quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Dilma desperta a oposição

Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


A festança do Encontro Nacional de Prefeitos, em Brasília, patrocinada pelo presidente Lula – reunindo cerca de 5 mil prefeitos e variada comitiva, com esposa, filhos, parentes, secretários, aderentes e cupinchas, para anunciar medidas de ajuda aos municípios e o evidente propósito de apresentar a ministra-candidata Dilma Rousseff como a administradora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a candidata lançada e em campanha – teve uma previsível e instantânea repercussão na oposição, enrolada nas soporíficas manobras dos candidatos, governadores José Serra, de São Paulo e Aécio Neves, de Minas Gerais.

Cutucados, despertos da sonolência, os aliados do PSDB e do DEM chegaram à instantânea conclusão de que não há mais tempo a perder. Pois a ministra Dilma Rousseff amparada pela poderosa máquina oficial e com aliados que não podem ser ignorados, assumiu a candidatura da exclusiva escolha do presidente e está embalando no entusiasmo da estreante que pode dar a volta por cima e chegar ao pódio sem passar por nenhuma das etapas preliminares do modelo clássico: vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador, governador.

Se a candidata oficial, engolida pelo PT com a mais cínica submissão, disparar nas pesquisas, não será fácil alcançá-la.

Até aqui, na sonolência do mormaço, as pesquisas no tecido das contradições confirma Lula, disparado nos 86% de aprovação, a poucos passos da unanimidade. Mas, nas pesquisas para a sucessão de Lula, enquanto Dilma sobe muito devagar, a dupla de oposição lidera com José Serra na ponta e Aécio Neves nos calcanhares.

Não há mais tempo a perder. E quanto mais depressa a oposição encontrar a fórmula miraculosa para definir a chapa, pelo menos em teoria, maiores as possibilidades de afirmação de um candidato contra a maré de dona Dilma, as obras do PAC, maioria absoluta de prefeituras e recursos inesgotáveis, que se multiplicam com as mágicas da equipe econômica.

O quadro tende a sofrer mudanças bruscas com as marolas e tufões da crise econômica que atinge o mundo. E se não há como prever, com margem mínima de segurança, como atravessaremos o túnel dos próximos 10 meses – o governo e a oposição devem estar preparados com esquemas táticos para todos os cenários.

Não é tarefa fácil desatar o nó da oposição. Todas as soluções possíveis são recebidas com suspeitas de favorecer um dos lados. A saída democrática das prévias tem o inconveniente de exigir tempo para a montagem do esquema. Esperar pela Convenção é ampliar o risco da indefinição além do razoável.

É evidente que falta a liderança que sobra do outro lado do campo. Mas a oposição já chegou ao fim do prazo razoável para as suas hesitações e a briga com luva de pelica da dupla de candidatos. E começa a desafiar o risco de uma derrota que será lançada na conta da incompetência e da omissão do comando dos partidos. O que não chega a ser um consolo.

Pela sua biografia, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é articulador natural da oposição. Mas a tarefa exige dedicação integral, além de habilidade e isenção. Como não há outro nome à vista, a unidade da oposição para a campanha eleitoral que já começou e deve sobrar para 2010 está nas mãos de FHC.

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