universal de propriedade do bispo-empresário Edir Macedo, tio do candidato Crivella, por enquanto líder nas pesquisas.

Crivella tem o apoio do governo federal, seu partido é o mesmo do vice-presidente da República e do ministro Mangabeira Unger, que aposta numa reedição da história de sucesso da Coréia do Sul onde a opção pelo protestantismo foi estratégica.

Os desdobramentos de um eventual confronto são preocupantes. Embora administrada como empresa multinacional, a Igreja Universal adota um proselitismo agressivo. Seu poderio eleitoral, sobretudo nos segmentos menos favorecidos, pode potencializar conflitos subjacentes. Nas comunidades carentes do Rio onde atua, até a panfletagem precisa ser aprovada pela bandidagem ou pela mílicia (o que vem dar no mesmo).

Deus nos palanques tira Marx da jogada. Religião deixou de ser o "ópio do povo", porém nada impede que se converta em "coração de um mundo sem coração e alma da condição desalmada". Guerras religiosas são insaciáveis. Mais nocivas do que as produzidas pela fome.

» Alberto Dines é jornalista.

ENTREVISTA JAIRO NICOLAU: "FINANCIAMENTO PÚBLICO É INVENÇÃO"


Raphael Bruno
DEU NO JORNAL DO BRASIL

Professor do Iuperj diz que é contra o Estado patrocinar as campanhas eleitorais no Brasil. Acha que tudo não passa de invenção

Na semana passada, o governo retomou as iniciativas em torno de uma nova proposta de reforma política. Elaborada pelo Ministério da Justiça, a reforma retoma alguns dos principais pontos daquela que foi derrotada pelos congressistas em 2007. Começa, agora, a árdua tarefa de criar consensos entre os partidos em torno de pontos como financiamento público de campanhas, voto em lista fechada e fidelidade partidária. Um dos maiores especialistas em Representação Política do Brasil, Jairo Nicolau, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), se mostra cético quanto às possibilidade de sucesso da nova tentativa. Para ele, o Brasil nunca terá um sistema político similar ao da Europa.

O governo retomou as discussões sobre reforma política. Como o senhor vê essa participação do Planalto no tema?

Não acredito que o governo consiga aprovar. E não acho que seria papel do governo se empenhar numa atividade dessa. Muito mais importante do que o governo propor uma reforma política é o fato de que não há nenhum consenso, nenhuma idéia razoável que una minimamente uma banda da elite política brasileira. Há muita dissonância, cada um tem uma idéia quando se fala em reforma política. As pessoas que são favoráveis à reforma estão pensando em coisas totalmente diferentes. Uma grande contribuição que o governo poderia dar era propor uma nova legislação de financiamento da política no Brasil, envolvendo os partidos e o fundo partidário, e uma nova lei de campanhas. Acho que se avançarmos por ai, outros aspectos ficariam marginais.

Não precisaria passar pelo financiamento público exclusivo de campanhas?

Não, essa foi uma idéia inventada no Brasil e que vejo com muita desconfiança. A premissa dela é problemática, de estatizar completamente a vida política. E se acreditar que com isso resolve o problema da corrupção eleitoral, da ausência de controle de gastos. A gente precisa de uma lei efetiva. A nossa não têm punições severas para os que são pegos. Eles nunca são condenados, porque os processos demoram, a Justiça não tem capacidade de levar isso adiante e não há fiscalização rigorosa. As evidências de corrupção e de abuso de gastos se amontoam nos porões da Justiça Eleitoral porque a premissa do sistema é absurda. Verificar as contas de todo mundo é absurdo. Imagina se todo jogo de futebol todos os jogadores tivessem que fazer o anti-doping. Se temos um sistema por amostragem, com punições severas, pode-se melhorar muito.

Mas o problema maior com os financiamentos não estaria relacionado, não só ao caixa-dois e à corrupção, mas ao peso dos interesses das empresas que apoiam financeiramente os candidatos?

Financiamento público total não existe em lugar nenhum do mundo. A estatização completa não resolve os problemas da corrupção eleitoral. Você deve tentar passar recursos, e não dinheiro. Tempo de televisão é recurso. O Brasil já tem um sistema onde se dá dinheiro aos políticos e não tem capacidade instalada para verificar se estes políticos gastaram como deviam. Quem é que vai fiscalizar 300 mil candidatos em mais de 5 mil municípios? Todo mundo com dinheiro estatal na mão e podendo continuar com caixa-dois. Têm muitos furos lógicos. Acho que o desejável é que a gente caminhe o mais rápido possível para banir a contribuição de empresas para políticos e manter só as de pessoas físicas.

A maior parte dos eleitores brasileiros não acredita que os resultados das eleições são confiáveis ou isentos de fraudes e considera que a política só serve para beneficiar os próprios políticos, como mostrou pesquisa da AMB. Por que essa descrença e quais as conseqüências mais nocivas para nosso sistema representativo dela?

Tem esse lado sombrio em várias perguntas, mas há outras perguntas na pesquisa que mostram um eleitor menos pessimista, que condena troca de voto por benefícios pessoais e que entende as tarefas de vereadores e prefeitos. É um fenômeno em que quando se fala em geral da política, dos políticos, quase sempre aparece um discurso crítico e pessimista, mas quando se fala mais especificamente sobre um aspecto ou outro o quadro fica mais matizado. Um número elevado de eleitores, por exemplo, disse que continuaria votando mesmo se o voto não fosse obrigatório. A única questão que me surpreendeu verdadeiramente foi o percentual baixo de eleitores que consideram as eleições limpas e confiáveis.

O brasileiro parece aqueles personagens que ficam de 9h às 17h falando mal do casamento, mas fica doido para acabar o expediente, voltar para casa e encontrar a esposa. As pessoas falam mal do sistema político brasileiro mas isso não se traduz em nada. O voto nulo e branco tem até diminuído, fica de 5% a 10%, o que é muito pouco comparado com uma década atrás. Mesma coisa o nível de abstenção, e olha que as punições para quem não vota são risíveis.

Essa não seria uma contradição que a própria pesquisa aponta, tendo em vista que, apesar da descrença generalizada, a maioria do eleitorado continua considerando o voto um instrumento importante para mudar a vida? E por que ela existe?

Hoje estamos diante de um eleitor ambíguo. No atacado critica, diz que é todo mundo igual, que todo mundo rouba, mas no varejo não aceita alguns comportamentos que entende, corretamente, serem errados.

O senhor se diria um otimista em relação ao eleitorado brasileiro?

Eu sou otimista com o comportamento do eleitorado, mas não com o que ele fala. Ele diz uma coisa e faz outra. Melhor que seja assim. Terrível seria o contrário. O eleitor que falasse maravilhas do sistema político brasileiro e depois despejasse o voto em nulos, brancos e deixasse de comparecer. Não estou dizendo com isso que a população está satisfeita. Não está. Temos os últimos escândalos, particularmente no Rio de Janeiro, onde a Câmara de Vereadores é esvaziada, representando em quase sua totalidade interesses particulares, sem conexão com grandes problemas da cidade. Assembléia Legislativa também, perdeu muito poder, interesse, ninguém que saber mais o que ocorre por lá. Fora os escândalos do primeiro mandato do presidente Lula. Tudo isso passa a impressão de que nossa elite política é impossível, não está a altura dos desafios do país. Essa visão não nasceu do nada, mas ainda bem não tem se refletido no comportamento do eleitor.

Mas a paciência do eleitor não pode se esgotar?

Não tenho visto esses sinais. Na média, as pessoas estão mais atentas. Cometem muitos erros, basta ver o número de políticos envolvidos em processos, que não deveriam estar aonde estão. Eles foram mal selecionados, não adianta colocar a culpa só na Justiça Eleitoral. A sorte é que o mecanismo democrático procura consertar esses erros. Na eleição seguinte, pune esses políticos nas urnas e tenta-se melhorar.

Mas isso não vem acontecendo com os envolvidos em escândalos.

Mas não podemos esquecer que temos um eleitorado que não acompanha a política com tanto detalhe. Qual o percentual de eleitores que acompanham essas informações? Não é muito grande. Os eleitores têm mais informações e são mais cuidadosos no voto para o Executivo. São menos candidatos, as pessoas debatem mais. Há um esvaziamento grande do poder legislativo, principalmente no âmbito estadual e local. As pessoas votam no legislativo com uma lógica muito diferente. É um voto que o eleitor raramente faz a conta de escolher um bom legislador, um bom fiscalizador do Executivo. É um voto quase que num compadre, num amigo ou alguém próximo. Tem os eleitores que decidem poucos dias antes do pleito. Duas semanas antes das eleições, 70%, 80% não têm candidato ainda para as eleições proporcionais. Eu conheço muita gente que decide na noite anterior, no dia, no caminho da votação. Já do Executivo ele sabe a importância, a força. Um número muito reduzido de pessoas vota num vereador por ter lido as propostas, por ter debatido suas idéias.

Preocupa o índice baixo de eleitores que votam levando em conta apenas o candidato e não se importam com o partido?

Não, já tive essa ilusão de que um dia seríamos a escandinávia partidária, mas não mais. Por causa do sistema de lista aberta, que estimula muito o voto personalizado, combinado com o presidencialismo, que também estimula a decisão num único personagem, claro que não poderia dar outra coisa se não um sistema muito carregado no candidato.

E o senhor não enxerga isso como nocivo para o sistema representativo brasileiro?

Não, é com esse sistema que a gente tem ido. A gente poderia ter um sistema partidário muito forte e estar reclamando que os partidos estão descolados dos interesses das pessoas, servindo apenas a si mesmos. Em países como Israel, Espanha, que utilizam o voto em lista fechada, essas reclamações são constantes. Não há um modelo perfeito. Claro que já imaginei que poderíamos ter partidos um pouco mais fortes, acho até que há espaço para isso. Mas nunca vamos ter um sistema partidário europeu. E mesmo lá, isso está se perdendo. Partidos com quadros, militantes, programáticos, estão desaparecendo mundo afora.

ENTREVISTA: GILSON SCHWARTZ


A hora do Brasilzão
Fred Melo Paiva
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO/ALIÁS


Campanhas revelam pouco sobre as intenções dos políticos. Mas demonstram como o eleitor brasileiro é um ‘bárbaro’

Se você encontrar o Gilson pelos corredores da Escola de Comunicação e Artes da USP, a ECA, vai pensar que ele é o estudante e não o professor. Com seus cabelos longos, rabo de cavalo e camiseta despojada, a última coisa a se pensar sobre ele é que ali vai um respeitável economista. Seu avatar - ele adora o termo ressuscitado pelos internautas - está muito mais para um aluno jubilado, daqueles que vão ficando, do que para um mestre cujos interesses não se restringem a uma só ciência.

Gilson Schwartz, paulistano de 47 anos, é graduado em Economia e Ciências Sociais pela USP, possui mestrado e doutorado em Ciência Econômica pela Unicamp, pós-doutorado no Instituto de Estudos Avançados da USP. Desde 2005, é professor do Departamento de Cinema, Rádio e TV da ECA, onde leciona a disciplina de pós-graduação Economia da Informação e Novas Mídias. Entre 1986 e 2006, trabalhou como articulista e editorialista do jornal Folha de S.Paulo. A experiência em redação (não o exercício da escrita, que já lhe era familiar muito antes, mas a presença no espaço físico do jornal) lhe valeu o convite para participar da criação das revistas Época e Época Negócios. Nesta última manteve coluna intitulada Iconomia - um conceito seu que diz respeito à “economia do audiovisual e dos ativos intangíveis”, sobre o qual vai falar, em setembro, na London School of Economics and Political Science.

Desde 1994, Gilson Schwartz vem atuando também como consultor de instituições financeiras. Foi economista-chefe do BankBoston e assessor da presidência no BNDES. Suas maiores preocupações, no entanto, há muito migraram para questões como a “emancipação digital” - em 1999, depois de ser selecionado em concurso público no Instituto de Estudos Avançados da USP, implantou a Cidade do Conhecimento, um premiado projeto de pesquisa nessa área. Antes, tinha sido pioneiro na implantação de um Telecentro, no interior do Rio Grande do Norte. A partir de 2007, Gilson passou a responder, também, pelo trabalho de curadoria do Centro Cultural Bradesco - não no mundo real, mas no Second Life, o mais famoso dos ambientes virtuais da internet.

Diante dos impedimentos impostos ao uso da internet na campanha eleitoral deste ano - e dos invariáveis programas eleitorais gratuitos a que somos submetidos -, o Aliás convocou Gilson Schwartz para analisar o discurso político que emana das telas da TV. Na Cidade do Conhecimento - uma pequena salinha no andar térreo da ECA - ele concedeu a seguinte entrevista.

Por que os políticos parecem tão falsos e seus discursos, um engodo?

Há uma expressão repetida exaustivamente, que no entanto permanece relevante: a sociedade do espetáculo. Nesse tipo de sociedade na qual vivemos a tecnologia do audiovisual é avassaladora - tanto por razões virtuosas como não. A inteligência audiovisual é mais rica do que a retórica tradicional ou apenas textual. E assim ela enriquece nossa imersão no mundo. Mas há um outro lado, que não está restrito ao espetáculo digital contemporâneo: não existe representação sem máscaras, seja na comédia ou na tragédia. Preferimos a comédia, mas já os gregos apontavam que as tragédias, pessoais e coletivas, estão aí. O que quero dizer é que a questão da representação, onde obviamente o político se insere, estará sempre associada a um certo teatro - a uma certa falsificação, manipulação ou mediação -, que se tornou cada vez mais profissional nas democracias do Ocidente. No caso da política, a mediação feita por um ícone é sempre necessária. O grau de autenticidade, confiança ou admiração com relação a esse ícone é um problema de oferta e demanda: depende, de um lado, de que boneco - ou avatar - é esse que se apresenta; de outro, da capacidade que temos de dialogar com ele. A grande pergunta é: o político que aparece no vídeo é o responsável ele mesmo por sua falsificação ou ele é, antes, a falsificação de um processo que não quer aparecer? Esta pergunta tem lugar, por exemplo, quando se sabe que os políticos raramente explicitam os financiadores de suas campanhas.

Esse teatro político parece eficiente ao senhor, na medida em que a mensagem por nós captada tem caído cada vez mais em descrédito?

Há uma opinião pública mais esclarecida, que evidentemente é uma minoria. Por outro lado, muitos setores da classe média fazem parte da produção de todo esse espetáculo da política e por isso conseguem enxergar suas máscaras. Podem não estar diretamente envolvidos na campanha desse ou daquele candidato - mas estão, por exemplo, “infiltrados” nos tribunais eleitorais. Há uma cadeia produtiva dessa imagem do político que acaba por alcançar todos os que estão interessados em que a encenação continue da mesma forma - ainda que, do ponto de vista da opinião mais esclarecida, vá ficando claro os limites de eficácia em termos de persuasão. Mas, se essa cadeia sobrevive, é porque os limites estão longe de ser alcançados.

As campanhas políticas não têm, então, nenhum compromisso com quem pensa?

Estive na Globo com um grupo de professores da USP que foram discutir com o (editor-chefe) William Bonner como era feito o Jornal Nacional. A certa altura, questionamos se as notícias não eram veiculadas de uma forma simplista demais. Foi quando Bonner comentou que era preciso levar em conta que as notícias estavam sendo comunicadas a um tipo como Hommer Simpson. O personagem de fato é um ícone do indivíduo menos consciente. Na época, estabeleceu-se um debate, e publiquei uma carta citando uma obra que faz a análise filosófica dos Simpsons, chamada Simpsons e a Filosofia. Hommer é o primeiro capítulo - e lá está dito que ele não é uma pessoa sem virtudes. É apenas um homem aristotélico, ou seja, sua virtude está no meio termo e muitas vezes na mediocridade. A mediocridade, claro, é um risco, da mesma forma que o juízo mal informado. No caso da política, a construção da informação sobre um candidato está em boa medida direcionada ao Hommer e não àquele sujeito mais consciente que talvez desejasse saber, em primeiro lugar, quem financiou sua campanha. Uma hora isso vai sair no jornal, mas apenas uma elite estará disposta a ler. Tem um site em que se poderá verificar as declarações do Imposto de Renda dos candidatos. Mas as pessoas têm mais o que fazer - têm o blog para ler, o Orkut. É importante que tenhamos uma elite crítica. Mas, de qualquer maneira, o sujeito que vai construir a imagem do candidato, nesta sociedade tão predominantemente audiovisual, vai tomar decisões muito parecidas com as do Bonner - que não são necessariamente ruins, embora, em muitos momentos, por perseguir a opinião média, tudo pareça tão ralo e repetitivo de clichês que chega perto de perder o sentido.

Como analisa as restrições ao uso da internet pelos candidatos nesta campanha eleitoral?

No mundo todo, e em especial no Brasil, houve, nos últimos cinco anos, um empoderamento de setores sociais que de fato estavam na periferia não apenas urbana, mas também da indústria cultural. A ubiqüidade que vem junto com a mobilidade dos sistemas de gestão de informação tem dois lados: aumenta o lixo que circula, mas também as possibilidades de expressão. Proibir o uso da internet por causa do risco que está embutido na sua manipulação é o mesmo que proibir a venda de carros por causa dos acidentes. Isso diminuiria muito a mobilidade das pessoas, mas paciência - a partir de hoje, quem dirigir está preso. Seria um absurdo e por isso estabeleceram-se regras para o sistema de transportes. No caso da informação, ela é intangível - não é como o carro, que vai ocupar espaço na rua; mas ela permite que o indivíduo ocupe espaço na mídia e na sociedade. Esse indivíduo tem agora onde publicar seu poema, seu hip hop, seu vídeo. Mas e a sua proposta política? E a sua candidatura? Onde ele vai pôr? Por que estamos reprimindo isso? A quem interessa esse impedimento? Certamente a quem já manipula e controla os meios onde isso é permitido. O olhar do TSE sobre a internet destrói potencial e reduz a capacidade das pessoas de exercer o direito à cidadania, que inclui direito à comunicação responsável. De repente, nesse campo a China ficou hoje mais liberal que o Brasil.

O senhor consegue imaginar um jovem usuário da internet sentado diante da televisão no horário eleitoral gratuito?

Não. A repressão ao uso da internet na campanha atinge diretamente a geração dos nativos digitais. O alento é que a juventude sempre vai buscar novos caminhos de manifestação - e isso pode eventualmente surgir, ao longo do tempo, como a ineficácia dos modelos de campanha e comunicação política existentes. Mas, por enquanto, apenas a televisão está presente em 99% dos municípios, como um oligopólio. Quando os políticos e os tribunais eleitorais reprimem o exercício da política nos novos meios, apenas reforçam esse oligopólio das televisões e também das rádios. Por isso, além da internet, as rádios comunitárias sofrem tanta restrição. Rádio é um instrumento de custo muito baixo. Quando sua tecnologia apareceu, acreditou-se que, por ser bidirecional, o rádio era a democracia. A repressão aos novos meios, esse conflito setorial entre a telecomunicação e a radiodifusão - isso tudo suscita grandes questões: quem é dono da televisão no celular? Quem usa o celular para fazer programa de televisão? Como se divide o bolo dessas receitas? Essas perguntas são parentes de outras: Quem pode aparecer? Quem pode produzir a própria mídia política?

Causa estranheza que o País e o mundo tenham mudado tanto nas últimas décadas e a maneira como se “vende” o político brasileiro tenha permanecido basicamente a mesma - o mesmo blablablá, o sujeito beijando criancinha e comendo buchada de bode?

No Brasil ocorreram grandes transformações, sempre ligadas à globalização. No século 16, os engenhos de cana de açúcar tinham uma tecnologia totalmente revolucionária. Depois vieram os ciclos do ouro, da borracha, do café, da industrialização. Nos 500 anos em que o Brasil muda com o mundo, certas coisas, porém, não mudam ou mudam muito devagar. Em geral, elas dizem respeito a quem controla a divisão do poder e da riqueza - e, claro, a divisão do espaço onde se é visto e ouvido. Por isso o País é hoje notoriamente desigual e tem um baixíssimo nível de desenvolvimento da informação, da comunicação e da própria cultura. Repetidamente, ocupamos sempre as piores colocações nos rankings relativos à educação. Ao mesmo tempo, não faz parte da nossa pauta exportadora os produtos e serviços intensivos em tecnologia e inovação. Se olharmos para trás, o Brasil é um país que sempre se reinsere nos ciclos mundiais. Mas apenas uma elite se apropria das novas oportunidades. Uma grande maioria fica para trás, sem possibilidade sequer de se auto-educar. Dentro disso, a internet é uma mudança radical. De fato, ela tem um potencial de democratização, no sentido de combinar negócios, tecnologia e cidadania. Mas por enquanto é apenas um potencial e, mesmo em muitas outras partes do mundo, o que se tem constatado é a tentativa de asfixia desse novo meio. No Brasil ocorre um reacionarismo não apenas instrumental, mas também estético e cultural. Quem tem medo da liberdade e da inovação tem medo também de mudar sua própria forma de aparecer. Por isso o político, grande responsável pela manutenção do status quo, vai se falsificando tanto em sua aparência. Por ser reacionário no conteúdo, acaba sendo reacionário também na forma. Assim, apesar de tantas mudanças, nós o vemos do mesmo jeito na televisão. O Legislativo e o Judiciário são os mantenedores desse espetáculo em que os ingressos e o programa estão sob controle restrito.

Se a juventude é afeita à inovação, como o jovem ingressará na política, sendo esse um campo tão refretário às novidades?

Ou esse jovem será herdeiro de algum patrimônio político ou será um sujeito habilitado à manipulação dos ícones. Ele tomará a seguinte decisão: eu não vou cuidar de ações na bolsa, mas vou, por exemplo, trabalhar com a área de vídeo nas campanhas eleitorais - ou farei roteiro de filmes publicitários para candidatos, o que dá uma grana violenta. A produção do espetáculo político atrai muitos jovens, mas somente porque ali tem dinheiro. Claro que sempre haverá o movimento de resistência, de contracultura. No entanto, é sempre preocupante observar as reações a isso. Para evitar o desconhecido, proíbe-se tudo.

Em São Paulo, talvez se esperasse da Soninha, a candidata mais jovem à Prefeitura, uma campanha diferente.

Não tem jeito: o Hommer está lá esperando por ela.

Qual a sua opinião sobre os marqueteiros políticos?

É preciso fazer a distinção entre o agente e o intermediário. Na sociedade em que vivemos, a intermediação faz parte do jogo e a mídia, da realidade. Há algum tempo atrás, não se considerava assim: a realidade era apenas aquilo que era real. O que o novo capitalismo está trazendo é justamente essa faceta híbrida, em que não dá para separar o material do imaterial - e portanto não existe coisa sem a representação dessa coisa, o que sugere a obrigatoriedade da mediação. Não há mal nenhum na atuação de quem faz o inevitável trabalho de mediar. Agora, há o agente que se empenha em criar, preservar ou explorar uma assimetria de informação. Se, no trabalho de mediação, um profissional contribui para aumentar o desnível entre quem está informado e quem não está, ele se coloca a serviço da opacidade e não da comunicação. Este é, em última análise, um preservador da ignorância, alguém que parasita sobre a tecnologia da mediação.

Há marqueteiros que fazem programa de governo.

Isso extrapola totalmente a mediação, para abrigar-se na manipulação das expectativas. Mas é importante perceber que o marqueteiro não age dessa forma por um viés de personalidade ou por uma maldade intrínseca. Ele atende a uma demanda: o candidato não sabe se pentear, precisa de um cabeleireiro; se tem de falar na televisão, precisa de alguém que filme; agora, e se ele não tem nada a dizer? Então tudo isso desaba. Aí, no lugar da mediação, surge esse marqueteiro que redigirá para ele um programa de governo. Esse profissional não passa de um corretor da ignorância. Apesar disso, não temos de pôr a culpa nele. O fato é que o nosso Hommer é bem pior que o Hommer do desenho animado. Aquele é realmente aristotélico. O nosso é muito bárbaro - falta a ele civilidade e cidadania. E o acesso a isso é repetidamente negado.

ENTREVISTA - AUGUSTO CARVALHO


Ana Maria Campos e Samanta SallumDa equipe do Correio
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Novo secretário de Saúde defende a boa relação com os médicos e a terceirização de alguns hospitais

Acostumado a analisar com lupa os gastos públicos, o novo secretário de Saúde do Distrito Federal, Augusto Carvalho, tomou um susto na última sexta-feira, quando precisou assinar um cheque de R$ 1,3 milhão para a compra de medicamentos de alto custo. “Chamem o jurídico”, gritou. Licenciado do quinto mandato parlamentar, ele sabe que será muito cobrado agora que virou vidraça. Não só por isso. O governador José Roberto Arruda depositou nas mãos de Carvalho uma expectativa muito grande de mudanças numa das áreas mais importantes da administração pública, onde não faltam problemas.

Augusto Carvalho sabe que não irá longe sem a ajuda dos profissionais de saúde. Por isso, espera melhorar o relacionamento do governo com os médicos e contratar, por concurso, mais gente. Tem a meta de triplicar as equipes do programa de atendimento básico da família, fazer mutirões para reduzir a fila de 15 mil pessoas que aguardam por uma cirurgia e cortar excessos para investir mais. Ainda ontem, o secretário esteve no Hospital Regional da Asa Sul (Hras), que realizaria uma centena de operações para retirada de hérnias em crianças. O seu plano de trabalho também inclui uma batalha para viabilizar a gestão por meio de entidades sociais de hospitais públicos, a começar por Santa Maria. Ele sabe que o assunto é controverso, mas está disposto a defendê-lo.

No cargo, Carvalho fala agora como gestor e diz que vai deixar o político um pouco de escanteio pelo menos por 19 meses, tempo que programa permanecer na pasta. Entre seus parceiros, ele quer contar com o Ministério Público e o Tribunal de Contas do DF. No primeiro dia de trabalho, o secretário já sentiu a pressão. Recebeu a visita de quatro auditores do Ministério da Saúde escalados para esquadrinhar os contratos de compra de equipamentos para o Hospital de Santa Maria. Augusto Carvalho orientou sua equipe a dar todas as informações necessárias.

Político sai de cena para o gestor

Um bancário, formado em sociologia, pode mudar a saúde em Brasília?

Não há um monopólio dos médicos como profissionais com a competência para lidar com as questões da saúde. O importante é ter sensibilidade e respeito ao ser humano. O nível do tratamento que temos constatado pelo país afora — e em Brasília não é diferente — é indigno da condição humana. E o meu objetivo é poder agregar as forças que na sociedade têm o compromisso de fazer ser respeitado o direito constitucional de todos. É necessário que haja uma consciência de que a pasta da saúde não comporta caixa de campanha, não comporta nenhum tipo de desvio. E precisamos restabelecer a harmonia entre a sociedade e os profissionais da saúde.

O senhor será mais um gestor do que um político?

Até brinco com os meus amigos que, a partir de agora, a dimensão da política será subalterna em termos de o que é hoje a nossa missão. Tenho que me empenhar em fazer todas as alianças possíveis para conseguir melhorias para a qualidade da nossa saúde, independentemente dos partidos.

O senhor tem uma imagem de fiscal dos gastos públicos. A sua gestão será mais cobrada?

Sim, até tenho receio. A expectativa gerada é tão grande que foram poucos os que me criticaram pelo fato de sair do parlamento para assumir essa condição. Nos comentários e nos e-mails que recebo, todo mundo me parabeniza. É um orgulho para mim ter gerado essa expectativa, mas é uma responsabilidade muito grande de estar à altura desta cobrança.

Houve momentos tensos entre o Sindicato dos Médicos e a Secretaria de Saúde. Como melhorar essa relação?

É possível conciliar essas posições que muitas vezes são divergentes. Há 15 mil cirurgias aprovadas, como fazemos isso? Tem que haver um mutirão para enfrentar esse desafio. E um mutirão só se consegue com a adesão de uma categoria. Temos que trabalhar para reconstruir uma relação.

O senhor tem a noção concreta de que assumiu o setor mais crítico do governo?

A situação é dramática, mas o desafio fascina também. Muitos médicos e enfermeiros com quem conversei disseram que posso conseguir e me estimularam. Tenho certeza de que apoio não faltará. E essas contratações de 416 médicos vão ajudar a desafogar, principalmente os anestesistas que serão fundamentais para o mutirão de cirurgias.

Os médicos contratados são temporários ou concursados?

Concursados.

O primeiro ponto que o Ministério Público ataca o senhor já está cumprindo, com relação ao grande número de contratos temporários...

Na verdade nem sou eu, porque essas medidas já estavam em curso. Mas é certo que queremos um trabalho a quatro mãos com o Ministério Público e o Tribunal de Contas, sem medo de revelar as informações, de colocar no site. Fui a São Paulo conhecer experiências bem-sucedidas, vi o hospital de Pedreiras e me perguntei: por que é possível ter um hospital público de qualidade lá em São Paulo? A gestão é que é diferenciada. Lá em São Paulo, 25 hospitais que estão sob esse modelo das organizações sociais. Acho que essa experiência real levou o ministro Temporão a encaminhar ao Congresso um projeto regulamentando a atuação das organizações sociais na gestão de hospitais públicos.

E é o que o governo está tentando fazer com o hospital de Santa Maria, mas o Ministério Público e o Tribunal de Contas têm colocado objeções...

Não vamos entrar nessa polêmica. Vi com os meus próprios olhos que é possível ser menos oneroso para o Estado. Se existe o Sarah aqui do nosso lado que é modelo para o mundo, é possível ter um acolhimento ao cidadão onde o respeito com que ele é tratado é a marca.

Então a gestão dos hospitais por meio das organizações sociais é um ponto pelo qual o senhor já definiu que vai brigar nos próximos meses?

Sou de uma matriz ideológica conhecida. Temos essa visão de entender que o Estado assegure ao cidadão a saúde pública de qualidade. Mas a gestão não precisa ser necessariamente do Estado, na medida em que você tem hoje uma exaustão dos recursos públicos e que se pode, dentro de normas, ouvindo a opinião dos órgãos fiscalizadores, ter um trabalho com resultados. Nós mudamos aquela visão de desapropriação dos meios de produção até porque o mundo mudou bastante.

Muito se fala que há um interesse de sucateamento dos hospitais públicos para transferência dos pacientes da rede pública aos hospitais privados. Qual é a sua avaliação sobre esse cenário?

Não se poderia ter chegado a esse estado de degradação da qualidade do atendimento, da falta de leitos de UTI que por decisão judicial ou por qualquer outro motivo acaba sendo transferido para a iniciativa privada. Mas temos que admitir que em Brasília houve uma explosão do crescimento demográfico e uma política irresponsável de atração de fluxos migratórios e de distribuição de lotes que levaram a uma pressão violenta sobre os equipamentos públicos e o incremento dos recursos repassados à saúde foi incompatível.

Como reduzir as filas nos hospitais?

Temos hoje o Hospital de Base, de tratamento de alta complexidade, com profissionais altamente qualificados e com equipamentos de última geração, que atende pacientes que não precisariam estar ali. Temos hoje a inversão da pirâmide do tratamento da saúde e nós temos o caos instalado. Vamos procurar fortalecer o atendimento básico da saúde para resgatar a credibilidade dessa estrutura e num segundo momento também os postos de saúde que precisam ser ampliados na sua capacidade de atendimento. A hora de trabalho de um médico do Hospital de Base é infinitamente superior ao que deveria ser a hora de trabalho do médico do posto de saúde. É preciso completar as equipes do atendimento básico da família. Hoje temos 70 equipes, mas só são consideradas completas 40 e, portanto, qualificadas para receber recursos do Ministério da Saúde. Então tem que contratar mais profissionais. Tem que ser ampliado. O ideal seriam 300 equipes.

Qual a sua meta?

Vamos considerar 150, pois é pouco tempo que eu vou ter. --> --> -->

ENVIO DE REFORÇO FOI ANTECIPADO PARA BARRAR CURRAIS

DEU EM O GLOBO

Batalhões da PM pedem mudança de zonas

Os presidentes do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Carlos Ayres Britto, e do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, Roberto Wider, decidiram antecipar a vinda das tropas federais para tentar frear o poder de voto dos currais eleitorais.

- Queremos evitar as distorções que aconteceram na eleição passada. A idéia é trabalhar com bastante antecipação, inicialmente nas 20 áreas mais sensíveis, segundo o relatório que temos - diz Wider.

Segundo o presidente do TRE, as tropas deverão chegar nos próximos dias:

- Nós vamos trabalhar fortemente em três áreas. A primeira, com campanhas de esclarecimento para o eleitor. Outra área de atuação é o reforço do policiamento para garantir o direito de ir e vir. Por último, os candidatos que possam vir a ser beneficiados por esses grupos poderão perder suas candidaturas. Não haverá impunidade.

Na cidade, as tropas federais deverão reforçar o policiamento nos morros da Rocinha e do Vidigal, na Zona Sul, e nos complexos da Maré, Alemão e da Penha (principalmente na Vila Cruzeiro), Zona Norte. As tropas também devem ir para as favelas de Rio das Pedras, em Jacarepaguá; Coréia, Sapo e Taquaral, em Senador Camará; Batan, em Realengo, e Carobinha, Barbante e Vilar Carioca, em Campo Grande, todas na Zona Oeste. Já em Seropédica, o policiamento será reforçado porque o local é braço da milícia do vereador Jerominho, onde Natalino, o irmão dele, pretendia concorrer à prefeitura.

Policiais consideram efetivo insuficiente para pleito

Ainda para garantir a segurança no dia das eleições, segundo fontes da Polícia Militar, batalhões da Zona Oeste da cidade estão consultando os juízes das zonas eleitorais sobre a possibilidade de mudar locais de votação em comunidades dominadas por traficantes. A idéia é transferir essas seções para escolas fora das favelas. A transferência seria uma maneira de distribuir melhor o efetivo da PM, considerado pelos policiais insuficiente para cobrir o pleito.

Segundo policiais, em algumas áreas dominadas pelo tráfico, como a Favela do Taquaral, para que a votação ocorra com tranqüilidade seria necessária a presença de 20 policiais militares em apenas uma escola onde há urnas. O comandante do 14º BPM (Bangu), coronel Pedro Paulo da Silva, negou as informações. Ele garante que não tem problemas com efetivo.

Para o pesquisador de Assuntos Militares, Expedito Carlos Stephani Bastos, o envio de tropas federais para garantir a segurança das eleições municipais é uma solução paliativa. Ele lembrou que depois da saída das tropas as comunidades vão voltar para o domínio de milicianos e traficantes:

- Deslocar as tropas para as eleições é pura pirotecnia.

TROPAS FEDERAIS VÃO SE CONCENTRAR NA ZONA OESTE

Elenilce Bottari e Waleska Borges
DEU EM O GLOBO


TRE do Rio deve mudar endereço de votação em comunidades da região, que foi palco de chacina atribuída a milicianos

A maior parte do efetivo das Forças Armadas que vai reforçar a segurança durante o período eleitoral na Região Metropolitana do Rio deverá ficar na Zona Oeste, onde aumentou a tensão entre eleitores depois que sete pessoas foram assassinadas na Favela do Barbante, em Campo Grande. A polícia acusa o ex-PM Luciano Guinâncio Guimarães, filho do vereador Jerominho e sobrinho do deputado Natalino, de ter participado da chacina. Os dois políticos, que estão presos, são acusados de comandar a milícia que domina cerca de 20 comunidades na região.

A preocupação com a violência levou o TRE-RJ a mudar o endereço de votação nas comunidades do Sapo e Taquaral, em Senador Camará, ambas sob o controle de traficantes. Em Taquaral, as seções da Escola Municipal Austregésilo de Athayde, que fica no meio da favela, foram transferidas para a Escola Municipal Sampaio Correa, na Rua Ubatã. O TRE-RJ estuda ainda a mudança de outros endereços. O Disque-Denúncia informou que, desde janeiro, recebeu 63 informações do envolvimento do tráfico com as eleições e 49 sobre a milícia.

O mapeamento inicial feito pelo TRE-RJ com base em denúncias e no trabalho da Fiscalização da Propaganda Eleitoral, que foi enviado ao presidente do TSE, Carlos Ayres Britto, inclui, além do Rio, os municípios de São Gonçalo, Itaguaí, Seropédica, Caxias e Campos dos Goytacazes. Já no anúncio feito por ele e pelo presidente do TRE-RJ, Roberto Wider, em Brasília, constam ainda Niterói, Nova Iguaçu e Nilópolis. Sem revelar nomes, Wider, afirmou que outros municípios poderão ser incluídos no mapeamento:

- O objetivo não é usar a força, porque isso sempre gera confrontos indesejáveis.