quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Na onda Gabeira é Stepan vereador



Estamos na reta final das eleições. Para prefeito já optei, faz tempo, pela onda Gabeira, nº 43.


Mas é preciso lembrar a necessidade de eleger uma boa bancada de vereadores, ética, democrática, independente da filiação partidária.


Entre os vários candidatos minha opção de voto é para Stepan Nercessian, nº 23123.

A onda Gabeira: Eleições 2008 / Rio de Janeiro: Crivella e Gabeira disputam vaga no 2º turno


DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Paes lidera com 29%; Gabeira cresce seis pontos em duas semanas e chega a 17%; Crivella oscila para um ponto para cima e vai a 19%


Em simulações de 2º turno, candidato peemedebista vence adversários de PRB, PC do B e PV; disputa mais apertada é contra Jandira

Às vésperas do fim da campanha pela Prefeitura do Rio, pesquisa Datafolha mostra o candidato do PMDB, Eduardo Paes, na liderança com 29% das intenções de voto -dez pontos a mais que o adversário mais próximo- e registra um acirramento na disputa por uma vaga no segundo turno contra ele.

Marcelo Crivella (PRB) oscilou positivamente um ponto, atingindo 19%, contra 17% de Fernando Gabeira (PV), que oscilou positivamente dois pontos em relação à pesquisa anterior, acumulando crescimento de seis pontos nas duas últimas semanas. Jandira Feghali (PC do B) oscilou negativamente um ponto, passando de 13% para 12% dos votos.

Como a margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, Crivella pode ter entre 16% e 22%, Gabeira, entre 14% e 20%, e Jandira, entre 9% e 15%. Assim, o candidato do PRB está tecnicamente empatado com o do PV, que está tecnicamente empatado com a candidata do PC do B, mas Jandira não tem chances estatísticas de estar no mesmo patamar de Crivella.

Em um bloco bem mais abaixo, aparecem Solange Amaral (DEM) com 5%, Alessandro Molon (PT) com 4%, Chico Alencar (PSOL), 2%, e Paulo Ramos (PDT), 1%. Os demais postulantes à prefeitura obtiveram menos de 1% das menções dos entrevistados.

Nas três simulações de segundo turno em que está envolvido, Eduardo Paes lidera. Pela primeira vez, o Datafolha realizou uma simulação entre os candidatos do PMDB e do PV. Paes venceria Gabeira por 53% a 33%, uma diferença de 20 pontos percentuais. O confronto mais apertado na simulação de segundo turno seria contra Jandira, com uma vantagem do peemedebista de 14 pontos (51% a 37%). Na disputa contra Crivella, Paes vence por 58% a 29%, diferença de 29 pontos.

Considerando-se apenas os votos válidos (quando são retirados da conta os votos em branco ou nulo), Paes tem 33%, Crivella, 21%, Gabeira, 19% e Jandira, 13%. A divulgação oficial dos resultados eleitorais é feita por meio de votos válidos.

Entre o eleitorado de maior renda, Gabeira disparou em primeiro, com 14 pontos à frente de Paes. O candidato do PV atinge 41% dos votos contra 27% do peemedebista. Nessa faixa, com eleitores com renda superior a dez salários mínimos, Jandira tem 13% e Crivella, apenas 4%. Na faixa dos que ganham até dois mínimos, Paes tem 32%; Crivella, 31%; Jandira, 12%, e Gabeira atinge 9%.

O contraste se repete na avaliação dos eleitores por nível de escolaridade. Entre os que têm nível superior, Gabeira atinge 35% contra 31% de Paes, 14% de Jandira e 7% de Crivella. Entre os que têm só ensino fundamental, Paes chega a 34%, contra 28% de Crivella, 14% de Jandira e 7% de Gabeira.

Sobras de campanha


Brasília-DF :: Luiz Carlos Azedo
Com Guilherme Queiroz
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE



Cardeais do PSDB e do DEM já marcaram um encontro segunda-feira, em São Paulo, para juntar os cacos do quebra-pau entre o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que se digladiam ferozmente por uma vaga no segundo turno. Os governadores tucanos José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) ficarão de fora da conversa, que deve reunir os presidentes das duas legendas, o deputado Rodrigo Maia (DEM) e o senador Sérgio Guerra (PSDB), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-senador Jorge Bornhausen.

O tempo é curto para administrar o estrago causado pelo confronto entre Kassab e Alckmin, mas na avaliação dos caciques a aliança entre as duas legendas precisa ser mantida a qualquer preço, não importa quem vai para o segundo turno. Se Marta Suplicy (PT) virar o primeiro turno com mais de 35% dos votos, terá grande chance de voltar à prefeitura paulista.
Estrelas

Já foram contabilizados mais de 10 mil votos no Prêmio Congresso em Foco. No Senado, quem dispara na frente é Alvaro Dias (PSDB/PR). Na Câmara, a disputa está acirrada entre os deputados Fernando Gabeira (PV/RJ) e Gustavo Fruet (PSDB/PR). Na bancada de Brasília, destacam-se o deputado Rodrigo Rollemberg (PSB) e o senador Cristovam Buarque (PDT). A entrega dos troféus será em 1º de dezembro.

Transparência

A Secretaria de Saúde abriu suas contas na internet, por ordem do secretário Augusto Carvalho (PPS). No link Contas da Saúde (www.saude.df.gov.br), é possível ver como está sendo gasto cada centavo do orçamento da pasta. O anúncio oficial será amanhã.


Cabeceira

Quem está se dando bem com a guerra entre Alckmin e Serra é o chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), que opera ostensivamente a favor de Kassab. Egresso do PMDB, já taxia em direção à pista para ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes, caso o governador paulista deixe o cargo e concorra à presidência da República.

Selva

Apenas três superintendentes da Polícia Federal da gestão de Paulo Lacerda, diretor afastado da Abin, mantêm-se na atual administração da corporação: Anderson Ruy Fontel, do Amapá, Valdinho Jacinto, do Rio de Janeiro, e Elci Teixeira, do Paraná. Sobreviverão por pouco tempo, pois completarão dois anos nos cargos em breve.

Média

O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), ministro Walton Alencar, anda empenhado em aproximar a Corte do Palácio do Planalto. Ele aguarda o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para marcar um jantar com os nove ministros do TCU. Lula se queixa do tribunal por causa das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

No cafezinho

Volta/ Recomeçou na bancada do PMDB a romaria para convencer o ex-presidente José Sarney (foto) a aceitar o “sacrifício” de voltar à presidência do Senado. A maioria avalia que é o único nome da bancada capaz de deslocar o senador Tião Viana (PT-AC) sem provocar a ira do presidente Lula, nem desestabilizar a candidatura do deputado Michel Temer (PMDB-SP) à presidência da Câmara dos Deputados.

Fênix/ O ex-governador e ex-senador Joaquim Roriz (PMDB) trocou os leilões de gado pela campanha no Entorno. Subiu em palanques dos aliados goianos de Planaltina, Cristalina e Santo Antônio do Descoberto.

Confisco/ A Frente Nacional de Combate ao Trabalho Escravo colhe assinaturas para pedir ao presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que insira a PEC 438/01 na pauta de votações. A proposta prevê o confisco de terras onde for constatado trabalho escravo. O pedido será entregue em 17 de outubro, Dia Nacional de Mobilização contra o Trabalho Escravo.

Vizinho/ O governador José Roberto Arruda (DEM) tem conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a liberação de recursos para o Entorno. Os repasses têm saído a um ritmo menor durante o período eleitoral. Na última sexta-feira, Arruda interrompeu uma visita a Planaltina para ir ao Palácio do Planalto, convocado por Lula para tratar do assunto.

Vaga/ O DEM já se movimenta para substituir o senador Efraim Morais (PB) na primeira-secretaria do Senado. O senador Adelmir Santana(DF) cabala votos na bancada.

Candidatura impertinente


Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO


As eleições em São Paulo têm a fama, forjada em séries históricas de pesquisas, de apresentarem mínimas mudanças na última semana de campanha. São oscilações marginais. Mantida esta característica, dificilmente o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) superará a margem que Gilberto Kassab (DEM) abriu a uma semana da virada para o segundo turno. Mas admitamos que, excepcionalmente, o vaticínio se frustre, e seja vencedor amanhã quem hoje é perdedor.

Nem a vitória redime os pecados desta campanha. Em qualquer circunstância, na regra ou na exceção, fica desde já registrado que Geraldo Alckmin, só ele, é senhor do seu destino. Uma campanha equivocada, para uma candidatura contestada, colocou em risco o futuro político de um partido até aqui bem estruturado em São Paulo.

Os últimos anos na vida política de Geraldo Alckmin mostram que ele não faz jus ao apelido que procura retratá-lo como um político insípido e incolor. Saiu de Pindamonhagaba e chegou a governador de São Paulo, primeiro como vice, depois titular com os próprios votos. Extraiu uma candidatura a Presidente da República, passando para trás o principal político do seu partido em São Paulo. Jogador ousado, firme, conseguiu êxito no partido e lançou-se candidato a prefeito na disputa contra um grupo do PSDB que está na situação, em que têm voz o presidente de honra do partido, Fernando Henrique Cardoso, e o governador do estado, José Serra. Proeza que não se viu em Minas Gerais, onde o governador Aécio Neves disse que não queria candidato do PSDB em Belo Horizonte e não surgiu ninguém para contestá-lo.

Alckmin tem fortes convicções sobre si e muita força de vontade. Se vencer, e é nisto que aposta, o cargo, com seu poder agregador, recupera os que foram feridos mais profundamente. Se perder, como os números hoje indicam, esperneia, acusa, ameaça sair, cobra forte aos amigos que não se submeteram à sua liderança. No caso atual, o que fará mesmo não está muito claro, mas políticos próximos a ele falam em mudança de partido, não se sabe se de verdade ou na base de mais um pouco do mesmo, a velha e eficiente pressão.

Estas características, porém, não lhe dão, ao contrário, lhe tiram e também à sua campanha, o instrumento básico de ação fundamental em qualquer pleito a mandato popular: o discurso. As motivações do eleitor para definir o seu voto, mostram as últimas pesquisas dos Institutos Ibope e Sensus, são muitas. Há os mais preocupados com propostas, há os que ainda têm identificação partidária - neste quesito o PT se beneficia muito, por exemplo, porque, nas capitais, tem cerca de 20% de preferência partidária - e há também a posição, o discurso. O discurso vem de um projeto de país, estado ou cidade que está na cabeça do candidato e de seu grupo político.

Alckmin, na campanha presidencial de 2006, foi "brifado", jargão que os homens de campanha utilizam para sintetizar as informações e idéias transmitidas ao candidato, por especialistas dos mais diferentes setores, e agora, também, muitos dos secretários da prefeitura, governada pelo PSDB, lembre-se, deram ao candidato tucano o cenário dos problemas e da gestão. Nem o candidato teve discurso em 2006, quando passou ao largo das questões essenciais e ficou na superficialidade da auto-exaltação e de um indefinido choque de gestão, nem tem discurso agora.

Na derrota de 2006, houve um fator preponderante sobre a falta do discurso: as virtudes da campanha vencedora. Luiz Inácio Lula da Silva já era vitorioso antes da realização do pleito. Quando sobreviveu ao ataque de 2005, que o feriu na sua dimensão ética, e a economia começou o ano eleitoral de 2006 em alta, estava claro que o presidente se posicionara da melhor forma para vencer. Houve a rasteira que lhe aplicou mais uma vez seu grupo político, formado por amigos muito próximos da Presidência da República, que reincidiu na transgressão ética e permitiu a realização do segundo turno com o dossiê falso contra o adversário político.

Mas, sem projeto e sem discurso, Alckmin não aproveitou a oportunidade. Ao contrário, enrolou-se mais ainda ao fugir do programa de governo do PSDB, sob ataque do oponente, e Lula passou como um tufão.

Nesta atual candidatura a prefeito, Geraldo Alckmin tem na falta do que dizer aos eleitores, e não nos adversários, sua vulnerabilidade maior. A candidatura de um grupo político, segundo define o cientista político Antonio Lavareda, da MCI, pode ser natural ou necessária. A eleição permitindo reeleição, o natural é o candidato ser o prefeito ou o governante que está no cargo. A candidatura necessária é a que, por algum motivo inviabilizada a candidatura natural, busca um substituto para ele. A candidatura Alckmin a prefeito, por este princípio, não seria nem natural nem necessária. Lavareda levanta uma hipótese sobre o que determina a falta de discurso do candidato do PSDB nesta campanha municipal. "É uma questão de pertinência da candidatura".

O eleitor, explica, consciente ou inconscientemente, ou até intuitivamente, percebe que há um grupo político, de democratas e tucanos, que está no comando da prefeitura. O prefeito é candidato natural à reeleição, o eleitorado do grupo está preferindo a continuidade. Aparece outro candidato do grupo, postula o mesmo. Confunde e impossibilita o discurso.

É impossível haver, por este raciocínio, dois candidatos da situação. Qualquer candidatura em relação a um prefeito postulando a reeleição é uma candidatura de oposição. Alckmin, que é do mesmo conjunto de forças políticas a que pertence o prefeito, apresentou sua candidatura. É um candidato também da situação que tenta uma postura de oposição, já ao final da campanha, ficando sem condições de apresentar um projeto político. A isto se define como uma candidatura sem pertinência.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

Façam suas apostas!

Marcos Coimbra
DEU NO ESTADO DE MINAS

Quem compraria Alckmin e venderia Kassab? E vice-versa? Quanto estaria pagando Marta Suplicy como vitoriosa no segundo turno em São Paulo?

Cada país tem uma experiência única e uma cultura política própria, fruto de um sem número de circunstancias de sua história. O que vale para um, raramente vale para outro.

Ainda assim, é curioso ver quão diferentes podem ser dois países, mesmo quando compartilham coisas relevantes. Nesses casos, esperaríamos mais semelhanças que as discrepâncias que tendemos a ver.

Tomemos nosso gosto pelos jogos de azar e as apostas. Talvez existam outros países com pendor parecido, mas não devem ser muitos aqueles onde ele é maior. Da fezinha diária que tantos fazem, mesmo sabendo que seu hábito não é exatamente legal, aos carteados das tardes e noites, nós brasileiros gostamos de jogar, de preferência “a valer”, apostando tão alto quanto podemos. Bingos, loterias, mega-sena, raspadinhas, videopôquer, caça-níqueis, cassinos clandestinos, turismo de roleta, jogos pela internet, corridas de cavalo, rinhas de galos, tem para todos os gostos e bolsos.

Por que, então, não temos uma coisa tão comum em países parecidos conosco, onde as pessoas também gostam de apostar? Por que não existe no Brasil o tradicional e, nos últimos tempos, de novo florescente mercado das apostas eleitorais?

Para quem não sabe, esse é um mercado que movimenta montanhas de dólares e centenas de milhares de apostadores, hoje em dia particularmente em sites especializados da internet. Muitos são americanos e ingleses e o maior de todos é irlandês, no qual se pode apostar em cenários políticos mundo afora, de quem vai ser o próximo primeiro-ministro da Austrália ao partido que vai vencer a eleição em uma província alemã.

Os maiores volumes são dirigidos às grandes eleições, como as presidenciais americanas. As de novembro estão sendo alvo de apostas faz anos, ainda quando não havia sequer candidatos nítidos. Por falar nisso, quem quiser pode apostar, hoje, no resultado da eleição de 2012.

O curioso é que as transações nesse mercado têm se revelado altamente capazes de antecipar os resultados efetivos das eleições, mais até que as pesquisas de intenção de voto. O que parece é que, quando milhares de pessoas arriscam seu dinheiro apostando em um determinado resultado futuro, elas procuram ser maximamente racionais. Para isso, agregam toda a informação possível, seja do que identificam em suas comunidades, seja de suas avaliações do que a mídia publica. Cada mudança percebida no cenário eleitoral as faz recalcular suas posições, para não perder o investimento e aumentar o lucro.

Seria divertido ver como seriam as apostas aqui, se um mercado parecido existisse no Brasil. Quem compraria Alckmin e venderia Kassab? E vice-versa? Quanto estaria pagando Marta Suplicy como vitoriosa no segundo turno em São Paulo?

Em Salvador, muito dinheiro ia trocar de mãos, com os apostadores buscando a melhor opção entre três candidatos empatados. E quando a aposta fosse relativa a quantos votos um candidato teria, perdendo ou ganhando? Em uma eleição como a do Rio de Janeiro, com 12 candidatos e quatro com chances de passar para o segundo turno, muita gente ia ficar nervosa. E os bem informados ou com alta intuição, que conseguissem perceber azarões que terminam vencendo? Iam ganhar uns bons cobres.

A mania de apostar em eleições, que tem mais de 100 anos nos Estados Unidos, não é algo a copiar. Mas que tem um lado positivo, não há dúvidas. Ela é parte de culturas cívicas onde a política tem uma dimensão lúdica, cotidiana, próxima do cidadão. Se nossa trajetória democrática não tivesse sido tão entrecortada por golpes, talvez fôssemos assim.

Até que não seria má idéia adotar coisa parecida no Brasil. As eleições ficariam mais animadas.

Imunidade preventiva


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Tímido na abordagem e lento na solução de problemas objetivos, o presidente Luiz Inácio da Silva em mais de uma oportunidade também já mostrou o quanto é ligeiro e destemido quando o assunto é política. Se a questão em jogo for eleitoral, então, não há ninguém mais alerta e pragmático.

Já sentiu de longe o aroma do perigo e, por isso, muito antes de se materializar a preocupação no governo com a extensão da crise econômica mundial para os dois últimos anos de seu mandato, o presidente começou a construir o discurso preventivo à eventualidade de o bolso do brasileiro vir a ser atingido em cheio pelos efeitos da dura conjuntura.

Lula nunca fala do problema na essência, sempre no feitio de acusação. Ora a crise é “do Bush” ora a culpa é das agências de risco “palpiteiras”, ora a responsabilidade é do “cassino” montado pelos Estados Unidos no mercado financeiro, ora o demônio está encarnado no “capital internacional” sempre pronto ao massacre contra os países pobres e emergentes.

Não importa o nome do bode, desde que sirva para expiar todas as culpas e afastar do Palácio do Planalto quaisquer ônus políticos decorrentes da crise.

No caso do aprofundamento e do prolongamento do cenário adverso, Lula enfrentaria sua primeira crise de verdade justamente no período em que estaria se preparando para fazer bonito no processo da própria sucessão: saindo dele com a vitória eleitoral debaixo do braço ou com as credenciais de líder da oposição e candidato a presidente em 2014, nas mãos.

Ainda não se sabe a extensão da quebradeira nem se a popularidade de Lula é realmente sustentada só pelo bom desempenho da economia, hipótese em que esse capital se reduziria na mesma proporção do aumento das dificuldades.

Não obstante o pensamento predominante de que uma virada na economia brasileira faria a canoa de Lula virar junto, esta não é necessariamente uma verdade inescapável. Claro que o presidente se valeu nos últimos seis anos de condições internacionais favoráveis e do fato de ter recebido um país muito mais arrumado por reformas combatidas por seu partido.

Nunca foi posto realmente a teste na parte mais sensível do organismo humano economicamente ativo, o bolso. Agora, já mostrou mais de uma vez uma monumental capacidade de manter sua figura a léguas de distância de situações complicadas.

Não foi a economia a responsável pela mágica da separação entre Lula e o PT no momento em que a cúpula da agremiação fundada e mantida sob sua firme direção a vida toda era acusada de montar uma “organização criminosa” no governo presidido por ele.

Tampouco foi o crédito farto o arquiteto da construção do cordão de isolamento entre o presidente e seu chefe da Casa Civil, seu ministro da Fazenda e toda a plêiade de auxiliares envolvidos com toda sorte de ilícitos: de tráfico de influência a quebra de sigilo bancário, passando por flagrantes de compra e venda de dossiês, quando não documentos contra adversários montados dentro do Palácio do Planalto.

O responsável pelo feito chama-se Luiz Inácio da Silva, cuja habilidade de manipulação de fatos, palavras, gestos, emoções e capacidade de inverter a própria lógica da vida não podem ser jamais desprezadas.

Portanto, ainda que o desastre mundial se aprofunde e atinja o Brasil ao ponto de alterar o cotidiano das pessoas, isso não autoriza previsões desastrosas a respeito dos dois anos reservados por Lula para marcar sua passagem para a História.

É preciso conferir se os outros fatores de identificação popular não atuam tão ou mais fortemente que a economia.

As conseqüências poderão ser melhores ou piores, dependendo do talento de Lula para manter a qualidade do desempenho e do grau de tolerância da sociedade para com atitudes antigamente condenadas e hoje promovidas ao terreno dos atos geniais.

Mas até isso o presidente terá de calibrar. Tem chance de sair como vítima, como parece pretender. Mas, se exagerar nos alertas à Casa Branca, chamadas às falas ao Capitólio e bravatas do gênero, poderá revelar-se menor que a expectativa de seus admiradores, abrindo espaço para que partam em busca de portos que porventura venham a se mostrar mais seguros no campo da oposição.

Anistia

Em São Paulo, Roberto Jefferson declara simpatia por Marta Suplicy, Maluf no segundo turno vai de Gilberto Kassab muito bem obrigado, enquanto, no Rio, José Dirceu é saudado como reforço ao PC do B de Jandira Feghali.

Além da função de cabos eleitorais, Jefferson, Maluf e Dirceu dividem a condição de objetos de processos por atos genericamente classificados sob a rubrica corrupção.

Na atual conjuntura da política brasileira isso já não faz nenhuma diferença. Dá no mesmo o cidadão estar sob suspeita ou dispor de biografia acima de qualquer suspeita.

Por enquanto, processo não tira pontos. Pior será quando começar a acrescentar.

A grande vítima


Merval Pereira
DEU EM O GLOGO

NOVA YORK. São muitas as vítimas da crise que abala a economia dos Estados Unidos, mas a principal delas até o momento, sem dúvida, é o candidato republicano à Presidência, senador John McCain. Da semana em que a crise eclodiu até ontem, ele perdeu toda a dianteira que havia colocado sobre o adversário democrata, Barack Obama, depois da escolha de Sarah Palin para vice-presidente, e está agora até nove pontos percentuais atrás, numa das maiores distâncias entre os dois já detectada pelas pesquisas de opinião.

As circunstâncias não apenas favorecem Obama, como McCain adiciona lenha ao próprio fogo que o está consumindo com sua atitude errática em relação ao pacote econômico, demonstrando estar sem estratégia. O adiamento da campanha presidencial para ir a Washington tratar das negociações do pacote foi um tiro que saiu pela culatra, e ele, que pretendia tirar proveito político da situação, acabou sendo suplantado por seus próprios companheiros de partido.

Cabia a McCain, como expressão da expectativa de poder futuro do Partido Republicano, e secundariamente ao presidente George Bush, em fim de mandato e sem força política, liderar a bancada republicana para a aprovação do pacote de resgate do setor financeiro.

Mas sua atitude dúbia, pressionado pela base republicana que exigia um tratamento mais ortodoxo para a crise, dentro dos parâmetros conservadores de livre mercado, fez com que expusesse a limitada influência que tem dentro de seu próprio partido, que o escolheu como candidato por uma maioria escassa.

Ontem, o republicano já estava novamente fazendo campanha a favor da aprovação do pacote, em tom muito mais enfático do que jamais usara antes, reforçando a idéia de que está perdido dentro da crise.

Ao se explicitar de maneira devastadora no sistema financeiro, a crise explicitou também a fragilidade da candidatura de McCain, que não pode ser de continuidade - diante da maciça rejeição do governo Bush pela sociedade -, mas também não pode ser de oposição por ser do Partido Republicano.

Ao mesmo tempo, os trunfos que a escolha de Sarah Palin para vice trouxe para a candidatura, revitalizando-a, já não são de serventia nesta altura da campanha, quando a crise econômica suplanta qualquer preocupação, e torna irrelevantes para o debate político os valores tradicionais que ela defende, que foram responsáveis pelo fortalecimento inicial dessa candidatura conservadora.

O debate de amanhã entre Sarah Palin e o vice democrata Joe Biden tem tudo para colocar uma pá de cal na eventual ajuda que a ex-governadora do Alasca pudesse trazer para a chapa republicana. Se ela não sair do debate, como temem os republicanos, atropelada por Biden, já será um lucro.

O que pode ser decisivo é a atitude do candidato a vice de Obama. Se se colocar com atitude arrogante diante da fragilidade da adversária, se tentar humilhá-la, ressaltando seu desconhecimento de assuntos como política externa, poderá torná-la vítima da elitizada política democrata.

Mas se deixar que o despreparo de Palin se evidencie por si mesmo, tudo leva a crer que esse único debate entre vices sirva para enterrar de vez a utilidade que sua escolha teve no fortalecimento temporário de McCain.

As pesquisas mostram claramente que a decisão de adiar a campanha presidencial foi um erro estratégico de McCain, cuja perda de apoio popular já está se refletindo no número de votos de delegados.

O mapa eleitoral que o marqueteiro Dick Morris divulgou ontem já mostra que estados basicamente republicanos como Louisiana, Tennessee, Virgínia Ocidental, Arizona e Carolina do Norte passaram a ser dúvidas, alguns deles podendo inclinar-se para os democratas.

E estados como Carolina do Sul e Geórgia estão sendo disputados em igualdade de condições. No momento, pelo mapa de Morris - que apóia McCain - o candidato democrata Barack Obama tem 355 delegados contra apenas 133 do republicano, existindo ainda 50 votos pendentes.

Tudo indica que esse primeiro pacote vai ser aprovado de alguma forma ainda esta semana no Congresso, em Washington, que sentiu a reação negativa dos mercados internacionais com a rejeição de segunda-feira.

A gestão das negociações para a aprovação das medidas, que foi inicialmente muito mal feita pelo governo, está sendo reforçada, e há mesmo um trabalho dentro do próprio Partido Democrata para mudar o voto de alguns dos 95 deputados que votaram contra o pacote.

Também não existe uma oposição muito organizada, com cada deputado tratando de seu caso particular e vendo a reação de seus eleitores nos distritos onde disputarão um novo mandato em novembro.

Há uma correlação direta entre a próxima eleição e a posição dos deputados. Dos 205 que votaram a favor do pacote, apenas sete, entre democratas e republicanos, têm uma reeleição difícil pela frente.

Também a opinião pública, que não foi suficientemente informada sobre os detalhes do pacote e teve uma reação quase irracional na primeira votação, já dá sinais de que está começando a perceber o tamanho da enrascada, e que, queira ou não, as conseqüências no seu dia-a-dia serão inevitáveis se alguma coisa não for feita.

A tragédia para McCain é que a maioria da população americana identifica Obama como mais habilitado para tratar da crise econômica do que ele.

Com algumas alterações, como a ampliação do limite de dinheiro do governo que entrará como um seguro, o pacote será reapresentado a partir de hoje, e há boas chances de que seja aprovado ainda esta semana. Mas este será apenas um primeiro passo.

O cassino e a chantagem




Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - O valor das ações de uma empresa na Bolsa de Valores (ou do conjunto das empresas nela listadas) deveria ser determinado pelo desempenho corrente da companhia e/ou pelas expectativas a respeito de sua performance futura. Perdão pelo óbvio, e sigamos.

Na segunda-feira, por essa lógica, o desempenho das empresas listadas na Bolsa de São Paulo e suas perspectivas eram tão ruins, mas tão ruins, que o índice caiu 9,36%.

Mas, no dia seguinte, desempenho e perspectivas melhoraram tanto, mas tanto, que subiu 7,63%. Como é simplesmente impossível que haja tal mudança em tão curto espaço de tempo, os fatos dão ao presidente Lula toda a razão quando diz que se trata de cassino.Pior: é um cassino que está fazendo chantagem com o Congresso norte-americano, tentando forçar a aprovação de um pacote de socorro aos gatos gordos de Wall Street, cuja ganância infinita é a causa básica da crise. Chantagem que é apoiada pelo presidente dos Estados Unidos, país que já foi um modelo de democracia.

Quando Bush diz, como fez ontem, que "as conseqüências [da não-aprovação do pacote] se tornarão piores a cada dia", está claramente chantageando os congressistas.
Ora, quem votou contra o pacote apenas atendeu à opinião de seu eleitorado, maciçamente contrário ao salvamento dos gatos gordos. E é assim que deveria funcionar a democracia representativa: o representante faz o que o representado quer (ou convence o representado de que está equivocado).

Convence-o, por exemplo, de que está de fato em curso a "desintegração do sistema financeiro", como diz Martin Wolf, principal colunista do "Financial Times". Parece estar, mas é com fatos, não com chantagem, que se deve argumentar.

É possível que a chantagem vingue, mas seu triunfo só fará aumentar o gosto amargo da crise.

Cronologia possível da crise

Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - O único consenso no mercado ontem era sobre a falta completa de consenso a respeito de qual pode ser o desfecho da crise financeira originada nos EUA. No meio de incertezas, chutes e torcidas, foi possível identificar algumas observações recorrentes.

1) pacote: algum tipo de resgate estatal será aprovado pelo Congresso nos próximos dias. A extensão e a eficácia desse plano de socorro são incógnitas;

2) ações: até a véspera do anúncio do pacote, os índices das Bolsas de Valores ficarão andando de lado ou até subindo, como ontem. É um vício mundial dos mercados de valores. Os preços das ações sobem no boato e caem no fato;

3) falta de liderança: George W. Bush é um acidente histórico. Tornou-se o presidente mais frágil em final de mandato de toda a história recente dos EUA. Abriu-se um vácuo não preenchido pelos dois candidatos presidenciais. Barack Obama e John McCain foram inábeis e incapazes de liderar o Congresso no meio da tormenta;

4) sucessão presidencial: a disputa continua aberta, apesar do mau momento de McCain;

5) reforma ampla: só com a posse do próximo presidente dos EUA, em 20 de janeiro, será possível acomodar as forças políticas. O novo ocupante da Casa Branca iniciará um processo amplo de reestruturação do sistema financeiro. Se o eleito for Barack Obama, suas chances de arrancar uma legislação no Congresso são maiores -todas as pesquisas indicam que Senado e Câmara continuarão sob domínio democrata em 2009.

Tudo somado, como se observa, haverá no mínimo mais quatro ou cinco meses de balbúrdia. Nesse período, mais bancos quebrarão. Empresas não-financeiras começarão a entrar na dança por causa da escassez de crédito. Para concluir, a ressalva final: esse é o cenário mais positivo na praça.