quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Patrimônio desperdiçado

Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Luiz Inácio da Silva tem 80% de popularidade, maioria absoluta no Congresso e o apoio oficial de quase todo o espectro partidário do País, à exceção de três ou quatro legendas.

Pois bem. Nada disso tem serventia na hora de negociar com o PMDB a preservação do equilíbrio ecológico no Parlamento, garantindo o cumprimento de um acerto pelo qual o maior e o segundo maior partido da coalizão governista partilham o poder no Legislativo.

A oposição morre de medo de Lula. Não ousa contrariá-lo, não se atreve nem mesmo a enfrentá-lo de peito aberto em eleições. Não fez do presidente ou de seu governo personagens das campanhas municipais de 2008 e, para 2010, já avisou que não quer confusão com ele.

O PT engole todos os sapos que lhe são servidos, independentemente do tamanho, o mundo político todo reverencia Lula, menos seu principal aliado, o PMDB, que faz dele o que quer.

Obrigou o presidente a assumir a entrada na briga pelas presidências da Câmara e do Senado, pela primeira vez nos dois mandatos, e impôs o roteiro.

Michel Temer, candidato a presidente da Câmara, avisou que não iria ao encontro marcado com o partido porque não lhe interessava misturar a eleição da Câmara com a do Senado. Foi recebido em particular.

José Sarney, no papel de bucha de canhão, adia à conveniência do partido uma conversa com o presidente da República mediante a mais batida das desculpas (gripe forte) e Lula não tem jeito a não ser esperar e ainda mandar sua assessoria espalhar que ao Planalto sabe bem a hipótese de o PMDB acumular as duas presidências.

Claro que não é verdade, mas é a versão cabível na situação. Qual situação? De absoluto constrangimento. Não para o partido, cuja tarefa é esta mesmo: ampliar espaços, influir na eleição de 2010 para se engajar no próximo governo.

Uma maneira confortável de assegurar acesso à máquina pública sem se dar ao trabalho de disputar o poder na conquista da maioria do eleitorado nacional.

Se resolvesse pagar para ver, o presidente Lula correria maiores riscos e teria mais trabalho. Mas talvez ganhasse a parada por um motivo simples: se o governo precisa do PMDB, o partido ainda precisa muito do governo.

Há dois anos de mandato pela frente, cinco ministérios, presidências, diretorias de estatais importantes e inúmeros cargos federais ocupados. Todos devidos aos votos conquistados por Luiz Inácio da Silva nas urnas.

Tentativa e erro

A direção da Câmara recuou de dois atos erráticos, mas nem por isso se pode dizer que tenha acertado ou que seja louvada a decisão de anular a criação de R$ 48 milhões em novas gratificações e a contratação de plano de saúde (sem licitação) para assessores por indicação política.

Certa a direção da Câmara estaria se não tivesse tomado nenhuma das duas decisões; se não tivesse aceitado a presença de um lobista da empresa de medicina privada na reunião privativa de deputados; se tivesse tomado as atitudes corretas.

É bom lembrar que a tal reunião da semana passada que ensejou óbvias críticas, era para decidir um corte de despesas, uma medida de organização de gastos. Os deputados integrantes da Mesa encontraram-se no recesso para estabelecer novas normas de ressarcimento nos tratamentos médicos, impor limites, evitar abusos tais como o custeio de despesas em spas.

Ao fim do encontro haviam inventado novos gastos e plantado a semente de um escândalo. É difícil acreditar que suas excelências não tivessem noção do que estavam fazendo, bem como é inaceitável que tenham voltado atrás pelas razões alegadas: contestações na Justiça por parte dos funcionários concursados.

Se é como dizem, pior, demonstração cabal de que tomam decisões de forma leviana. Desinformados, cedem a qualquer lobby que lhes pareça interessante.

Portanto, que não se perca o senso de realidade: a Mesa da Câmara recuou não por reconhecimento de um equívoco esporádico. Recuou porque já não tem como administrar impunemente a persistência no erro.

Cada qual

A tentativa de Anthony Garotinho de se filiar ao PSDB, depois da perda de espaço no PMDB do Rio para o governador Sérgio Cabral, obrigará o tucanato a uma definição.

Precisará escolher se terá a imagem de Fernando Gabeira, cuja candidatura à prefeitura em 2008 foi patrocinada pelo PSDB de olho na eleição de 2010, ou se assumirá o perfil de Garotinho.

Por mais larga que seja a extensão, não há muro que abrigue as duas hipóteses, por excludentes.

Por dentro

A ministra Dilma Rousseff ficou mais bonita mesmo com a nova programação visual. Falta agora uma remodelada no temperamento a fim de torná-lo mais benevolente à convivência com os mortais.

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