sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Lula admite demissão mais alta desde 1999

RODRIGO VARGAS
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Lula admite demissão recorde em dezembro

Presidente afirma que corte de vagas formais no mês passado pode ter chegado a 600 mil, o pior resultado desde 1999

Durante entrevista, ele chegou a mencionar 800 mil dispensas, mas número foi corrigido por sua assessoria; ministério não confirma dado

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem, durante entrevista em Ladário (428 km de Campo Grande), que o número de demissões em dezembro pode ter batido recorde. Ele citou a possibilidade de o número de cortes ter atingido 800 mil, mas sua assessoria, em seguida, corrigiu o dado e informou que a intenção era mencionar 600 mil demissões.

Esse número é quase o dobro da média histórica para o período, segundo estimativa apontada pelo próprio presidente.

"Tivemos uma anormalidade no mês de dezembro, e é importante lembrar que, na série histórica, dezembro é sempre anormal", disse. "Ainda não temos os dados oficiais, mas nós vamos ter para o mês de dezembro, que na série histórica é por volta de 300 mil a 400 mil demissões, um pouco mais, talvez cheguemos a 800 mil demissões [número corrigido pela assessoria do Planalto]."

Com a confirmação da perda de aproximadamente 600 mil postos em dezembro, esse será o pior resultado desde 1999, quando foi adotada a atual metodologia para a pesquisa de emprego com registro em carteira. Embora dezembro seja um mês tradicionalmente marcado pela retração do mercado, os números flutuavam em torno de 300 mil vagas fechadas. Em 2007, o dado ficou negativo em 319.414 postos de trabalho.

Na gestão petista, o pior resultado havia sido verificado em 2004, quando o mercado perdeu 352.093 empregos com carteira assinada.

Desde o início da semana, o Ministério do Trabalho tem evitado confirmar o número de 600 mil demissões no mercado de trabalho formal em dezembro, apesar de a notícia ter surgido em entrevista concedida pelo próprio ministro Carlos Lupi no final de semana ao jornal "O Globo".

Nos dias seguintes, Lupi e sua assessoria vinham dizendo que os números não estavam fechados, pois só seriam fornecidos integralmente pelas unidades estaduais do ministério ontem.

Na terça, após reunião com Lula, Lupi chegou a antecipar a divulgação dos dados para a próxima segunda -a data inicial era o dia 21. Procurado ontem, o ministério não se manifestou.

Preocupado com a situação, o governo já adotou algumas medidas para estimular o crescimento econômico e deve anunciar outras até o final do mês (veja quadro ao lado).

Segundo Lula, é "importante" lembrar que o crescimento da geração de empregos no ano de 2008 foi "anormal para os padrões brasileiros". "Chegamos até outubro a 2,1 milhões de trabalhadores contratados e vamos fechar o ano com um saldo positivo de quase 1,5 milhão de empregos novos criados nesses 12 meses."

Questionado sobre o impasse nas negociações entre a Força Sindical e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que vinham discutindo acordo de flexibilização trabalhista, Lula disse que se reunirá na próxima segunda-feira com representantes das centrais sindicais.

"Quero saber o que eles estão pensando, para saber o que o governo, centrais e sindicatos podem fazer conjuntamente para evitar que uma crise financeira nos EUA traga prejuízos ao povo brasileiro."

Crise "sem precedentes"

Horas antes, em discurso na Bolívia, Lula avaliou a crise internacional como algo "sem precedentes na história da humanidade" e disse que a turbulência ameaça a produção e os empregos em todos os países.

Para ele, uma saída é o investimento em infraestrutura. "Logo deverão aparecer especialistas dizendo que devemos conter custos. Mas não podemos voltar à política da década de 80, quando Bolívia e Brasil ficaram mais pobres."

Colaborou a Sucursal de Brasília

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