quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Obama pede sacrifícios e fé em pacote

Andrea MurtaDe Nova York
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Presidente promete "reconstruir" EUA em discurso ao Congresso; popularidade alta contrasta com dificuldade em costurar propostas

Sem detalhar, democrata defende plano para resgatar bancos, que população rejeita, e diz que dinheiro servirá "para ajudar pessoas"

Em seu primeiro discurso oficial ao Congresso, o presidente Barack Obama se prontificou ontem a defender do ceticismo as primeiras iniciativas adotadas contra a crise econômica nos EUA. Mas a fala ambiciosa mostrou não ignorar que, se a aprovação pública ao democrata é alta, as divisões partidárias de Washington continuam as mesmas.

O discurso de ontem equivale à fala sobre o Estado da União, feita anualmente após o primeiro ano de mandato. Em foco, estavam os planos para atacar a crise econômica e fiscal que o país enfrenta. Obama lembrou que serão necessários sacrifícios de todos -mas, apesar das expectativas, não detalhou planos para estabilizar o sistema financeiro.

As intenções foram duas: passar parte de sua popularidade, hoje em torno de dois terços do eleitorado, para suas políticas e instilar um pouco da "esperança" prometida na campanha no governo, sem perder a sobriedade. "Enquanto nossa economia está enfraquecida e nossa confiança abalada, e apesar de estarmos vivendo tempos difíceis e incertos, nesta noite eu quero que todos os americanos saibam disso: vamos reconstruir, vamos nos recuperar, os EUA vão emergir mais fortes do que nunca."

Obama voltou a pedir união, mas no círculo dos legisladores, as promessas de governança bipartidária até agora não superaram o muro da oposição republicana. Entre governadores que rejeitam ajuda federal do pacote de estímulo econômico de US$ 787 bilhões e deputados que se unem para não dar nem um voto a favor da lei, Obama navega em um mar de hostilidade, parte por estratégia política de uma oposição sem liderança forte, parte por tradição de governo mínimo.

"Não pressionei por ação porque acredito em um governo grande. Não acredito", defendeu-se, preventivamente. "Entendo o ceticismo (...) Acostumamo-nos a ver as coisas fracassarem em Washington."

Controvérsia

O presidente abordou no discurso alguns dos pontos mais impopulares dos planos governamentais. Sobre a ajuda aos bancos falidos, ele afirmou: "Sei o quão impopular é ajudar bancos agora". "Mas não podemos nos deixar governar pela raiva (...). Meu trabalho é resolver o problema. Não se trata de ajudar bancos, trata-se de ajudar pessoas."

A respeito do déficit orçamentário, uma preocupação crescente, ele acrescentou que já identificou formas de cortar US$ 2 trilhões em gastos ao longo da próxima década e prometeu "eliminar contratos sem licitação que desperdiçaram bilhões no Iraque" -além de incluir na conta gastos de guerra que antes eram considerados extraordinários.

Além disso, disse que manterá investimentos em três áreas: energia, educação e saúde.Para esta última, ele insistiu que reforma "não pode esperar nem mais um ano". Em relação a educação, pediu um esforço por parte de todos os americanos para que completem ao menos um ano de estudos após o segundo grau. "E quanto a largar a escola, isso tem que acabar. Não é só desistir de você, é desistir do seu país, e não podemos permitir isso."

A fala foi inicialmente bem recebida. "Foi o discurso mais ambicioso que vimos no Congresso em décadas", afirmou à CNN o analista político David Gergen. E, de acordo com pesquisas de opinião, as chances de Obama ser bensucedido por enquanto são boas. Levantamento do "Washington Post" e da rede ABC divulgados ontem, antes do discurso, mostra que sua aprovação está em 68% -a mais alta neste momento do governo desde Ronald Reagan (1981-1989).

Outra pesquisa, do "New York Times" e da CBS, aponta que 77% dos americanos estão otimistas quanto aos próximos quatro anos sob Obama, apesar de indicarem pessimismo em relação à economia.

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