terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Exportações recuam 23% em janeiro

Leandra Peres Juliana Rocha
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Com crise global, país registra déficit comercial de US$ 518 mi no mês, o 1º desde 2001; importações caem 12,6%

Concorrência mais acirrada reduz vendas; produtos básicos sofrem menos, enquanto manufaturados sofrem maior queda

Após a tentativa frustrada de barrar importações na semana passada, o governo anunciou ontem o pior resultado da balança comercial desde novembro de 2000 e o primeiro déficit mensal desde março de 2001.
As exportações em janeiro foram de US$ 9,788 bilhões, e as importações, de US$ 10,306 bilhões, acumulando um resultado negativo de US$ 518 milhões no saldo comercial.Na média diária, a desaceleração nas vendas de produtos brasileiros ao exterior chegou a 22,8% em relação a janeiro do ano passado, quando foram exportados US$ 13,277 bilhões.

Em compensação, as compras fora do país caem num ritmo mais lento: 12,6% na mesma comparação. Além disso, o Brasil vem sofrendo a concorrência de outros países nas vendas em mercados considerados compradores tradicionais.

"A queda nas exportações é o que nos preocupa. Isso é retração da demanda [mundial]. Temos que esperar o mundo se recuperar, não tem o que fazer", disse o secretário de Comércio Exterior do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Welber Barral.Antes do anúncio de ontem, o mercado previa superávit comercial de US$ 14 bilhões neste ano, contra US$ 24,7 bilhões em 2008, já uma queda de 38% em relação a 2007.

As vendas de aço são um exemplo da concorrência que o Brasil vem sofrendo de outros países. Segundo ele, as exportações do produto para EUA, Colômbia e Chile estão sendo afetadas por maior agressividade comercial da China, e para a América Latina pela presença da União Europeia. "Os estoques estão sendo vendidos a qualquer preço", afirma Barral.

O governo brasileiro pretende enfrentar essa situação com medidas de estímulo às exportações, como melhores condições de financiamento e isenção de impostos para a promoção comercial.

Além disso, promete recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio) se outros países adotarem medidas protecionistas.

"Houve uma série de mal-entendidos e ruídos. Foi uma comédia de erros de Shakespeare que se chamaria "muito barulho por nada" ", disse Barral, ao justificar a decisão do governo de recuar da medida que exigia licença prévia para importações.

Em vigor de segunda a quarta da semana passada, a restrição foi duramente criticada por empresários e considerada uma demonstração de protecionismo do Brasil. No período, foram feitos 49 mil pedidos de licença ao governo e todos analisados, segundo o ministério.

A esperança do governo para melhorar o saldo comercial está nos preços dos produtos agrícolas e nos países em desenvolvimento.

Para Barral, as commodities devem se manter com preços estáveis ou até com alta devido à quebra de safras em muitos mercados em razão de problemas climáticos. No último mês, por exemplo, a soja subiu 14%, e o milho, 6,1%.

Isso explica por que as exportações de produtos básicos tiveram a menor queda em relação aos outros grupos de produtos (-6,5%), totalizando US$ 3,365 bilhões. Já as vendas de manufaturados, como carros, aviões e calçados, caíram 34%. Em janeiro de 2008, o Brasil vendeu US$ 6,864 bilhões nesses produtos. No mês passado, US$ 4,326 bilhões.

Já os países em desenvolvimento, hoje responsáveis por adquirir 53,1% das exportações nacionais, continuarão demandando mais produtos brasileiros, na visão do governo federal, porque deverão crescer mais que países como EUA, Japão e União Europeia. Para Barral, isso mostra que "foi um acerto" a política de priorizar a ampliação desses mercados.

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