quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

No sétimo dia

Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO

Hoje é o sétimo dia e o ano já está lotado de eventos, alguns trágicos. O ataque de Israel aos palestinos está virando bumerangue político. A disputa comercial entre Rússia e Ucrânia ameaça o gás da Europa. O presidente eleito Barack Obama já governa a economia e já é cobrado na política externa. Aqui, a produção industrial mergulhou. O grupo Iochpe demitiu mais de mil pessoas.

A Iochpe-Maxion confirmou ontem que já fez demissões significativas, cerca de 1.100, e que todos os funcionários da linha de produção de vagões estão em férias coletivas até o dia 15 de janeiro. O motivo é a crise que afeta o setor siderúrgico. Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, Oscar Becker, em 2009 a situação será muito ruim, com uma queda estimada na produção de 60%. A Iochpe-Maxion produz vagões comerciais do Brasil e seus principais clientes são a Vale e as empresas de siderurgia, que, como dissemos ontem aqui, na coluna, estão enfrentando queda forte de produção.

- Tudo neste ano de 2009 vai depender das negociações da Vale com a China. A partir da renegociação das siderúrgicas, principalmente com a China, é que vamos ter um mercado mais claro. E só devemos começar a nos projetar no meio deste ano. Até lá, só enxergamos o túnel, sem nenhuma luz no fim dele - contou Becker.

Já se sabia que o ano seria difícil e essa primeira semana confirma isso. A produção industrial em novembro, divulgada ontem pelo IBGE, foi do tamanho que antecipamos aqui na coluna: 5,2%. O número de outubro foi revisto e, por isso, a queda em dois meses foi de 7,8%: uma queda do mesmo tamanho da que aconteceu em nove meses no ano de 2003.

A queda da produção foi abrupta. A diminuição da produção de bens de consumo duráveis foi de 20%; a do setor de bens de capital foi de 4%. Isso significa que até o investimento está encolhendo. A Associação dos Exportadores Brasileiros (AEB) está prevendo uma queda de 17% nas exportações este ano.

Outros números virão. Eles vão confirmar que o PIB mergulhou no último trimestre do ano passado. O cenário continuará negativo neste começo de 2009. Na tradicional caminhada de picos e vales da economia, agora é a hora do vale. É um momento de extremo perigo, porque, apavorado, o governo pode tomar decisões que comprometam definitivamente o equilíbrio fiscal para enfrentar uma crise que será temporária.

Nos dias 20 e 21 deste mês, o Copom vai se reunir, e o mais sensato é que aprove um corte de juros de pelo menos meio ponto percentual. Um cortezinho de 0,25 ponto percentual será um erro. A economia está parando bruscamente, e os juros precisam cair. Se eles não caírem, será imperícia. As empresas estão com estoques e terão que reduzir os preços para se livrar deles (confira no gráfico abaixo o aumento do número de empresas registrando estoques excessivos). A alta do dólar está sendo neutralizada pela queda de preços das commodities. Tudo isso cria um cenário inflacionário que permite a queda dos juros.

Na área internacional estão ocorrendo misturas explosivas, de crises políticas com crises econômicas. A Europa, já em recessão, agora enfrenta a ameaça de desabastecimento de gás, porque o combustível que vem da Rússia, pela Ucrânia, está sendo cortado pela Rússia. As empresas de gás da França e da Itália já estavam, ontem, reportando quedas de abastecimento de 70% a 90%, apesar de ainda garantirem o fornecimento aos seus clientes.

A economia internacional depende do sucesso do pacote que o presidente Barack Obama está começando a divulgar mesmo antes de tomar posse. Ele já é também cobrado pelo silêncio em relação à crise no Oriente Médio. O cerceamento de Israel ao trabalho da imprensa está mudando o tom da cobertura da grande imprensa americana, que no passado sempre foi pró-Israel. Nesse contexto, o silêncio de Obama fica ainda mais eloquente. Entre os vários problemas que essa guerra provoca está, também, o de tirar a atenção exclusiva que o novo governo americano deveria dedicar à questão econômica.

Na guerra brasileira, que se trava nas rodovias, morreram quase tantos brasileiros quanto no ataque de Israel à Faixa de Gaza. Se a conta for bem feita, empata. É que a estatística registra apenas os que morrem na estrada, e não os que morrem nos hospitais em decorrência dos acidentes. É um número tão chocante e revoltante quanto os produzidos pela guerra. Mas o Brasil se acostumou com eles. Nossas baixas na guerra das estradas há muito tempo são comparáveis às de um país em guerra.

Foi pesada esta primeira semana do ano. Ainda bem que 2009 tem mais 51 semanas para se recuperar.

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