quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Juros, enfim, caem

Patrícia Duarte
DEU EM O GLOBO

BC faz corte mais agressivo e reduz taxa básica em 1 ponto percentual, para 12,75% ao ano

Diante da forte desaceleração da atividade econômica, o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu boa parte do mercado ao se mostrar menos conservador que o usual e reduziu ontem a taxa básica de juros do país em um ponto percentual, para 12,75% ao ano. A decisão, no entanto, não foi unânime, mostrando que há divergências sobre o rumo da economia. Desde dezembro de 2003, a autoridade monetária não era tão agressiva ao baixar a Selic. Na época, o Copom cortou a taxa de 17,5% para 16,5%. A decisão de ontem agradou sobretudo ao setor produtivo, que vê agora maior possibilidade de uma retomada mais rápida da economia.

- Havia espaço para um movimento forte de redução, de um ponto percentual. A atividade econômica caiu muito, não há pressão inflacionária, e muitos países já reduziram seus juros. O Brasil não podia perder mais tempo - afirmou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto.

Numa reunião de duas horas e meia, o Copom também indicou que o processo de corte dos juros pode ser mais intenso, porém mais curto. Em comunicado, informou que "inicia um processo de flexibilização da política monetária realizando de imediato parte relevante do movimento da taxa básica de juros, sem prejuízo para o cumprimento da meta de inflação".

Em abril de 2008, o Banco Central (BC) usara a mesma estratégia ao anunciar a alta da Selic de 11,25% para 11,75%, com medo de a inflação sair do controle com a demanda aquecida. Agora, o cenário é o oposto, por causa da crise global. Um dos principais sinais foi a atividade da indústria em dezembro, que recuou cerca de 5%. No mesmo mês, houve perda recorde de empregos formais, com mais de 650 mil demissões. Além disso, o BC entende que o risco de a desvalorização cambial - que ultrapassou 30% desde setembro - contaminar os preços é menor agora por causa da expectativa de queda da inflação. Para o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, o BC está preocupado com o ritmo da atividade:

- As projeções de inflação para este ano estão dentro da meta e, para 2010, já no centro (4,5% pelo IPCA).

Analista: dólar ainda é risco à inflação

A decisão de cortar a Selic, que não se via desde setembro de 2007, veio dividida. Cinco diretores optaram pela redução de um ponto, e três, de apenas 0,75 ponto. Para especialistas, isso mostra que o atual diretor de Politica Econômica, Mário Mesquita, perdeu força. Conhecido por seu perfil conservador, é ele que monta os cenários macroeconômicos que dão suporte às decisões do Copom.

- A decisão de hoje (ontem) mostra que a política do Mesquita está enfraquecida - afirmou um economista que tem acesso ao diretor.

Na avaliação do mercado, o próprio presidente do BC, Henrique Meirelles, vem dando sinais de estar mais preocupado com a atividade econômica e, com isso, discordando de Mesquita. Sem contar a pressão do governo para um corte maior. Por enquanto, o BC calcula que o Produto Interno Bruto (PIB) crescerá 3,2% este ano, acima dos 2% esperados pelo mercado.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse estar satisfeito:

- As taxas de juros continuam elevadas. Não falo da Selic, mas do custo financeiro em geral. O governo vai continuar com medidas para reduzir esse custo, porque isso estimula investimentos. Investimento é emprego, e temos de cuidar do emprego.

Parte do mercado apostava em um corte menor, entre 0,5 e 0,75 ponto - como o economista-chefe do banco Santander, Alexandre Schwartsman, para quem o dólar em alta ainda ameaça a inflação. Segundo ele, o câmbio demora de quatro a seis meses para se refletir nos índices de inflação, o que deve ser visto já a partir de fevereiro.

Alvo permanente de críticas no setor empresarial, o Copom foi elogiado. O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, viu mudança na política monetária:

- Isso não é ruim. Esperamos, entretanto, que essa queda seja o início de um rápido processo capaz de tornar os juros no Brasil equivalentes aos praticados em todo o mundo.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, o principal efeito será mudar o ambiente negativo dos últimos meses.

- Foi um passo importantíssimo para mudar esse clima de catastrofismo - afirmou.

COLABORARAM Ronaldo D"Ercole e Henrique Gomes Batista

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