domingo, 29 de março de 2009

A pedagogia da rua

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

LONDRES - Por imposição industrial, escrevo antes de que termine a manifestação de ontem no Hyde Park, a primeira do que pretende ser uma série de protestos contra a cúpula do G20 e contra a crise. O lema geral de ontem (na semana que vem, é outro o grito) era "Put People First" ou, em livre tradução, "As pessoas em primeiro lugar".

Pena que as pessoas -ao menos as que se engajam no rico caleidoscópio de entidades da sociedade civil que anima esses movimentos- estejam sendo colocadas não em primeiro lugar nem em segundo nem mesmo em último. Foram simplesmente expulsas do mundo político "mainstream". E também da mídia "mainstream".

A superestrutura política virou um dueto monocórdico, com perdão da contradição em termos. É democratas x republicanos nos Estados Unidos, conservadores x trabalhistas no Reino Unido, social-democratas x democrata-cristãos na Alemanha, PT x PSDB no Brasil -todos brancos e de olhos azuis, para usar a metáfora de Lula, embora muito petista se ache preto ou índio. Pura demagogia.

Criou-se um déficit democrático em que outras vozes não entram talvez porque digam verdades incômodas. Ou entram apenas para terem suas verdades apropriadas pela corrente principal, como já aconteceu com a mudança climática e repete-se com a crise. Esse pessoalzinho, em geral simpático, mas às vezes agressivo demais, dizia faz tempo que o modelo era intolerável. Agora, Paul Krugman, Nobel de Economia e como tal perfeito "mainstream", decreta "o fracasso de todo um modelo de banca, de um setor financeiro que cresceu demais e causou mais dano que bem".

É óbvio que nem sempre esses movimentos têm razão. Mas, hoje por hoje, é possível aprender mais na rua, mesmo sob a chuva fina e o friozinho bem londrinos, do que nos gabinetes.

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