quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Demissões provocam atrito entre ministro e empresários

Adauri Antunes Barbosa, Lino Rodrigues e Geralda Doca
DEU EM O GLOBO


Lupi quer punição para quem recebeu verba pública e demitiu. Fiesp reage

Um dia após o fechamento do acordo entre a Força Sindical e empresários paulistas para redução de jornada e de salários como forma de evitar demissões, o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, trocaram farpas. O ministro diz que empresas que receberam incentivos fiscais e crédito do governo estão ameaçando demitir. "Estamos analisando que tipo de sanção aplicar e como isso pode ser feito." Skaf desafiou: "Quero saber a lista das empresas que estão sendo salvas. Não é hora de demagogia." A Força propôs redução de salário de 15%, mas empresários querem 25%.

Demissões da discórdia

Fiesp diverge de trabalhadores e entra em atrito com Lupi sobre acordo para evitar cortes

Aenas um dia após patrões e empregados selarem, em São Paulo, um acordo inédito para evitar demissões em massa na esteira da crise, o entendimento começou a gerar atritos. Paulo Skaf, presidente da Fiesp (federação que reúne 133 setores da indústria), rebateu as críticas feitas na véspera pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que desaprova o acordão, alegando que as empresas têm sido beneficiadas pelo governo e não devem cortar vagas. Skaf pediu menos demagogia. Lupi reagiu prometendo sanção. Já no campo das negociações, as primeiras propostas apresentadas pela Força Sindical e pela Fiesp divergem quanto ao corte na renda do trabalhador em caso de redução da jornada e suspensão dos contratos. Após reunião do Conselho Superior Estratégico da Fiesp, que reiniu 33 dirigentes das maiores empresas do país, Skaf desafiou Lupi:

- Quero saber a lista das empresas que estão sendo salvas e a origem desses recursos (de desonerações e financiamentos de bancos oficiais). Se forem os empréstimos do Banco do Brasil, que cobra juros de 43% ao ano para capital de giro, não são recursos públicos. Não é hora de fazer demagogia.

Oficialmente, o ministério não se pronunciou. Porém, segundo uma fonte, Lupi determinou que seja feito um levantamento de todas as empresas que receberam dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). E vai divugá-la assim que estiver pronta.

Cedo, ao embacar para o Chile, Lupi reafirmou sua posição:

- Nossa função, além de ajudar empresas a passarem por essas dificuldades, é garantir os empregos. Estamos analisando tecnicamente que tipo de sanção (pode ser aplicada) e como isso pode ser feito.

O conflito entre Fiesp e governo deve se entender às discussões entre patrões e empregados. Representando 4,8 milhões de trabalhadores, a Força Sindicial fechou uma proposta-base para as negociações pela qual pede estabilidade no emprego pelo dobro do período em que o contrato de trabalho for suspenso, reivindicação que Skaf diz que as empresas tendem a não aceitar.

Em outro ponto, a entidade patronal defende que a redução de jornada e de salários seja de 25% - em proposta aprovada unanimemente pelo Conselho. A Força quer limitar o corte da renda a 15%.

- É preciso separar bem a questão da estabilidade. Se houver entendimento em reduzir a jornada e o salário em 25% por um tempo determinado, me parece coerente que haja manutenção dos empregos no tempo que isso ficar acordado. Mas não estamos falando em garantia ou estabilidade dos empregos - advertiu Skaf.

- Estabilidade quem tem é funcionário público. Queremos só a garantia do emprego por um determinado período pós-acordo. Passado esse tempo, a empresa pode demitir. Esperamos que a crise passe e ninguém seja demitido - explicou o presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.

No caso de suspensão do contrato de trabalho, a proposta sindical é que a empresa complemente o seguro-desemprego até atingir o valor líquido do salário. A Fiesp entende que o pagamento deve se restringir ao auxílio bancado pelos recursos do FAT.

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