quinta-feira, 12 de março de 2009

Depois do tombo do PIB... Juros têm queda recorde

Patrícia Duarte e Luciana Rodrigues
DEU EM O GLOBO


O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduziu a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual, dentro das estimativas mais conservadoras. A taxa passou para 11,25% ao ano, o menor nível histórico, como em 2007. Apesar de ter sido o maior corte em mais de cinco anos, economistas, empresários e líderes sindicais temem que tenha chegado tarde demais. Segundo fontes próximas ao Planalto, o presidente Lula também teria considerado que os juros demoraram para cair.

Ameaça de recessão derruba juros

Em decisão unânime, BC corta taxa básica para 11,25% ao ano

Pressionado pela séria ameaça de recessão, o Comitê de Política Monetária (Copom) acelerou o passo e reduziu ontem os juros básicos de 12,75% para 11,25% ao ano, recolocando a Taxa Selic em seu menor patamar histórico. O corte de 1,5 ponto percentual - o de maior magnitude desde novembro de 2003 - representava a média das projeções de mercado, mas ainda assim foi encarado como um movimento cauteloso por analistas, setor produtivo, trabalhadores e lideranças políticas. Após a divulgação da retração de 3,6% na atividade econômica no quarto trimestre de 2008, crescera a avaliação de que caberia nas contas do Banco Central (BC) uma diminuição de 2 pontos percentuais.

A decisão de ontem foi unânime - em apenas duas horas de reunião - e o Copom deixou claro que pode continuar cortando a Selic nos próximos encontros. Porém, na visão de analistas de mercado, não houve qualquer sinalização de qual será a intensidade dos próximos cortes de juros.

Em comunicado, a autoridade monetária informou que "acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião (dias 28 e 29 de abril), levando em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".

Não repetiu, porém, que estava realizando "parte relevante" do ajuste nos juros neste encontro, como ocorreu no de janeiro. Naquela ocasião - com atraso, na comparação com os principais emergentes e países ricos - o BC decidiu reduzir os juros, em 1 ponto percentual, mas rachado. Três dos oito diretores queriam um corte de só 0,75 ponto.

Incerteza sobre próximos cortes

Para a próxima reunião do BC, muitos analistas apostam em nova redução de 1,5 ponto.

- O Brasil tem muito espaço para fazer política monetária, cortar juros. Todos os indicadores, como crescimento da atividade e inflação, mostram que dá para fazer isso - resumiu o economista-chefe do Itaú, Tomas Malaga, que projeta uma Selic a 9,25% no fim de 2009.

Alguns economistas ponderam, no entanto, que o BC deve calibrar bem suas decisões:

- O corte (de 1,5 ponto) foi até ousado, mas o comunicado é conservador, o que é bom. A recuperação da economia pode ser mais rápida do que se imagina - afirmou a economista-chefe do ING, Zeina Latif.

O tom cauteloso do comunicado divulgado após a reunião do Copom só aumentou as dúvidas sobre quais serão os próximos passos do BC.

- Ao dizer que levará em conta "a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica", o BC sinalizou para o mercado que o atual ritmo de corte pode não se manter. E começava a haver um consenso de que o BC manteria o ritmo de 1,5 ponto percentual de corte nos próximos meses - explicou Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimentos.

Para Alexandre Schwartsman, economista-chefe do Santander e ex-diretor do BC, o comunicado mostra que a autoridade monetária não quis se comprometer com nenhum tipo de trajetória para corte de juros.

- Daqui para frente, o BC definirá seus próximos passos de acordo com os sinais de curto prazo da economia. Poderá vir um novo corte de 1,5, ou reduções maiores ou menores. O cenário ainda é de muita incerteza.

Os principais motivos que levaram o BC a optar por um corte mais agressivo na taxa de juros foram conhecidos nas duas últimas semanas. Primeiro, veio a produção industrial de janeiro, com queda de 17,2% frente ao mesmo mês do ano passado, pegando de surpresa até mesmo os mais pessimistas.

O fantasma da recessão cresceu ainda mais na terça-feira, quando o IBGE divulgou que a economia brasileira havia encolhido 3,6% no último trimestre de 2008.

Como a Selic é a taxa que baliza o custo dos empréstimos, ao reduzi-la o BC ajuda a baratear o crédito, tanto para as empresas quanto para os consumidores finais. Juros menores podem estimular o consumo e os investimentos, impulsionando a retomada do crescimento.

À tarde, sindicalistas fizeram uma manifestação em frente à sede do BC, em Brasília, para cobrar agressividade no corte de juros. Liderados pela Força Sindical, cerca de 40 manifestantes queimaram um boneco representando o presidente da autoridade monetária, Henrique Meirelles. Eles bateram no boneco - cuja cabeça tinha uma foto do rosto de Meirelles - com paus, chinelos e socos durante alguns minutos e, depois, atearam fogo.

Brasil tem maior taxa real do mundo

Mesmo com o corte de ontem na Selic, o Brasil continua como o país de maior taxa de juro real (descontada a inflação) do mundo. Levantamento feito pela consultoria UpTrend mostra que, considerando a inflação projetada para os próximos 12 meses, o juro real brasileiro é de 6,5% ao ano.

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