quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Um instigante laboratório político

Cândido Grzybowski
DEU EM O GLOBO

Após quatro anos, o Brasil volta a sediar um encontro central do Fórum Social Mundial, desta vez em Belém (PA). Em sua nona edição, o Fórum segue para a Região Amazônica, compartida por nove países da América Latina, povos e culturas muito diversos - território em disputa, tanto no acesso e uso de seus recursos naturais como de rumos e sentidos; um dos pulmões do Planeta. Temos muito a dizer sobre a Amazônia, que, de 27 de janeiro a 1º de fevereiro, transforma-se, em realidade, em um instigante laboratório político, ao abrigar o maior evento da sociedade civil organizada.

Em um momento em que mergulhamos em múltiplas crises (entre elas, a financeira), é bom olhar para onde ainda existe esperança: a Amazônia, a nossa Região. Como participante ativo do Fórum Social desde sua primeira edição em Porto Alegre, em 2001, penso que o encontro deste ano convida a nos abrirmos à problemática amazônica e a nos inspirarmos nos diferentes povos e seus territórios, como guardiões que são de um ecossistema fundamental para eles mesmos e para a Humanidade. E nos coloca como desafio, sobretudo, ousar pensar em alternativas ao desenvolvimento, confundido, tantas vezes, com taxas de crescimento a qualquer custo.

Esta é uma tarefa de criação teórica e cultural, mas sobretudo política. Repolitizar a economia e a própria vida, com uma perspectiva democrática radical, de participação, justiça social e ambiental, é o caminho possível para começar a formular um pensamento gerador de alternativas estratégicas. No Fórum Social Mundial aprendemos, entretanto, que não se trata de formular um pensamento único como alternativa. A reordenação do poder e das economias, para que sirvam aos seres humanos, garantido todos os direitos a todos, sem discriminações, precisa estar pautada pela diversidade, de acordo com necessidades e possibilidades dos territórios de cada povo.

A nova arquitetura do poder político é, por si só, a tarefa mais premente: estamos diante da necessidade de uma espécie de refundação em novas bases. Como? Sem dúvida, de ponta-cabeça, do local ao mundial, partindo do princípio que é necessário "democratizar a democracia e a economia". É fundamental valorizar a soberania cidadã, identificando, nesse movimento, o que precisa ser gerido de forma subsidiária por um poder democrático mundial, tendo como base um multilateralismo ativo e solidário, com busca de consensos ao invés de imposição pela força.

O Fórum Social, como espaço aberto, propicia e estimula exatamente esse tipo de atitude, de ousar e dispor-se a estabelecer o diálogo franco, entre as múltiplas organizações da sociedade civil, mas também chefes de Estado e organismos multilaterais. Por tudo isso, o Fórum na Amazônia, neste momento da História mundial, é bem-vindo e inspirador.

CÂNDIDO GRZYBOWSKI é sociólogo e diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).

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