terça-feira, 30 de setembro de 2008

A onda Gabeira


Gabeira volta ao Méier

Um dos bairros mais importantes da Zona Norte da cidade, o Méier recebeu nesta segunda-feira mais uma visita de Fernando Gabeira e Luiz Paulo. Desta vez a tônica foi segurança e saúde, dois temas que preocupam bastante os moradores da região. Gabeira recebeu apelos para cuidar das calçadas, da saúde da terceira idade e até mesmo pleitos impossíveis, como devolver o adicional insalubridade aos aposentados. Isso mostra como a população está carente de políticos sérios que realmente estejam preocupados com ela, e não com seus projetos pessoais. A onda Gabeira segue firme…


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Guerra contra números no Rio

Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Na disputa por vaga no segundo turno, Gabeira afirma que o Ibope estaria manipulando margem de erro de pesquisas. Diretor do instituto atribui as declarações ao nervosismo da reta final da campanha

Depois de Jandira Feghali e do prefeito Cesar Maia, agora é o deputado Fernando Gabeira (PV) que contesta as pesquisas do Ibope sobre as eleições no Rio de Janeiro. Segundo ele, o instituto estaria manipulando a margem de erro dos levantamentos para favorecer o candidato do PMDB, Eduardo Paes. Curiosamente, o ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), contrariado por causa das pesquisas realizadas pelo instituto em Salvador, apóia Gabeira. “Nós vamos pedir uma auditoria nas pesquisas do Ibope”, dispara Geddel.

Gabeira cresceu nas últimas pesquisas e ameaça o segundo colocado, o senador Marcelo Crivella (PRB). Contratado pelo jornal Estado de São Paulo e pela TV Globo, o Ibope atribui 10% das intenções de voto a Gabeira, 14 pontos atrás do senador Marcelo Crivella (PRB), com 24%. O Datafolha , em sua última pesquisa, mostra um empate técnico: o bispo licenciado da Igreja Universal com 18% e o candidato do PV com 15%. Jandira Feghali está com 13%, tecnicamente empatada com o candidato verde.

“O Ibope estava a serviço do PMDB. Eles têm contrato com o PMDB no estado inteiro. As pesquisas deles, no meu entender, não têm credibilidade. As pesquisas a que eu dou mais credibilidade são a do Datafolha e a do GPP, onde a situação é muito parecida”, acusa Gabeira. O prefeito Cesar Maia, cuja candidata Solange Amaral (DEM) não decolou, renova as críticas no seu ex-Blog: “Há um mês que Crivella não tem nem 20% das intenções de voto, que dirá os 24% que esse instituto divulgou no sábado. Um erro deste tamanho exige que o próprio Ibope faça uma auditoria interna em seus sistemas e processos”.

Invasão

Maia, porém, não acusa o instituto de manipulação política. Acredita que os computadores do Ibope foram invadidos. “ O que explica tamanha discrepância? Este ex-Blog vem sugerir um rastreamento em seus sistemas, pois o mais provável é que um hacker esteja trocando os códigos de Crivella, com outro candidato que tenha mais votos onde Crivella tem menos. Uma ação dessas, de um hacker experimentado, seria muito difícil de ser detectada”, sugere. O diretor-presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, atribui as críticas ao nervosismo dos candidatos à véspera da eleição. “O Ibope faz essa pesquisa há 60 anos”, argunta Montenegro.


Paes é favorito para o dia 5


O candidato Eduardo Paes (PMDB), com 29% tanto no Ibope quanto no Datafolha, está praticamente garantido no segundo turno. A segunda vaga é que estaria indefinida. É por isso que o clima da campanha esquentou. Marcelo Crivella (PRB), porém, não está interessado na polêmica. “A melhor pesquisa é o carinho que tenho recebido do povo nas ruas.” Apoiado discretamente pelo presidente Lula, está confiante de que irá ao segundo turno.

A pesquisa do Ibope tem margem de erro de 3% para mais ou para menos. Paes pode ter entre 26% e 32% e Crivella, entre 21% e 27%. O peemedebista oscilou positivamente dois pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, quando tinha 27%. Crivella oscilou positivamente um ponto (tinha 23%). O candidato Fernando Gabeira subiu quatro pontos percentuais, de 6% para 10%. Jandira Feghali manteve 9%. Solange Amaral oscilou negativamente de 5% para 3%. Alessandro Molon (PT) oscilou de 4% para 2%. Chico Alencar (PSol) passou de 1% para 2%. Paulo Ramos (PDT) permanece com 1%.

Filipe Pereira (PSC), Vinicius Cordeiro (PTdoB) e Eduardo Serra (PCB) não alcançaram 1% das intenções de voto. Antonio Carlos (PCO) não foi mencionado por nenhum dos entrevistados.

Dos eleitores entrevistados, 9% informaram que pretendem votar em branco ou nulo, 10% disseram que não sabem em quem votar ou não opinaram. O Ibope entrevistou 1.204 eleitores de 23 a 25 de setembro na capital fluminense. O levantamento está registrado na 228ª Zona Eleitoral do Rio de Janeiro com o número 38/08.

Empate

Também divulgada no sábado pelo jornal Folha de S.Paulo, a pesquisa DataFolha mostra Paes com 29% contra 18% de Crivella, tecnicamente empatado com Fernando Gabeira (15%), que cresceu quatro pontos. Jandira Feghali manteve os 13% da pesquisa anterior. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Isso significa que Paes pode ter entre 26% e 32%; Crivella, entre 15% e 21%; Gabeira, entre 12% e 18%; e Jandira, entre 10% e 16%. O Datafolha ouviu 1.184 pessoas na cidade do Rio de Janeiro entre as últimas quinta (25) e sexta (26). O levantamento recebeu da Justiça Eleitoral o registro RPE 35/2008.

Manifesto contra Crivella

A Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) divulgou manifesto pedindo aos cidadãos do Rio de Janeiro para que não votem no senador Marcelo Crivella (PRB) nas eleições municipais do próximo domingo. Segundo a entidade, o senador é homofóbico e “não respeita a Constituição Federal, nos princípios da igualdade e da não-discriminação”.

No manifesto, segundo a Agência Estado, a ABGLT cita declarações e ações nas quais o senador teria demonstrado sua homofobia. A principal delas seria sua oposição à aprovação do Projeto de Lei 122 (em tramitação no Congresso desde 2006), cujo propósito é caracterizar como crime qualquer tipo de discriminação contra minorias sexuais. Em artigo publicado no Jornal do Brasil, no ano passado, o senador classificou o projeto como “perigo para as famílias brasileiras” e convocou manifestações contra sua aprovação.

Em entrevista a outro jornal do Rio, O Globo, o senador classificou como “excrescência” o projeto de lei. “Ninguém pode ter neste país a obrigação de concordar que não se pode criticar o homossexualismo”, afirmou. O senador é bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e primo do empresário Edir Macedo, fundador e líder da denominação evangélica.

Essa não é a primeira vez que o candidato enfrenta críticas de fundamentalismo religioso. Em todas as vezes ele tem prometido não confundir o seu papel de prefeito com o de líder religioso. Durante a sabatina realizada pelo Estado, Crivella também prometeu não levar integrantes da Igreja Universal para o governo. “O Rio não precisa de líder religioso, de guerra religiosa”, afirmou.

Lista

A ABGLT também divulgou ontem uma lista atualizada de 200 candidatos a prefeito considerados “favoráveis à promoção da cidadania de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais em todo o Brasil”. De acordo com a lista, feita a partir de informações fornecidas por 203 organizações afiliadas à associação, o partido com mais candidatos simpáticos à causa é o PT (64), seguido pelo PSol (26), PCdoB (19), PV (15) e PR (11). Na divisão por estados, São Paulo lidera com 32 candidatos. Em seguida aparece a Bahia, com 29.

Conversa de mudos


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A pesquisa CNT/Ibope de ontem registra dois fatos já sabidos, ambos importantes, mas de naturezas contrastantes.

Aos fatos: a avaliação positiva do presidente Luiz Inácio da Silva que aumenta sem parar e a percepção negativa sobre a atuação do poder público no tocante à segurança pública, também em escalada crescente.

Ao contraste: enquanto a popularidade de Lula bate na casa dos 80% entre outros motivos porque o presidente encontrou um jeito eficiente de falar com o cidadão, quando o assunto é segurança nem ele consegue estabelecer um diálogo minimamente coerente entre Estado e sociedade.

De acordo com a pesquisa, 53% avaliam o setor de forma negativa; eram 44% em março último.Talvez seja a única área em que, na visão popular, Lula perde para o antecessor: 46% acham que a atuação do governo piorou nos últimos dez anos.

Os índices, porém, não resultam em mérito para Fernando Henrique Cardoso. São, antes, reflexo da inércia dos dois governos no setor. Como FH nada fez e Lula também não, a passagem do tempo só fez acumular o estoque da inépcia.

Um cenário que não se resume ao marasmo do poder público de um lado e à energia do crime, de outro. Não há ação e também não há discurso.

Nenhum dos governos pós-redemocratização conseguiu encontrar termos razoáveis para se entender a respeito com a população.

Desejo certamente não faltou a nenhum deles. Consciência sobre a gravidade do problema, tampouco. Ambos já fizeram autocrítica em público sobre as respectivas falhas no combate à criminalidade, mas não evoluíram um milímetro na prática: não conseguiram construir um consenso entre a demanda da população - cuja urgência privilegia soluções de violência - e a oferta de propostas apresentadas por seus especialistas, cujas convicções doutrinárias indicam o caminho oposto.

Na impossibilidade de um acordo - por incapacidade dos governos de entrar no tema com coragem até para contrariar o senso comum - fica o Estado de um lado e a sociedade de outro, cada um falando uma linguagem diferente.

Não se trata de uma suposição, está na pesquisa: 81% das pessoas são favoráveis ao uso das Forças Armadas no combate ao crime; 80% aprovam a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos de idade; 64% são favoráveis à prisão perpétua e 43% aprovam a pena de morte.

O cardápio não poderia ser mais divergente da realidade e do pensamento preponderantes no mundo oficial: as Forças Armadas não apenas se recusam como não são preparadas nem autorizadas pela Constituição a fazer o papel de polícia; a posição do governo é contrária à redução da maioridade penal; como também não há no Estado quem reconheça eficácia na prisão perpétua ou na pena de morte para aumentar o grau de segurança do cidadão.

Um quadro de apartamento por enquanto fadado a ficar como está. A despeito da importância, da posição prioritária entre as preocupações registradas nas pesquisas e da óbvia urgência por alguma solução, a segurança pública não entrou até agora no rol dos temas prediletos de nenhum dos postulantes à sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva.

Oficialmente

Pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios sobre as variáveis que têm levado prefeitos a serem reeleitos aponta dois fatores preponderantes: a eficácia da primeira gestão e a proximidade política com o governador do Estado.

A boa notícia é que o instituto da reeleição anima o prefeito a investir na eficiência administrativa. A má é que o peso do governismo na obtenção do segundo mandato desestimula o exercício da oposição.

Dois senhores

A acusação do deputado e candidato a prefeito do Rio, Fernando Gabeira (PV/PSDB), de que o Ibope manipula os índices de pesquisa para favorecer o PMDB porque o partido tem contrato de prestação de serviços com o instituto, ainda carece de comprovação, mas ressuscita uma velha questão.

É correto os institutos responsáveis pelas pesquisas que acabam orientando o rumo das campanhas - quando não influenciando diretamente o resultado das eleições - poderem fazer o mesmo tipo de trabalho para partidos e candidatos?

Hoje não há impedimento legal nessa duplicidade. Nada obriga os institutos a tratar seus clientes de modo diferente, tanto faz se são “neutros” ou se estão diretamente envolvidos nas disputas eleitorais.

O fato de servirem a dois gêneros de interesses - opostos, na essência - não os torna suspeitos por definição. Mas também não contribui para deixá-los totalmente imune a desconfianças, como seria o ideal. Na dúvida, a separação formal da clientela acabaria por princípio com quaisquer objeções, mesmo hipotéticas.

Apesar disso, fracassaram as várias tentativas de se incluir na legislação eleitoral algum tipo de regra nessa área.

A revolta dos conservadores


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

NOVA YORK. A reação da base republicana da Câmara, que votou majoritariamente, na proporção de dois para um, contra o pacote econômico que havia sido negociado pelas lideranças dos dois partidos no Congresso e o governo americano, reflete uma disputa dos conservadores que tentam manter seus mandatos na eleição de novembro diante da perspectiva de que os democratas aumentem ainda mais sua maioria nas duas Casas. Essa disputa reflete uma sensação, dentro do Partido Republicano, de que a escolha de McCain como seu candidato à Presidência da República representa uma liberalização dos princípios conservadores.

Por isso a escolha de Sarah Palin como candidata a vice animou tanto as bases partidárias, não na parte econômica, mas na dos valores morais e religiosos. A posição de McCain em relação à economia não tem sido tão ortodoxa quanto exige a base partidária, e foi atendendo a essa pressão que ele interveio nas negociações da semana passada, atrasando o acordo que já havia sido alcançado entre as lideranças dos dois partidos no Congresso.

McCain, no entanto, sempre foi mais prudente nas discussões do pacote econômico do que os deputados do partido, que assumiram posições mais radicais, inclusive na reunião da Casa Branca, na presença do presidente George Bush. Naquela ocasião, McCain ficou em cima do muro, sem se comprometer com o pacote, mas também sendo vago nas suas críticas.

Mesmo assim, tentou tirar proveito político da situação, para aparecer como a liderança que chegou a Washington para mudar o consenso estabelecido e incluir regras no pacote de defesa do contribuinte. O problema é que McCain, diante da crise sistêmica instalada no mercado financeiro, estava menos convicto da necessidade de aplicar na prática a teoria do livre mercado do que a maioria dos deputados da base republicana.

O que ele queria mesmo era aprovar um pacote que fosse atribuído à sua intervenção. Para os republicanos que estão com seus mandatos ameaçados, no entanto, a única saída é defender os princípios ortodoxos do conservadorismo, especialmente quando as pesquisas de opinião indicam que nada menos que 70% dos americanos são contra o pacote, percebendo-o como uma proteção do governo aos banqueiros.

O radicalismo entre os conservadores está tão acentuado que até mesmo Bush está sendo acusado de "socialista", e não apenas pela intervenção de US$700 bilhões no mercado financeiro. Ele está recebendo críticas pelo déficit público que só faz aumentar, o que indicaria que, ao contrário do credo no "governo mínimo", ele estaria colocando em prática um governo grande e intervencionista.

Não apenas na economia, mas na segurança nacional, com o Patriotic Act, e em outros setores do governo, como na educação e na saúde. Há quem diga que o ex-presidente democrata Bill Clinton teve um governo mais próximo dos conservadores, com o equilíbrio das contas públicas e a desregulamentação do mercado financeiro, do que o próprio Bush.

Em 1995, o Congresso aprovou uma lei que impede os investidores de processar as empresas por propaganda enganosa, o que se considera um passo fundamental para o estabelecimento de um clima de impunidade que dominou o mercado nos últimos anos. De fato, foi ainda no governo Clinton que caiu o último obstáculo legal contra a ampliação dos poderes dos bancos, permitindo que eles assumissem os riscos financeiros que estavam proibidos desde a Grande Recessão, com a lei Glass-Steagall, de 1933.

Apoiada pelo ex- secretário de Tesouro Carter Glass, considerado o "pai" do Banco Central americano, e por Henry Steagall, ambos democratas, essa lei surgiu em resposta ao entendimento de que fora a especulação descontrolada dos bancos que levara à quebra da Bolsa de Nova York em 1929, que gerou a Grande Depressão.

Foi estabelecida então, através de regulamentação legal, a separação entre bancos de investimento e bancos comerciais, derrubada 66 anos e muitas tentativas depois, em 1999, com a aprovação da lei de modernização dos serviços financeiros. Conhecida como Gramm-Leach-Bliley, foi aprovada com a argumentação de que o mercado financeiro americano necessitava se modernizar para competir com outros bancos europeus e japoneses. Uma das atuações mais fortes a favor da lei foi do Citigroup, que havia acabado de comprar a companhia de seguros Travelers, e precisava de uma mudança na legislação.

O Centro de Política Conseqüente, uma ONG sem ligações partidárias, fez um levantamento da votação da lei, que foi aprovada por ampla maioria dos dois partidos nas duas Casas, e constatou que os que votaram a favor da desregulamentação ganharam duas vezes mais suporte financeiro para suas campanhas do que os que se colocaram contra a legislação.

Mas é uma injustiça com o Bush acusá-lo de intervencionista, já que foi já em seu governo, no ano 2000, e comandado pelo então senador Phil Gramn, que viria a ser o principal assessor econômico da candidatura McCain, que foi aprovada uma lei que excluiu os derivativos da regulamentação de 1936.

O fato é que a crise que está assustando o mercado financeiro e terá conseqüências ainda imprevisíveis na economia do dia a dia do cidadão americano médio, embora ainda não pressentida em sua totalidade, está fazendo com que os fundamentos básicos que separam os dois principais partidos fiquem explícitos.

Isso pode ajudar deputados americanos a salvarem seus mandatos com a votação distrital, o que explica que o Senado esteja mais a favor do pacote que a Câmara. Mas é prejudicial para John McCain.

O tamanho do aperto


Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Primeiro, Lula disse que a crise americana era "quase imperceptível no Brasil". Passados uns dias, falou que o Brasil estava "muito tranqüilo para enfrentar a situação". Agora, já muda a agenda e o tom, admitindo "algum aperto", apesar de "muito pequeno".

E ele falou isso antes que a bomba explodisse e os estilhaços chegassem ao Brasil. O Congresso dos EUA deu de ombros ao pacote anticrise de Bush -como, de resto, os congressos costumam desdenhar pacotes, programas ou projetos de presidentes em fim de mandato.

Ainda mais de um como Bush. As Bolsas entraram em queda livre. A de São Paulo se esborrachou, e o dólar deu um salto de 6%. O "aperto" chegou. Não é "imperceptível", certamente não será "muito pequeno", ninguém mais está "tranqüilo". E o que mais assusta é que nem governo, nem empresas, nem economistas de qualquer tendência conseguem projetar o que vem por aí.

Henrique Meirelles, aliás, reagiu menos como presidente do Banco Central e mais como cidadão curioso, perplexo e, sobretudo, impotente. Ao saber das novidades, declarou: "Acabamos de ter mais uma surpresa". E se gabou: "Fizemos bem em não fazer previsões!".

Ficamos assim: o presidente da República não tem dimensão do que está acontecendo, o do BC nem sequer traça cenários, o ministro da Fazenda convoca reuniões para dividir prejuízos e o do Planejamento fala, fala e não diz nada.

Nessa barafunda, o repórter Gustavo Patu, da Folha, tentou tranqüilizar quem aplica em ações: "Quando a Bolsa cai, os imóveis sobem, fica um pelo outro". Quem não tem imóveis? Bem, é arrancar os cabelos e conviver com a ladainha da "paciência, daqui a dois anos fica tudo uma maravilha de novo".

E o pior não é para quem tem (aplicações e imóveis), é para quem não tem. A perspectiva é de menos crescimento, emprego e renda. Um aperto daqueles.

PT e PSDB são aliados em mais de 1.000 municípios

Fernanda Odilla e Alan Gripp
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Dobradinha PT-DEM registra o maior crescimento em relação a 2004, 41,9%

Na eleição municipal, petistas estão aliados com PSDB, DEM e PPS, partidos de oposição a Lula, em 41,2% das 5.563 cidades

O PT marcha de mãos dadas com ao menos um dos três partidos de oposição ao governo Lula (PSDB, DEM e PPS) em 41,2% dos municípios do Brasil -2.292 das 5.563 cidades. O número é 13,9% maior do que em 2004, uma prova de que o tensionamento da política federal vem sendo deixado de lado em nome de questões locais.

A Folha analisou todas as 30.847 coligações válidas, registradas no Tribunal Superior Eleitoral em 2008 e 2004.

As alianças que unem as quatro legendas numa única chapa subiram 36% em relação às eleições anteriores, passando de 89 para 121 neste ano.

A dobradinha PT-DEM, impensada em nível nacional, foi a que registrou maior crescimento em relação à eleição passada: 41,9%. Em 2004, os partidos estiveram juntos em 674 cidades. Agora, são 957.

Com o PSDB, possivelmente o maior rival na campanha da sucessão de Lula, o PT selou 1.095 alianças -20,9% a mais do que há quatro anos (905).

Com o PPS, satélite democrata-tucano, as parcerias ficaram no mesmo patamar -de 1.105 para 1.129 (a maior das alianças entre PT e pelo menos um dos partidos da oposição em números absolutos). O dado novo é que ela acontece em quatro capitais: Manaus (AM), João Pessoa (PB) e Palmas (TO), além de Aracaju (SE).

As alianças em que o pragmatismo local prevaleceu sobre a política nacional não ocorreram apenas em cidades minúsculas e longe de Brasília.

As quatro siglas estão unidas, por exemplo, em municípios como São João de Meriti (RJ), com 462 mil habitantes, e São Vicente (SP), com 323 mil.

Entre os acertos formais, o mais significativo ocorreu em Aracaju. Lá, ao contrário de Belo Horizonte -onde o PT bateu pé, obrigando o prefeito Fernando Pimentel (PT) e o governador Aécio Neves (PSDB) a formarem uma aliança branca em torno da candidatura de Márcio Lacerda (PSB)-, o casamento é de papel passado.

Na capital sergipana, o comunista Edvaldo Nogueira tenta novo mandato com o apoio de petistas, tucanos e também do PPS.

Há casos em que o PT se uniu à oposição para reassumir o comando da prefeitura. Em Paraty (RJ), o petista Carlos José Gama Miranda, o Casé, encabeça a chapa formada por PSDB, DEM e PPS e outras quatro legendas para tentar impedir a reeleição do prefeito José Carlos Porto Neto (PTB).

E há ainda municípios em que o PT se aliou à oposição para manter outra força política na prefeitura, como em Campinas. Na última eleição, Dr. Hélio (PDT) se elegeu prefeito somente com o apoio do PMDB e do DEM. Este ano, a chapa ganhou mais nove partidos, entre eles o PT e o PC do B. "As questões ideológicas permanecem, mas os embates não invadiram a administração", disse Hélio.

A "trégua" entre PT e oposição ocorreu principalmente no Paraná e em Minas Gerais. No primeiro Estado, os petistas estão juntos com os três partidos de oposição em 19 municípios. Em São Paulo,as dobradinhas PT-DEM saltaram de 79 para 119, aumento de 51%. Em Minas, petistas e democratas também se aproximaram. Hoje, estão juntos em 175 coligações ante as 143 de 2004.

"O PT passou a existir em municípios em que não estava presente, o que facilitou novas alianças. Mas sempre em torno de questões locais", disse o senador Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB. Para Guerra, PT e PSDB são mais fortes juntos. "A tendência é crescer mais", avaliou. Em 2004, petistas e tucanos elegeram 54% dos candidatos apoiados pelas duas siglas.Em Nova Iguaçu (RJ), a chapa que elegeu Lindberg Farias (PT) em 2004 contava com PSDB e DEM. Os tucanos abandonaram a coligação este ano, mas os democratas permaneceram.


Casa de ferreiro, espeto de pau


Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO

Mestre-de-obras da mais controversa aliança eleitoral de 2008, o governador tucano Aécio Neves firmou uma vitoriosa parceria com o PT, segundo até agora indicam as pesquisas de opinião, mas não foi igualmente bem sucedido na armação dos palanques de seu partido, o PSDB.

Um levantamento do desempenho eleitoral dos partidos nas 12 mais populosas cidades mineiras indica que o PSDB, por enquanto, só tem uma eleição bem encaminhada - a de Sete Lagoas, município com 221 mil habitantes situado na região metropolitana de Belo Horizonte.

O candidato em Sete Lagoas atende pelo nome de Maroca, esteve perto de ganhar em 2004 e o seu maior trunfo é ser candidato do senador Eduardo Azeredo, que assim demonstra força em um de seus principais redutos eleitorais. É a maior cidade de Minas onde o PSDB se julga virtualmente assegurado .

Os tucanos também lideram no município industrial de Contagem, segundo pesquisas realizadas no início de setembro, mas seguido de perto pelo PT, que tem grandes chances de manter a prefeitura local. O candidato Ademir Lucas vem perdendo terreno e a eleição deve ir para o segundo turno.

Com mais de 700 mil habitantes, Contagem poderia ser uma jóia na coroa do PSDB. Aparentemente, ao contrário do que se poderia esperar, não deve ser Aécio Neves o fiel da balança na eleição do município, mas o ex-governador Newton Cardoso, que é do PMDB e tem força política na região.

O PMDB, na realidade, deverá ser o grande vitorioso nas eleições de 2008 nas grandes cidades de Minas Gerais.

Um levantamento do PT indica que o partido tem boas chances de eleger os prefeitos de Ipatinga (238 mil habitantes), Uberaba (292 mil habitantes), Divinópolis (213 mil habitantes) e Montes Claros (358 mil habitantes).

Além de o prefeito Fernando Pimentel ser sócio de uma provável vitória em Belo Horizonte e Contagem, o PT também conta com um bom resultado em Juiz de Fora (mais de meio milhão de habitantes). A candidata é Margarida Salomão, ex-reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora, que cresce nas pesquisas de opinião na mesma medida em que desabam os candidatos do PSDB e do PMDB.

"Para o PSDB e o governador de Minas trata-se de uma posição vexatória o terceiro lugar nas pesquisas do ex-líder na Câmara, deputado Custódio de Matos. Em segundo, tecnicamente empatado, está o ex-deputado Tarcísio Delgado, eterno candidato do ex-presidente Itamar Franco. Ele deve apoiar Margarida na segunda rodada, se Custódio for o adversário".

Outra disputa da qual o PSDB está fora é a de Betim, um distrito industrial onde tucanos e petistas travam há décadas uma renhida disputa. O favorito das pesquisas é Rômulo Veneroso, do PV mas com o apoio do governador Aécio Neves. O PT tenta pela terceira vez reconquistar o posto, que foi seu no início dos anos 90 com a deputada Maria do Carmo Lara.

A eleição em Betim, uma zona industrial, reflete o racha do PT mineiro por causa do acordo de BH: o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e o prefeito Fernando Pimentel foram em dias alternados à cidade, para declarar apoio à petista.

Há uma outra derrota indigesta no horizonte do PSDB, em Uberaba (292 mil habitantes), onde o ex-ministro dos Transportes, Anderson Adauto, bate com folga o candidato tucano Fahim Sawan e deve se reeleger, apesar de seu envolvimento no escândalo do mensalão.

Quem se queixa do insucesso do PSDB em Minas Gerais é o PSDB. O governador Aécio Neves, que montou uma ampla base de apoio, acredita que sairá pessoalmente vitorioso. É possível. Para se ter uma idéia, a aliança PT-PSDB que teve em Aécio o principal mentor, que não pode ser oficializada em Belo Horizonte, está reproduzida em 164 municípios menores.

Um bom exemplo do estilo Aécio é a eleição de Uberlândia, no Triângulo Mineiro (mais de 600 mil habitantes). O candidato favorito à reeleição é o ex-deputado Odelmo Leão, do PP, um aliado do governador do Estado.

O acerto mineiro se mostra bom negócio para Aécio e Pimentel, mas ruim para o PSDB e parte do PT, que se prepara para um ajuste de contas em 2010. É cada vez mais um acerto local, com poucas possibilidade de transpor as montanhas de Minas.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras