domingo, 18 de janeiro de 2009

130 empresas negociam flexibilização

Márcia De Chiara e Paulo Justus
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Um grande número de empresas e trabalhadores preferiu não esperar o resultado do debate público sobre flexibilização de direitos trabalhistas. Enquanto a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), as centrais sindicais e políticos discutem se devem ou não rever direitos trabalhistas para evitar demissões, pelo menos 130 indústrias e nove sindicatos (representando 532 mil metalúrgicos) negociam discretamente por conta própria. Pelo menos oito acordos já foram fechados.

Os acordos já concluídos envolvem desde banco de horas - em que a redução de trabalho numa época é compensada por horas extras em outro período - até redução de jornada de trabalho e salários. Os acordos são uma alternativa às demissões, mas não deixam os trabalhadores imunes a cortes. Por enquanto, as negociações se concentram nas empresas mais afetadas pela crise: montadoras, autopeças, eletroeletrônicos e indústrias ligadas à siderurgia.

VOLKS

A Volkswagen acaba de fechar um acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, filiado à CUT, para introduzir o banco de horas. A proposta, que será apresentada a 5 mil trabalhadores amanhã, prevê até 25 dias de descanso em 2009, sem corte no salário, mas com compensação.

“O mercado de veículos está bastante instável”, diz o gerente de Relações Trabalhistas da Volkswagen, Nilton Junior. Ele deve apresentar a mesma proposta aos sindicatos de São Bernardo do Campo (SP), São José dos Pinhais (PR) e São Carlos (SP). Junior ressalta que o acordo não evita demissões, caso a crise se aprofunde.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, Isaac do Carmo, diz que negocia acordos semelhantes ao da Volks com 15 fabricantes de autopeças da região. “Com o banco de horas, há uma garantia implícita de emprego.”

CORTE DE SALÁRIO

Já em Porto Alegre, o sindicato dos metalúrgicos aprovou na quarta-feira um acordo com a fabricante de autopeças GKN para cortar a jornada e o salário em 14,63%, com manutenção do emprego, conta o sindicalista Ademir Bueno.

A mesma proposta foi estendida a mais duas empresas de autopeças da região: a DHB e a Saginaw. “O acordo contraria a orientação da CUT, a nossa central, mas vamos fazer de tudo para evitar demissões”, diz Bueno.

É em São Paulo, que responde por 40% da produção industrial do País, que está sendo costurado o maior número de acordos diretos entre sindicatos e empresas. Só na capital, 92 indústrias negociam com o sindicato dos metalúrgicos.

“O sindicato aprova a suspensão temporária do contrato. Mas tem empresário que insiste em redução de salários e de jornada”, diz Miguel Torres, presidente do sindicato.

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