quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Eleições inflamáveis

Vinicius Mota
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - A retirada das colônias judaicas de Gaza e a criação do partido Kadima, para unir moderados à direita e à esquerda, foram cartadas surpreendentes do então premiê Ariel Sharon -que adoeceu e saiu da vida pública a seguir.

A iniciativa, promissora, sofreu corrosão acelerada. Três anos depois, o governo do Kadima declarou "guerra total" contra o Hamas, entre outros motivos, para tentar evitar o triunfo da direita radical de Binyamin Netaniahu nas urnas.

No intricado jogo do Oriente Médio, quando alguém mexe uma peça, deflagra reconfiguração em todo o tabuleiro cujo sentido final está fora de seu controle e às vezes contraria seu interesse. Israel vota em fevereiro; Irã e Líbano, em junho.

A ofensiva de Israel em Gaza veio a calhar para a plataforma eleitoral dos movimentos islâmicos extremistas naqueles dois países. No Líbano, o temor é que o Hizbollah, grupo xiita patrocinado pelo Irã e pela Síria, obtenha vitória estrondosa e desequilibre o precário balanço de forças na política libanesa.

Seria o golpe de misericórdia no movimento moderado e modernizante que, em 2005, pôs fim a três décadas de tutela síria no Líbano. No Irã, os bombardeios sobre Gaza dão pretexto para que a linha dura -insuflada pelo alucinado Mahmoud Ahmadinejad, que tentará a reeleição- aperte o cerco contra os reformistas. Um grande jornal desta tendência foi fechado pelo regime na última semana de dezembro.

Dias antes, o escritório da ativista de direitos humanos Shirin Ebadi, Nobel da Paz em 2003, havia sido fechado e devassado pelo governo.

Numa atitude inusual nos quase 30 anos do regime fundamentalista xiita, o líder supremo do país se inclina para um dos lados da disputa presidencial: o aiatolá Ali Khamenei dá declarações de apoio a Ahmadinejad. Nome mais forte entre os reformistas, o ex-presidente Mohammad Khatami sofre pressões para não anunciar candidatura.

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