sábado, 3 de janeiro de 2009

Perspectivas de crescimento para 2009

Carlos Antonio Luque
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A PESAR DE O desenvolvimento da teoria econômica ter permitido um conhecimento mais profundo sobre o funcionamento da economia e de os avanços da informática terem possibilitado a elaboração de modelos cada vez mais sofisticados e ágeis, o poder de previsão dos economistas continua baixo. As variáveis dependem de um conjunto muito amplo de fatores, que se alteram mais rapidamente do que a própria capacidade dos analistas e dos modelos em captá-los, mas, principalmente, pelo fato de os agentes econômicos, responsáveis diretos pelos resultados, alterarem seu comportamento de maneira muito rápida.

A própria crise atual não foi prevista pela maioria absoluta dos analistas. O acompanhamento do boletim Focus, divulgado pelo Banco Central como uma síntese da opinião do mercado, revela que as previsões efetuadas normalmente não se realizam. Tomando apenas como exemplo a taxa de crescimento do PIB nacional, percebe-se que, nos últimos anos, as previsões efetuadas para o crescimento da nossa economia nunca ficaram muito próximas de seu valor real. Por exemplo, para 2004, a previsão era de 3,55%, mas o crescimento efetivo foi de 4,90%. Para 2005, a previsão do crescimento do PIB foi de 3,50%, mas o índice efetivo foi de 2,28%. Para 2006, a previsão era 3,50%, mas o crescimento foi de 2,86%. Para 2007, a previsão era de 3,50% e o crescimento real foi de 5,4%. Para 2008, a previsão foi de 4,5%, mas o crescimento provavelmente será de 5,55%. Atualmente, a previsão para 2009 é de 2,4%.

Será que devemos tomar muito seriamente essa previsão de crescimento que o mercado atualmente faz para 2009? Será que o país crescerá mais ou menos do que o mercado prevê? Poderá a economia crescer 4%, como o Ministério da Fazenda afirma, ou deverá crescer em torno de 3,2%, de acordo com as previsões contidas no relatório trimestral de inflação do Banco Central? Difícil saber.

Como se percebe, o mercado está mais pessimista do que os responsáveis pela condução da política monetária (o Banco Central), que, por sua vez, estão mais pessimistas que os responsáveis pela política econômica de maneira mais ampla (Ministério da Fazenda e Planejamento). Isso é razoável e deve ser assim. Dado que o resultado está atrelado diretamente ao comportamento dos agentes econômicos, o qual, por sua vez, depende das expectativas, não seria razoável que os responsáveis pela condução da política econômica fizessem previsões mais pessimistas, pois eles condicionariam as próprias previsões e comportamento dos agentes econômicos.

Mesmo antes da crise, os analistas no Brasil acreditavam que a economia brasileira não repetiria em 2009 o mesmo resultado apresentado tanto em 2007 como no ano em curso. No início de 2008, o mercado estimava um crescimento de 4,5% para o PIB; em meados do ano, contudo, reduzia suas previsões para 4,0%. Isso porque o crescimento da demanda agregada superior ao da oferta estava pressionando a taxa de inflação e promovendo desequilíbrios crescentes nas contas externas. Assim, esperava-se que o Banco Central manteria juros elevados a fim de conter o crescimento da demanda, promovendo uma redução da própria taxa de crescimento do PIB. Com a crise, o mercado foi naturalmente reduzindo gradativamente a expectativa de crescimento para o PIB, chegando aos níveis atuais de 2,4%. Saber exatamente o que vai ocorrer não é possível. É claro que, dentro da perspectiva de nossa trajetória de crescimento dos últimos anos e, considerando as limitações que nossa economia já demonstrava, tanto em termos de déficit nas contas externas como também em pressões inflacionárias, a sustentação de taxas de crescimento mais elevadas apresentava dificuldades. Com a crise internacional, a tendência é que essa situação seja ainda mais agravada.

Se a taxa de crescimento ficará em 2,4%, em 3,2%, ou em 4%, ninguém sabe. Esperemos que, embora apresentando uma taxa de crescimento inferior à de 2008, ela se situe num patamar que permita termos em 2009 um ano com poucos reflexos negativos sobre a vida dos brasileiros.

Carlos Antonio Luque , 61, é professor titular do Departamento de Economia da Faculdade de Economia e Administração da USP e atualmente preside a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

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