terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O primeiro embate rumo a 2010

Raymundo Costa
DEU NO VALOR ECONÔMICO

Lula joga duro nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado. Em 2005, o presidente se omitiu numa disputa interna do PT e foi obrigado a engolir Severino Cavalcanti. Gato escaldado tem medo de água fria, e agora, no seu penúltimo ano de governo, ele tenta segurar a unha a sucessão para as Mesas do Congresso. É a prioridade política do governo no trimestre, mas está difícil.

O principal obstáculo é a insistência do PMDB, majoritário nas duas Casas, em eleger tanto o presidente da Câmara como o do Senado. Lula pensa diferente: é uma ou outra. Para o PMDB ficar com as duas, a condição é que no Senado seja eleito alguém da estrita confiança de Luiz Inácio Lula da Silva. Por lá, só um pemedebista atende esse requisito. Chama-se José Sarney.

O problema é o Senado porque supostamente a eleição na Câmara está resolvida por força do acordo firmado em 2007 entre PMDB e PT para eleger o deputado petista Arlindo Chinaglia. Agora seria a vez do pemedebista Michel Temer (SP) ser o nome do PT e da base do governo. Mas já há dois outros candidatos na praça: Ciro Nogueira (PP-PI) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Publicamente o PT diz que cumprirá o acordo firmado. Na prática, faz outras leituras da movimentação do PMDB e do presidente do partido, Michel Temer. Uma delas é a de que Temer, ao perceber que era movediça a areia na base de sustentação do governo, tratou de se aproximar rapidamente da oposição, reunindo-se com PSDB e DEM.

Nas palavras de um aliado de Lula foi como se Temer dissesse "olha, eu sou o candidato, vocês estão rompendo o acordo ou fazendo ouvidos moucos ao acordo, então eu tenho essa alternativa". Segundo esse petista Temer faria melhor se agitasse o acordo: "olha, nós temos um acordo, esse é o entendimento". Reunir com o DEM só serviria para queimar Michel Temer no governo tanto quanto ou mais do que a ligação de seu grupo com o governador de São Paulo, José Serra.

Se for cumprido à risca o acordo fechado pelo assessor de assuntos internacionais do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, que à época presidia o PT, Temer ganha a eleição sem precisar do DEM ou do PSDB. Mas a realidade é que a boa prática política recomenda que o presidente da Câmara governe também com a oposição, que tem na Mesa da Câmara uma posição proporcional ao tamanho de suas bancadas. O presidente da Câmara não é pau mandado do Executivo, É chefe de um Poder independente, e o segundo na linha sucessória em casos de impedimento do chefe da Nação.

No Senado, a situação se resolve se Sarney concordar em ser novamente candidato. Do contrário, Lula torce o nariz para qualquer outro nome da bancada do PMDB.

Em encontro recente com integrantes de um partido aliado, Lula mostrou um enfado estudado com as eleições para o comando da Câmara e do Senado.

Na conversa disse não entender como deputados e senadores brigavam tanto pelos cargos das Mesas Diretoras, para no final eleger um Severino Cavalcanti. A referência cabia também em Garibaldi Alves (PMDB-RN), atual presidente do Senado, "um desnorteado", segundo a expressão usada durante o encontro com os parlamentares aliados.

Oficialmente, o "desnorteado" é o candidato da bancada do PT, muito embora seja discutível juridicamente se ele pode concorrer novamente ao cargo. Aliás, ao lado de intervenções inconvenientes em cerimônias públicas de outro poder, como a Presidência da República, a própria recandidatura Garibaldi tem um quê de "déjà vu" na política brasileira.

A opção do PT é o senador Tião Viana, do Acre. Viana tem problemas com mais de uma bancada, mas tem sido criticado mais por suas virtudes que pelos defeitos. O seu maior adversário é o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que tenta recuperar espaço político depois que foi obrigado a renunciar à presidência do Senado, por razões amplamente conhecidas.

A eleição para as Mesas é o primeiro desafio, para Lula, de uma jornada política que começa agora em 2009 e termina nas eleições de 2010. O próximo será mudar o ministério, mesmo a contragosto. Uma reforma cuja extensão dependerá do tamanho do estrago que as eleições para a Câmara e o Senado fizerem na autoridade e na base do governo.

Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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