segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Sindicatos pretendem articular ações contra demissões na Vale em 30 países

Vera Saavedra Durão, do Rio
DEU NO VALOR ECONÔMICO

Dirigentes de sindicatos de trabalhadores da Vale, que somam 24 em todo o país, se reuniram com José Drummond, da CUT Multi, um braço da Central Única dos Trabalhadores que promove a criação de redes internacionais de trabalhadores de multinacionais brasileiras. A idéia é articular um movimento que congregue todos os trabalhadores da mineradora no Brasil e nos 30 países onde ela atua contra novas demissões e em defesa dos direitos trabalhistas de seus 60 mil empregados.

A reunião ocorreu após dois dias de reunião dos sindicalistas, na quinta e sexta-feira da semana passada. A agenda de trabalho desses líderes sindicais inclui uma mobilização de funcionários nacionais e internacionais da Vale no dia 11 de fevereiro, em frente à sede da mineradora no Rio, para protestar contra as demissões e contra a flexibilização das leis trabalhistas defendida pelo presidente executivo da companhia, Roger Agnelli, informou Paulo Soares, do Metal Base, sindicato que congrega 4 mil mineiros da região de Itabira e outros municípios onde a Vale tem minas, em Minas Gerais.

Hoje, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e governadores dos Estados e prefeitos dos quase 500 municípios onde a Vale atua devem receber uma carta dos empregados da companhia convocando-os a lutar contra o desemprego. "A Vale já demitiu 15 mil trabalhadores terceirizados ligados diretamente à produção de minério e mais de 2 mil diretos. Não acreditamos nos números da Vale. Nós fizemos as contas dos desempregados e conhecemos bem esses números, pois somos nós que homologamos as demissões", disse Soares, vinculado ao PSTU, uma dissidência à esquerda do PT.

A mensagem que os trabalhadores pretendem passar às autoridades é que os problemas da Vale são como uma questão de Estado, pois ela é a maior empresa privada nacional, que dizia estar pronta para enfrentar a crise e foi uma das primeiras a demitir. "Não vamos aceitar flexibilizar nossos direitos. Como pode a Vale falar em flexibilizar nossos direitos se ela vai encerrar 2008 com um lucro de no mínimo R$ 24 bilhões?", indaga Soares.

Outra preocupação dos empregados da Vale é com o pagamento da Parcela de Lucros e resultados (PLR), que deve ser feito em 15 de fevereiro. Pelo acordo feito entre a companhia e os trabalhadores, com vigência de um ano, os empregados deveriam receber um PLR de 4,7 salários. Ou seja, se o empregado ganha R$ 1 mil, ele recebe R$ 4.700 de PLR. "Estamos sujeitos a receber menos que isso. A Vale está querendo pagar um PLR de 1,5 a 2,0 e no máximo 2,5 salários. Logo no ano que ela terá novamente lucro recorde, sem falar no caixa da empresa de US$ 15 bilhões. Isso vai criar mais uma briga com a gente", disse o sindicalista.

Soares (suplente) e João Batista Cavalieri (titular), duas lideranças dos trabalhadores da Vale que ocupam a 11ª cadeira do conselho de administração da mineradora, estão marcando uma reunião com os principais acionistas da Vale, a Previ, fundação dos funcionários do Banco do Brasil que controla a Valepar e o BNDES, para falar sobre a atitude "negativa" da Vale em relação a seus empregados, apesar de receber recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Segundo Soares, a folha de pagamento da Vale soma R$ 1,2 bilhão no mundo inteiro, um valor mínimo em relação ao que a companhia lucra.

Os diretores de Recursos Humanos da Vale, como a diretora-executiva Carla Grasso, Marcos Dalposo, e Roberto Ruy, da área internacional de RH da empresa, não compareceram à reunião dos trabalhadores. "Estamos tentando marcar um encontro com eles. Tiramos um documento desta reunião e queremos conversar. A empresa está calada e só tem desmentido o que a gente fala. Divulgou que vai criar 10 mil empregos até 2011. Nunca vi falar em criar 10 mil empregos com 5.050 trabalhadores em férias coletivas. A Vale está preparando uma nova leva para entrar em férias coletivas e fala em criar novos empregos. Queremos saber é do presente. Não somos culpados pela crise e não queremos ser bodes expiatórios. Vamos nos defender", disse Soares.

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