sábado, 17 de janeiro de 2009

Degelo nos trópicos

Roberto Freire
DEU NO BLOG ALTERNATIVA BRASIL

Ao ler recentemente um artigo, de um conhecido jornalista muito comedido e ponderado, que tratava sobre a crise, que já se abate com força entre nós e o desempenho do governo Lula, tive a sensação de que ela já está provocando mudança de percepção e de posicionamento em muitas mentes. Penso que a crise é e será cada vez mais, pródiga em mudanças e não devemos nos espantar pela rapidez com que estas começam a aparecer na política brasileira. O articulista, ao qual me referi aguçou seu espírito critico, em relação ao governo e ao próprio Presidente, quando diz logo no início do texto que, acabaram-se as férias. Isto para mim é o inicio da compreensão, que todos teremos mais adiante, de que de férias o governo sempre esteve.

Um outro exemplo interessante, nos está sendo dado, pelo tratamento recebido pela última, de uma longa série de maus exemplos e de bobagens ditas e feitas, pelo presidente Lula. A perplexidade, indignação e até tristeza de alguns, foi a tônica na rejeição a declaração de Lula de que não lia jornais nem revistas e se informava pelo ouvido. A minha impressão – e peço, que reflitam se é verdadeira ou não - é de que antes da crise, já sofremos contrangimentos muito maiores, com outros ditos e feitos pelo nosso presidente, mas, nenhum daqueles episódios ( e não falo do item corrupção de tão pródigos exemplos desde o mensalão) teve tratamento tão duro e razoavelmente difuso, como o da aversão lulista da leitura.

Creio que com a continuidade da crise e seus efeitos cada vez mais dramáticos, na fase atual, quando ela se abate diretamente sobre os assalariados e trabalhadores em geral, particularmente, na tragédia do desemprego, veremos surgir com força o espírito crítico em relação ao governo Lula. Aí vai ficar claro o papel conservador do governo ao dar continuidade a uma política macroeconomica, que já dava claros sinais de esgotamento no seu ciclo e que se recuperou e só rendeu frutos pela magnífica performance da economia mundial. O governo pouco governou pois, política econômica nenhuma foi intentada e os resultados medíocres do nosso crescimento, quando comparados com outras economias emergentes, são a demonstração das oportunidades perdidas em razão da incapacidade do governo que temos.

Numa visão retrospectiva o que vai ressaltar e a desmedida euforia de Presidente Lula - do bordão "nunca antes neste País" - ao surfar na onda do crescimento da economia mundial, satisfazendo-se com o boom nos preços das matérias primas e grãos presentes em nossa pauta de exportações, vibrando com os graus de investimentos concedidos por agências financeiras de risco ao nosso excelente enquadramento nas finanças globalizadas refletidas no desempenho do cassino brasileiro, um ativo player na grande especulação financeira internacional e prazerosamente, um incentivador da farra dos lucros fáceis da banca nacional e internacional. Não devemos esquecer, por questão de justiça, que intervenções na questão salarial e de algumas políticas sociais publicas resultaram em ganhos reais para a população de menor renda no país. E por último para que o cenário neoliberal não fique incompleto, vai brilhar na tela, o bolsa-familia – política compensatória e assistencialista, de caráter essencialmente duvidoso, quanto a um futuro digno para os muitos atendidos e que ainda formam os milhões de deserdados do Brasil injusto e desigual.

A crise está provocando um degelo e possibilitando o recomeço, não tenho dúvida, de um novo tempo da política brasileira.

Roberto Freire é presidente nacional do PPS

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