quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Definição, quase certa, de Sarney no Senado reforçará papel autônomo do PMDB em 2010

Jarbas de Holanda

Malgrado sujeita ainda a contramarchas que podem voltar a embolar o jogo, adiando a decisão para o final do segundo tempo ou até para a prorrogação, afirma-se a tendência de escolha de José Sarney como candidato do PMDB e do Palácio do Planalto à presidência do Senado. Com o esvaziamento da alternativa partidária da proposta de reeleição de Garibaldi Alves, colocada em termos de confrontação com o Executivo e juridicamente questionável. E com uma progressiva inviabilização da candidatura petista de Tião Viana, em face da recusa do presidente Lula de assumi-la para valer por preferir um acerto com o centrista Sarney ao risco de derrota do governo num confronto com uma aliança entre a bancada do PMDB e a oposição. Apesar de resistências desses dois postulantes, já é quase certo que o ex-presidente da República e do próprio Senado poderá contar com o cenário que armava e ao qual subordinava sua indicação – unidade da bancada majoritária do PMDB, o respaldo de Lula e o apoio dos dois grandes partidos oposicionistas, o PSDB e o DEM.

Reação de José Dirceu – Em manifestação feita segunda-feira em seu blog e transcrita ontem em reportagem do Valor – “José Dirceu pede a petistas que se rebelem contra peemedebistas” -, o ex-ministro recomenda ao PT que resista à perspectiva de controle do PSDB das duas casas do Congresso. Ele avalia que as eleições para os presidentes e as mesas diretoras delas tornaram-se “uma ante-sala do pleito presidencial de 2010”, com uma rearrumação excludente do PT e indicativa de “que o PMDB está dividido entre os projetos tucano e do governo Lula”. Propondo uma forte reação na Câmara dos partidos menores e do PT contra a definição pró-Sarney que se configura entre os senadores, José Dirceu diz que se “o PMDB não quer Tião Viana no Senado, o PT precisa levar isso em conta. Não pode simplesmente fazer de conta que não está acontecendo nada”. E questiona: “Até quando o PMDB, o governo e o PT vão manter essa disputa em silêncio e como se nada estivesse acontecendo”.

O ex-chefe da Casa Civil, que segue tendo muita influência na direção do PT, de fato tem razão: a escolha já praticamente garantida de Michel Temer para a presidência da Câmara, combinada com a de Sarney para o comando do Senado, ao reforçar significativamente o peso político e institucional do PMDB prefigura a montagem das peças-chave de um tabuleiro legislativo da sucessão presidencial à vista bem diverso daquele em que Lula dava as cartas na disputa da reeleição em 2006 – com a presidência da Câmara ocupada por um indicado seu, Aldo Rebello, e a do Senado por um peemedebista então estreitamente vinculado a ele, Renan Calheiros. E esse contexto melhorou ainda mais para o Executivo na primeira metade do segundo mandato lulista, com a adesão do conjunto do PMDB em troca apenas de mais espaço na máquina governamental (embora bem menor que o do PT) e ampla subordinação do partido aos projetos político-eleitorais do presidente.

Tal relacionamento PMDB/governo Lula começou a mudar de qualidade no final de novembro e ao longo de dezembro de 2008. Repetindo avaliação feita aqui nesse período, o projeto que o colegiado dirigente do PMDB anunciou então para a conquista do comando das duas casas do Congresso baseou-se na vitória da legenda nas eleições municipais e em uma releitura pragmática das perspectivas da sucessão presidencial de 2010. Aspectos básicos dessa releitura: 1) Em fim de mandato, preservando alta popularidade mas sem poder transferi-la a candidato de seu partido, e tendo à frente um horizonte de crise econômica, com previsível desgaste político e social, o presidente Lula passa a depender muito mais de um PMDB fortalecido no pleito municipal e majoritário nas duas casas do Legislativo federal. 2) A manutenção e até um aumento do papel do partido no governo serão melhor garantidos se ele controlar a presidência das duas instituições. 3) O exercício desse papel não excluirá a exploração de outras alternativas em 2010, além da de apoio ao nome indicado por Lula: a de aliança em torno da candidatura oposicionista do governador de São Paulo, José Serra, ou da proposta reformista “pós-Lula” do governador mineiro Aécio Neves, se ele vier a ser o indicado, pelo PSDB, o que hoje é improvável, e a de candidatura própria, se Aécio correr o risco de aceitar reiterados convites de dirigentes do PMDB para troca de legenda.



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