quinta-feira, 5 de março de 2009

Decoro ou falta dele

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Frase do líder do PT na Câmara Federal, Cândido Vaccarezza (SP), publicada na terça-feira pelo "Painel" desta Folha, é a perfeita ilustração da política: "Não pretendo assinar a CPI dos fundos de pensão, proposta pelo PMDB, porque CPI é um instrumento da oposição".

Como sabe qualquer cidadão de bem e qualquer político com um tico de espírito republicano (se é que sobrou algum), CPI não é de governo, nem de oposição, nem de direita, nem de esquerda. É um instrumento para apurar irregularidades e, idealmente, para corrigi-las, em especial quando envolvem dinheiro público. Assim sendo, qualquer governo sério tem tanto interesse quanto qualquer oposição -ou até mais- em investigações que o ajudem a sanar problemas.

Pena que seja necessário, no Brasil, escrever coisas que, em países com instituições minimamente civilizadas, seriam consideradas de uma ululante obviedade. E é necessário porque, no Brasil, políticos, com uma ou duas exceções, se tanto, não pensam no interesse público, do que dá prova, entre zilhões de outras, a frase de Vaccarezza. Para ele, fica claro que política é fazer investigações, quando na oposição, e fugir delas, quando no poder. Só.

É óbvio que, escravos dessa mentalidade, os políticos sejam, digamos, distraídos na defesa do interesse público. Tão distraídos que deram ontem a presidência da Comissão de Infraestrutura do Senado a Fernando Collor de Mello, o único presidente de uma república bananeira, como o Brasil o foi durante tanto tempo, que conseguiu a façanha de ser cassado por "falta de decoro".

Collor se elegeu ontem graças a manobras do aliado, depois inimigo, agora aliado de novo, Renan Calheiros, aquele que teve de deixar a presidência do Senado para não ser cassado também por falta de decoro. Acho que está tudo explicado, não?

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