quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O PSDB e a difícil arte de aprender a somar

Maria Inês Nassif
DEU NO VALOR ECONÔMICO

A divisão faz parte da dinâmica dos dois partidos que têm polarizado as eleições no país, o PT e o PSDB, mas o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva acabou desenvolvendo mecanismos de disputa interna mais maleáveis à composição em torno de candidaturas que a legenda do governador de São Paulo, José Serra.

No PT, as piores brigas, as mais autofágicas, giram em torno do poder interno, que dá às tendências majoritárias maior poder não apenas sobre a máquina partidária, mas para conquistar espaços em governos petistas. Os embates não são personalizados: os atores se agrupam conforme suas posições políticas. Mais recentemente, assumiram importância os grupos comandados por políticos com bases clientelistas, donos de votos, mas ainda assim as tendências que se formam em torno desses personagens se integram à dinâmica interna de disputa política quer pelo controle de pedaços da máquina partidária, quer por espaços em governos, o que significa fazer alianças e compor. Os resultados de prévias partidárias, dados esses mecanismos menos personalistas que o PSDB de composição interna, acabam sendo melhor assimilados. Existe um pragmatismo maior nas decisões sobre candidaturas, pelo fato de não ser um partido onde as lideranças individuais têm um grande peso e porque a disputa entre os grupos mira também o horizonte pós-eleitoral, isto é, a composição dos governos, na hipótese de eleição dos candidatos do partido.

No PSDB, a personalização da luta interna dificulta a assimilação de disputas - incentiva, portanto, as divisões. A decisão sobre candidaturas nacionais sempre foi centralizada na direção nacional, que por sua vez não é produto da luta interna entre posições políticas, mas representa o consenso entre poucas lideranças. O cacife de cada postulante são os votos que ele pode arregimentar sozinho, como liderança política - e se supõe que a eles vão se somar posteriormente os votos resultantes da polarização com o PT (essa é a realidade na história recente, polarizar sempre com o partido de Lula); ou então o poder de desestabilizar, pela ameaça, seu adversário. Em 2006, o ex-governador Geraldo Alckmin desbancou a candidatura favorita dos cardeais tucanos, de José Serra, porque ameaçou disputar com ele na convenção nacional. Serra, que perdeu as eleições de 2002 em grande medida porque provocou a divisão do PSDB - apostando erradamente que o partido iria se unir mais na frente, durante a campanha - recuou e deixou Alckmin, nas eleições seguintes, às voltas com um partido igualmente dividido e tendo que administrar também uma derrota.

Nas eleições de 2010, essa incapacidade de assimilar discordâncias internas pode novamente comprometer o PSDB. O alarme já soou, tanto da parte do grupo de Serra como do lado do DEM. O ex-PFL não apenas está fechado com o governador de São Paulo na disputa pela Presidência, como abriu mão da vaga de vice, para que o PSDB tente negociar a saída do PMDB da base da candidatura governista - mas quer que seja o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o candidato a governador da coligação. O DEM tem se articulado para obrigar não apenas um entendimento entre Serra e o governador de Minas, Aécio Neves, sobre quem vai ser candidato (a preferência do ex-PFL, e a sua aposta, são em Serra), como uma rápida definição. Acha que a oposição tem que botar o bloco na rua, pois a última pesquisa Sensus/CNT revela, na sua avaliação, que a candidatura de Dilma Rousseff pelo PT já está consolidada junto ao eleitorado. Se não andar logo, a oposição corre o risco de ser atropelada pela candidata petista, mesmo tendo Serra como candidato, hoje o melhor colocado nas pesquisas.

Serra, por seu lado, está às voltas com a solução de uma equação difícil: como disputar com Aécio sem dividir o partido. Minas Gerais é o Estado com o segundo maior colégio eleitoral do país (10,86% do total de eleitores do Brasil) e, se não tem o poder de, por si só, garantir uma vitória de Aécio, se ele disputar a Presidência da República, pode ter o efeito de derrotar Serra, se for o governador paulista o candidato do partido à sucessão de Lula. Segundo um "serrista", a questão agora é deixar claro para o eleitor mineiro que o PSDB não está subtraindo de Aécio as chances de tornar-se candidato a presidente, mas que o candidato será Serra porque ele é o que tem mais chances de vencer a candidata petista. Por esta razão Serra mandou recados para todos os lados que topa as prévias. Se elas vão ocorrer, é outra história. Mais para a frente, e antes da data marcada, a situação pode ser resolvida em favor do paulista com manifestações claras e inequívocas de maioria dentro do partido - o apoio declarado, por exemplo, dos 26 dos 27 diretórios estaduais do partido. Não existe entusiasmo com as prévias, até porque os "serristas" não acreditam que o governador mineiro tenha a intenção de se unir ao candidato vitorioso se perdê-las, mas a questão agora é não dar chances para que Aécio pareça vítima - nem pretexto para que ele deixe o partido e leve o eleitorado mineiro a votar contra a candidatura de Serra.

Enquanto isso, os grupos do PT se articulam em torno da candidatura de Dilma Rousseff.

Praticamente não há resistências internas ao seu nome. A ministra, por sua vez, tem se aproximado e mantém conversas com as tendências petistas. É uma forma de se inserir na lógica do partido, de abrigar as discordâncias internas e, ao mesmo tempo, unificar as tendências que brigam pelo poder da máquina no mesmo palanque. Um jantar na residência da ex-prefeita Marta Suplicy foi uma aproximação com o PT paulista que rearticula um campo majoritário e, assim, a hegemonia no partido. Também tem marcada uma reunião com a tendência Mensagem ao PT, do ministro da Justiça, Tarso Genro.

O pragmatismo petista deve-se ao fato também de ser um partido que depende muito do seu grande líder, o presidente Lula, mas mais ainda de sua estrutura nacional e da identificação do eleitor com a legenda para conseguir votos. No caso do PSDB, o pragmatismo é menor porque disputam a ribalta grandes líderes num partido com pequena capacidade de se unificar nacionalmente.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras

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