sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O começo do jogo das sete estações

César Felício
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O ano político de 2009 enfim começou esta semana, graças a três protagonistas: o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), que cooptou o colega e rival tucano Geraldo Alckmin para sua equipe; o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), que lançou-se candidato à presidência do Senado em um empreendimento praticamente impossível de ser batido; e o ministro do Trabalho Carlos Lupi, que ao atrelar o PDT ao jogo do PT na disputa pelo comando das Mesas do Congresso Nacional implodiu o bloco de esquerda.

São três eventos que apontam para uma única direção: a polarização antecipada da eleição presidencial de 2010 entre Serra pelo PSDB e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pelo PT, tendo o PMDB como fiel de balança, em um cenário de disputa em turno único.

O apoio pedetista aos candidatos patrocinados pelo PT às presidências da Câmara e do Senado tem clara inspiração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A sinalização é óbvia: impedir uma candidatura alternativa da base governista à Presidência em 2010. O cálculo de que a existência de dois nomes do Planalto para enfrentar o candidato tucano poderia ser mais interessante por forçar o segundo turno não existe entre os operadores petistas entusiastas da candidatura de Dilma. "O que vai contar em 2010 é capacidade de aglutinação. O governo precisa estar representado por um candidato único. Dilma vai ter que ficar em primeiro lugar no primeiro turno", comentou o deputado mineiro Virgílio Guimarães (MG), defensor há longa data da postulação da ministra. "O Lula nunca engoliu o bloco e a própria dinâmica da crise tende a polarizar a eleição entre dois candidatos que representem modelos distintos de gestão: PSDB e PT. Não há, infelizmente, espaço para meio termo", opinou o ex-deputado Sérgio Miranda, que foi candidato a prefeito pelo PDT em Belo Horizonte no ano passado. Mediante a negociação do apoio às reeleições dos governadores Eduardo Campos em Pernambuco e Cid Gomes no Ceará, Lula tem como desativar a candidatura de Ciro Gomes dentro do PSB. Muito mais fracos que os integrantes do PSB, PDT e PCdoB tendem a entrar na órbita petista ainda antes.

A eleição de Sarney para a presidência do Senado e do deputado Michel Temer para o comando da Câmara são quase certezas. Sobretudo a do primeiro. O comando duplo do PMDB no Legislativo enfraquece o PT e sobe o poder de barganha pemedebista em 2010 ao paroxismo. O partido torna-se tão forte aos olhos tanto dos petistas quanto dos oposicionistas que ambos apostam na tradicional ambigüidade do ex-presidente para reduzir o custo da negociação no próximo ano. "Sarney na presidência do Senado pode ser bom para Lula, porque breca a atração exercida por Serra. O PMDB só irá para os tucanos aos pedaços", opina Virgílio. "Com a sua candidatura, o Sarney mostrou que não vai fazer o jogo petista", afirmou um cacique do DEM, que aposta na neutralidade do ex-presidente na eleição de 2010.

O peso de Sarney no equilíbrio pemedebista aumenta em razão da falta de centro político do partido. Já está certo que o PMDB não irá completo para qualquer lado em 2010. O apoio pemedebista a uma chapa encabeçada pelos tucanos é virtualmente impossível em Estados como o Pará, Paraíba, Goiás e no próprio Maranhão de Sarney, por motivos regionais. Mas o partido já está comprometido com o PSDB em São Paulo. E pode vir a fazê-lo, em breve, na Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

O ingresso de Alckmin na base serrista lança dúvidas sobre o destino do rival de Serra pela candidatura presidencial em 2010, o governador mineiro Aécio Neves. Os aliados de Serra consideram Aécio um adversário já batido na busca pela cabeça de chapa, mas temem a reação do eleitorado mineiro. "Ali estão 10% dos eleitores do país. Dilma Rousseff nasceu em Minas. Se o eleitor mineiro achar que Aécio foi "tratorado" por Serra, vamos perder em Minas e a eleição estará em risco", afirmou um dos articuladores da candidatura de Serra no DEM. A questão não equacionada para os serristas é como convencer Aécio que eleger Serra em 2010 será mais positivo para a trajetória política do mineiro do que a alternativa.

Serra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os caciques pemedebistas trabalham com tanto afinco para que este quadro altamente favorável para todos se concretize que às vezes fazem esquecer que a eleição só ocorrerá dentro de 21 meses. São dois invernos, duas primaveras, dois outonos e outro verão pela frente em que o presidente da República, o governador de São Paulo e o partido que deverá controlar a Câmara e o Senado terão que agir para que o quadro desenhado neste fim de janeiro prevaleça. Tempo demais pela frente. E é com este gigantesco intervalo que lideranças aparentemente isoladas como Aécio Neves e Ciro Gomes podem contar para virar o jogo.

César Felício é repórter de Política. A titular da coluna, às sextas-feiras, Maria Cristina Fernandes, está em férias

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