quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O barraco no PMDB

Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Ninguém pode dizer que se enganou com o PMDB e seus caciques regionais. Mas a política brasileira poderia ser ainda pior sem eles, como aliás já foi provado

O senador Jarbas Vasconcelos , ex-governador de Pernambuco e fundador do partido, armou o maior barraco no PMDB e ficou por isso mesmo. A cúpula da legenda resolveu deixá-lo falando sozinho, embora a repercussão de sua entrevista à revista Veja, na qual acusa o partido de corrupção e fisiologismo, continue grande na mídia. Aparentemente, Jarbas cansou de ser escanteado pelos demais caciques da legenda e resolveu abrir uma dissidência que, pelo teor das acusações, não tem volta e deixa o PMDB na berlinda.

Fiel da balança

Não vou entrar no mérito da discussão aberta por Jarbas, que resolveu lavar a roupa suja de seu partido em público, para alegria da imprensa, pois quebrou a monotonia da cobertura política.

Tão pouco quero adivinhar suas motivações íntimas, que para alguns analistas seriam fundar outro partido e virar vice da candidatura do governador paulista José Serra (PSDB) a presidente da República. Também não discuto suas críticas ao governo Lula, principalmente ao Bolsa Família, que para alguns são coisas de quem não gosta de pobre. Vou fechar o foco no que julgo mais importante: o PMDB começa a pagar o preço de ser o fiel da balança na sucessão de Lula em 2010.

Com seus governadores, prefeitos e parlamentares, a força renovada do PMDB no Congresso foi construída de baixo para cima, nas duas últimas eleições, e sua presença no governo Lula é muito mais uma consequência do que a causa desse fortalecimento. A legenda é fiadora da governabilidade do país. Sem o apoio do PMDB, o governo Lula não teria sustentação política no Congresso e ficaria à matroca. Não é à toa que ocupa seis ministérios na Esplanada, muito menos que tenha conquistado as presidências do Senado e da Câmara, ocupadas respectivamente por um antigo desafeto de Jarbas, o senador José Sarney (AP), e um suposto aliado, o deputado Michel Temer (SP).

A propósito, há uma curiosa assimetria nas relações do PT com o PMDB nas duas casas do Congresso. No Senado, as relações entre os dois partidos do “governo de coalizão” vão de mal a pior. Jarbas apoiou o petista Tião Viana (AC), que deveria ter retirado a sua candidatura anti-Sarney e não o fez porque recebeu o apoio da oposição. Na Câmara, ao contrário do que se poderia supor, o PT nunca esteve tão afinado com o PMDB, numa aliança que serviu de eixo para eleição de Michel Temer, diga-se de passagem, com apoio dos partidos de oposição.

Uma esfinge

Ninguém pode dizer que se enganou com o PMDB e seus caciques regionais. Mas a política brasileira poderia ser ainda pior sem eles, como aliás já foi provado. Ocorre que a cúpula do PMDB — da qual Jarbas se excluiu — há muito não estava tão unida como agora. E transformou a legenda numa esfinge, capaz de devorar aqueles que não forem capazes de decifrá-la.

Ninguém, por exemplo, precisa falar ao ex-presidente José Sarney que ele é um personagem do passado, que teima em protagonizar o presente. Ele sabe disso melhor do que ninguém.

Mas qual Sarney? O da UDN Bossa Nova, que era suspeito de ser comunista? O deputado da Arena que apoiava o regime militar? O dissidente que articulou o PDS e se filiou ao PMDB para ser vice do presidente Tancredo Neves? O presidente da República que legalizou o Partido Comunista? O chefe de Estado que autorizou o Exército a reprimir os operários de Volta Redonda? O oligarca que resolveu embarcar na candidatura de Lula em 2002? Ninguém sabe o que Sarney fará na eleição de 2010, só que ele está no jogo.

Temer, com a sua troika de escudeiros na bancada de deputados do PMDB — Henrique Eduardo Alves (RN), Eliseu Padilha (RS) e Eduardo Cunha (RJ) —-, dá as cartas na Câmara. Qual é a do presidente licenciado do PMDB, um notório equilibrista da política? Para onde irá essa turma em 2010? Ninguém sabe ainda, pois operam ao mesmo tempo com o governo e a oposição, num jogo em que garantem apoio ao presidente Lula mas se reservam ao direito de lançar um candidato próprio ou apoiar um candidato não oficial desde que não seja um anti-Lula. Por isso, dividir o PMDB anula esse jogo.

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