quinta-feira, 12 de março de 2009

Dilma e Serra defendem as mesmas receitas para crise

Fernando Barros de Mello e Jose Alberto Bombig
DEU NA FOLHA DE S. PAULO



Potenciais candidatos em 2010, petista e tucano pedem corte de juros e mais investimento

Em evento em São Bernardo, ambos ouviram gritos de "presidente" e falaram dos principais programas dos governos federal e estadual

Um dia após a divulgação da queda de 3,6% do PIB brasileiro no último trimestre de 2008, os dois principais pré-candidatos à Presidência pregaram, lado a lado, uma receita parecida contra a crise econômica: diminuir a taxa de juros e aumentar os investimentos públicos.

Em evento em São Bernardo do Campo, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), foi aplaudida ao dizer que a crise econômica "é uma oportunidade única para o Brasil passar a ter juros civilizados". "Nós iremos baixar os juros básicos e iremos pelo menos criar uma referência para os "spreads" [diferença entre a taxa que o banco paga e a que repassa ao cliente] no Brasil", disse Dilma, que discursou por cerca de 40 minutos, afirmando que a crise é "sistêmica" e de "trilhões".

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), disse que o Brasil tem a maior taxa de juros do mundo e que a redução da taxa básica deveria ter sido adotada há seis meses, quando os efeitos da crise começaram a atingir a economia interna.

Após o evento, eles foram juntos até o Palácio dos Bandeirantes. Na saída do encontro, Serra disse que a política eleitoral deve ficar em segundo plano em tempos de crise. "Trocamos idéias gerais sobre economia. Não cotejei [se há mais convergências que divergências]. Ela sabe o que eu penso e viu o que falei durante a palestra. Eleição no Brasil está sendo tratada de maneira muito prematura."

Segundo o governador, seria ruim se os nomes colocados na pré-campanha tentassem "faturar eleitoralmente": "A gente tem de trabalhar para enfrentar a crise. São Paulo é um Estado grande, complexo. Não dá tempo de governar e fazer campanha. Eu escolho governar".

Em São Bernardo, Dilma e Serra ouviram gritos de "presidente". Ambos falaram de carros chefes dos governos federal e estadual. Ela citou o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), prometeu bilhões em crédito para financiar obras de saneamento, repetiu a proposta de construir 1 milhão de moradias até 2010 e anunciou projeto de R$ 4 bilhões para obras de drenagem.

Ele citou a Nossa Caixa Desenvolvimento, falou de investimentos em estradas, compra de tratores para agricultores e de abertura de escolas e faculdades técnicas. Sobre o Rodoanel, disse que "não só estamos mantendo investimento como acelerando". Foi aplaudido. Citou ainda "grande investimento" no metrô e na CPTM.

Os dois fizeram elogios ao Bolsa Família e falaram da importância do mercado interno. Dilma citou uma "nova classe média", formada por pessoas que deixaram as classes D e E.Ainda no aspecto econômico, os dois presidenciáveis trocaram alfinetadas sobre as gestões FHC e Lula. Sob aplauso de uma plateia com muitos sindicalistas, Dilma lembrou o apagão energético sob FHC, dizendo que faltou investimento em infraestrutura, e disse que, no passado, "diante de uma crise financeira o governo quebrava porque era parte da crise". Segundo ela, "hoje é parte da solução". Ela disse que o governo recorria ao FMI, que tinha um "receituário recessivo".

"Era proibido investir em infraestrutura, investir em saneamento, proibido reajustar o salário mínimo e rede de proteção social nem pensar", disse Dilma, segundo quem hoje Serra tem "uma capacidade de investimento invejável".

O tucano, que disse ter dado "pitacos" sobre política econômica, propôs mudanças na lei de concorrência e na questão do endividamento de prefeituras e Estados. Fez elogios à gestão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), mas criticou a reação tardia do Banco Central.

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