sábado, 28 de março de 2009

Assessor de Lula defende o populismo latino-americano

Eliane Cantanhêde
Enviada especial à Viña Del Mar (Chile)
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Para Marco Aurélio Garcia, fenômeno na região difere do chauvinismo populista europeu

Debate antecede cúpula de hoje no Chile que reúne líderes "progressistas" do continente e da Europa, mas sem bolivarianos

Apesar da ausência de Hugo Chávez, que não foi convidado, o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, fez enfática defesa do populismo e do assistencialismo na América Latina durante o seminário de ontem que antecedeu a 6ª Cúpula dos Líderes Progressistas, hoje, em Viña del Mar, no Chile, na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva será um dos oito presentes.

"O conceito de populismo tem sido usado na América Latina para desqualificar experiências populares de grande valor", disse Garcia, que citou positivamente a Venezuela de Chávez e considerou inadequado comparar o populismo da região com o da Europa.

"O populismo europeu é muito diferente [do latino-americano de hoje]. De maneira geral, [o europeu] é nacionalista, chauvinista e extremamente autoritário. Na América Latina, o que é chamado de populismo nunca tem sido nacionalista. Pelo contrário, as experiências populistas são extremamente integracionistas, como a de Chávez", disse.

No seminário, que reuniu assessores, acadêmicos e políticos dos EUA, da Europa e da América Latina, ele também disse que "assistencialismo" tem de deixar de ser uma "palavra maldita" no caso de países com grandes desigualdades, como os latino-americanos.

Ele justificou a ausência de Chávez e de outros presidentes considerados de esquerda, como Evo Morales (Bolívia), dizendo que "há vários recortes de progressismo" e lembrando: "Nós não somos mais da Internacional Socialista, e às vezes vamos, às vezes não, como no Fórum de São Paulo" (iniciativa petista que reúne movimentos de esquerda do continente).

Ricos e pobres

Conforme a Folha apurou, Lula fará hoje um discurso muito parecido com o de Garcia ontem, recheado de autoelogios e ironizando o rigor fiscal "neoliberal".

Segundo Garcia, o Brasil investiu US$ 300 bilhões em infraestrutura, "teve uma política proativa, uma política muito forte, não ficou preocupado com cortes fiscais". E acrescentou que, "no caso brasileiro, ajudou muito ter um sistema financeiro sólido, sadio e com forte participação estatal".

Houve, também, uma acusação direta ao protecionismo dos EUA: "O governo norte-americano, que diz firmemente querer mudar a matriz energética, taxa a importação do etanol e não a do petróleo".

No seminário de ontem, o ministro para Assuntos Europeus da Holanda, Frans Timmermans, roubou a cena ao dizer que há "medo e insegurança" na Europa diante dos efeitos políticos da crise econômica. "A perspectiva de crescimento e de melhoria social gera generosidade. A crise e a insegurança provocam fechamento e conservadorismo. Será que batemos no teto e agora só iremos recuar?", disse ele, sob aplausos.

Em campanha para a Presidência do Chile nas eleições de dezembro, o ex-presidente Eduardo Frei (1994-2000) fez um contraponto: o estágio latino-americano é muito diferente e o risco não é de recuo, mas de "interrupção" de um processo de desenvolvimento que inclui as grandes massas.

Além de Lula e Michelle Bachelet (Chile), participarão da cúpula hoje Cristina Kirchner (Argentina), José Luiz Zapatero (Espanha), Tabaré Vázquez (Uruguai), o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e os premiês do Reino Unido, Gordon Brown, e da Noruega, Jens Stoltenberg.

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