domingo, 25 de janeiro de 2009

Temporário é alvo fácil nas listas de demissões

Paula Pacheco
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Desaceleração deixa 7,7 milhões de trabalhadores na berlinda

Com a desaceleração da atividade econômica, o desemprego avança e ameaça principalmente quem tem contrato temporário ou terceirizado. Como esse tipo de relação trabalhista é frágil, fica mais simples e barato para as empresas a dispensa desses profissionais do que a de funcionários com vínculo tradicional. Todos os 744 demitidos da General Motors de São José dos Campos (SP), por exemplo, eram temporários.

Segundo estimativa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), cerca de 25% dos profissionais com carteira assinada no País têm a chamada relação precarizada com seus empregadores - o que inclui terceirizados, temporários, que são a maioria, além de estagiários e os contratos como pessoa jurídica. Isso significa que cerca de 7,7 milhões de brasileiros estão na berlinda e têm mais chance de perder o posto de trabalho neste momento. Foi o que ocorreu com Fabrício Correia, 29 anos, de Curitiba (PR).

O metalúrgico começou a trabalhar na montadora Volvo em 1º de outubro do ano passado num contrato temporário com validade de seis meses. Dois meses depois, Correia e outros 200 empregados temporários foram informados pela fábrica que o fim do contrato seria antecipado. "Quando a gente entra numa empresa como temporário sonha que o trabalho será reconhecido e a efetivação vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Fiz planos, estava muito feliz por trabalhar numa empresa como a Volvo", lamenta o operário.

"Esses são os vínculos mais frágeis, os primeiros a serem rompidos", afirma Roberto Gonzalez, técnico de Planejamento e Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério do Planejamento. Aos 26 anos, o pedreiro Francisco Costa coleciona três carteiras de trabalho e já perdeu a conta de quantos empregos teve em dez anos de mercado. Costa lamenta a falta de garantias: "Às vezes levamos o calote dos empreiteiros e não temos a quem reclamar".

Segundo Antônio de Sousa Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon), os contratos temporários diminuem as garantias legais para os empregados e possibilitam que os empregadores paguem salários abaixo do que é definido em acordo coletivo.

O diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas (SP), Eliezer Mariano da Cunha, é ainda mais crítico. Para ele, ter profissionais terceirizados e temporários é uma forma de as empresas "aumentarem seus lucros e gastarem menos com as obrigações trabalhistas". Na região, montadoras, empresas de autopeças e do setor de eletroeletrônicos optam pelos temporários, segundo Cunha, e já vêm demitindo.

Nem o comércio escapou dos cortes dos temporários. Projeção do Clube Nacional dos Diretores Lojistas indica que, em janeiro, o comércio deve absorver apenas 3% dos temporários contratados para as vendas de fim de ano. Normalmente, a absorção é de 10%.

Pedro Sigliano, gerente da agência de empregos Gelre, diz que normalmente esses trabalhadores ficam nas empresas pelo menos até o fim de janeiro, época de trocas de presentes de Natal e de liquidações. Se a atividade econômica vai bem muitos são efetivados.

Não foi o caso de Lídia Bacelar Costa,de 20 anos. Ela foi chamada como temporária para uma loja do Shopping Center Norte, em São Paulo. Lídia não gostou da experiência. "A diferença de salário para um contratado era de até R$ 500", diz.

Na análise de Denise Motta Dau, secretária nacional de Organização da Central Única dos Trabalhadores (CUT), temporários e terceirizados são os primeiros a perder o emprego. "A empresa em geral os considera um custo variável. Precisou é só cortar", comenta.


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